Viamos e não veremos. Unknown

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Viamos e não veremos - Unknown

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p>Viamos e não veremos / alegoria moral, acompanhada de outras diversas maximas / relativas a nossa liberdade constitucional

      Sacro Febo, não cesses

      D'espalhar teus luzeiros;

      As verdades mais sãs desdobra aos homens;

      Quartel não dando á Escuridão, aos Erros,

      A Humanidade misera liberta

        Do Jugo insoportavel

      Da Ignorancia, fatal, que he mãi dos males.

De Fr. X. Monteiro de Barros.

      VIAMOS E NÃO VEREMOS

      ALEGORIA MORAL

      Dedicada ao Excellentissimo ***1 hum dos Dignissimos Deputados da Junta Provisoria do Supremo Governo do Reino

* * * * *

      Mil Benções caião do Ceo sobre huma sabia Constituição Nacional.

      Do Observador Constitucional.

      Viamos e não Veremos: (verbi gratia) Sugeitar-se hum benemerito Militar ao vergonhoso ludibrio de procurar hum Uzurario (de que abundava Portugal) para lhe rebater os Soldos, e depois de lhe pedir a 25 por cento, e concluir o negocio havendo differença em 600 réis, a favor do dito Militar, dizer o Uzurario, sem pejo nem consciencia: Os 600 réis não façamos caso d'elles; pois n'huma conta d'estas deve V.S. ceder-mos (afirmando logo que lhos não dava, porque aliás lhe não podia rebater os Soldos; pois tinha quem se sugeita-se a perder 30 em lugar de 25) para eu beber huma garrafa de vinho (de veneno a precizava elle) á sua saude!

      Viamos e não Veremos: Que o benemerito guerreiro possa formar as justas queixas que tão justamente lhe attribuem e que tão injustamente se lhes causavão o Sabio Escriptor João Baptista de Castro—"Desde menino tive tal inclinação á Milicia, que sempre me agradou mais a lança de Achyles, que a Lira de París, mas a experiencia me tem mostrado, que mais vale saber manejar as Lyras que as Lanças. Já se accabárão aquelles tempos, em que hum Mithridates, e hum D. João II. de Portugal, tinhão Livros em que escrevião os nomes de seus Soldados para os honrar, e premiar; agora fica encoberto o merecimento, e sepultadas as acções na falta do premio. O titulo de heróe já não chega aos ouvidos do Soberano, se não coberto com a capa da nobreza. Tenho-me achado em muitas batalhas, e sempre sahi dellas feito mais espectaculo de compaixão, do que assumpto de ludibrio; e com tudo sirvo de exemplo aos desgraçados. Foi doutrina de hum Filosofo, que a alma se mistura com o sangue; se assim he, quantas vezes tenho eu derramado a alma pelo sangue das feridas por amor do meu Rei? Companheiros conheço eu, que nunca na campanha souberão outro quartel, que o da saude, nem mais ataque que o do somno; e hoje ostentão louros das batalhas no augmento dos postos; e quando eu não descançava de dia e de noite em continuas vigilias, como Jacob, achando-me em todas as occasiões na frente do meu Exercito, com tanto risco da minha vida, sendo muitas vezes o primeiro que arvorei a bandeira sobre a brexa das Praças; não sobi mais do que á de Soldado razo no predicamento da fortuna humilde; nem estas cãs merecêrão ser coroadas ao menos com a corôa da hera do Profeta Jonas, que se murchava de quando em quando.

      Eu bem sei, que se puzer em concurso os meus merecimentos, ninguem poderá ajuntar melhores certidões; mas de que me serve alcançar hum pedaço de pão, depois que o não possa comer, soffrendo de mais a mais o insopportavel purgatorio de pretendente? Quando o despacho se comprava só com o serviço, era mais barato o despacho: agora sahe mais caro, porque se compra o despacho com o serviço, e com a pertenção; e assim vem a custar mais o pretender do que o servir."

      Viamos e não Veremos: As tres faltas essenciaes (e que diz hum Politico que por modo nenhum se deve faltar aos Militares) isto he: A de Soldo diario, a de Remuneração extraordinaria, e a Liberdade depois de certo e limitado tempo de serviço.—O Exercito bem provido de mantimentos, tarde ou nunca he vencido—a paga certa alenta, porque pela boca se aquenta o forno, e não devemos crer que sejão os Soldados como os fornos d'Arruda, que só huma vez na semana se aquentão, e isto lhes basta para coserem pão de Domingo a Domingo! Tem-se isto por prodigio grande, e por maior se deve ter que aturem os Militares mezes e mezes sem receberem hum real de Soldo para se vestirem e manterem. A segunda os faz constantes, por que o dezejo de aspirar, e crescer he natural, e com a certeza de melhorar de posto, e alcançar bons despachos, fazem pelos merecer, e não temem arriscar as vidas, porque o estimulo da honra he o melhor alicate que ha para avançar ás grandes emprezas, e tambem o do interesse. A terceira os faz leaes, por que se se imaginão captivos, e que nunca poderão renunciar o trabalho da Milicia, vestem-se da condição de escravos, e he o mesmo do odio a seus senhores, e em lugar de se portarem como Guerreiros Esforçados, portão se como Forçados das Galés!! Hum Politico adiantou mais, e chegou a ponto de dizer, que pelo antigo costume, ou pratica observada na Milicia até ao presente, muito menos penozo era ser Forçado nas Galés! do que Soldado no Exercito; pois que o primeiro era preciso que o seu crime fosse muito grande para se prolongar o seu captiveiro por mais de dez annos, e o do segundo acabava com a existencia!

      Viamos e não Veremos: Que hum benemerito Sargento que muitas vezes posto que não tenha grandes Estudos huma pratica consumada o tem posto capaz de responder por huma brigada quanto mais por huma companhia, ser perterido… Em suma considerado indigno de pôr huma banda á cinta!

      Destes benemeritos Sargentos dignos não só de serem Officiaes, como acima dissemos, mas por huma consumada experiencia, honra, e pratica, capazes de responderem por huma Brigada, se encontrão em o Regimento de Artilharia N.^o I. e em outros muitos Regimentos.

      Viamos e não Veremos: Capitães Móres com hum poder dispotico, e absoluto para cinco Recrutas que se lhes pedião, meterem em huma cadeia (que quasi sempre succedia proximo ao Natal em que os Lavradores matão os porcos!) cem e mais filhos de Lavradores, Viuvas, e Infelizes Mãis; e depois a troco de peitas soltarem noventa e cinco affim de remetterem as cinco pedidas! Outro sim meter na mesma conta (e na mesma cadeia) homens trabalhadores, que por serem d'outras terras longe de suas familias desprovidos de dinheiro; (pois que regularmente quando chegão ao Sabbado já tem comido parte do dinheiro que se ha de vencer na Semana seguinte) alli se conservavão trinta, quarenta, e mais dias, quasi morrendo de fome (o que chegaria a succeder senão fôra a caridade dos fieis) até que o indigno Capitão Mór complete a redução dos que prendeo, e dos que ha de mandar, e até das peitas que intentou receber!—Parece que pedia a justiça, e a boa razão, (se em taes sugeitos se encontrassem!) que logo que se prende (que nunca se devêra prender) hum homem para servir a Patria, fosse sustentado pelas Camaras das mesmas Villas, assim como o são os Soldados nos Calhaboiços.

      Viamos, e não veremos, Chefes de Corpos (que em quasi todas as classes os havia até de Ladrões!) capazes de contratarem entre Quarteis Mestres, e Soldados abonados (de dinheiro seu!!—Não se procura aqui como ganho!) a venda da Fardetas quando ainda existentes na Fundição, e depois o mesmo Soldado em lugar de dadas que lhe erão em recompensa de seus serviços, ter de comprar as mesmas a 1200 réis, os quaes lhe erão descontados no diario pagamento, e quando succedia não poder continuar a servir (por se achar só capaz de acabar a sua existencia pedindo esmola!) se lhe punha na sua Baixa esta verba: Vai pago de Fardas, e Fardetas (pelo contrario as tinha comprado com o seu dinheiro!) até ao presente (segundo a Data da Baixa, &c.)

      Viamos e não Veremos, horrorosos quadros, como aquelle que nos apresenta o Jornal—O Patriota—sobre o pessimo e detestavel systema de tratar, e escolher a Maruja em Portugal nos ultimos calamitosos tempos:—"O pessimo tratamento dos Marujos, he outra causa da decadencia da Armada. Hum Marujo vilmente amarrado com huma corda, ou com as mãos algemadas, era conduzido para huma Cadeia d'alli passava a huma revista, erão frivolos, erão sem razão quantos motivos apresentasse; da revista para hum Deposito, aonde ociosos se davão a toda a qualidade de vicios, e de destemperos; do Deposito para huma Embarcação, e na Embarcação pela Barra fóra… He chegado o momento do trabalho… Poucos são capazes de subir, poucos são

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Posto que fosse nossa tenção publicarmos esta Alegoria com o Nome por extenso que acima occultamos deste sabio Varão, fomos instados pelo mesmo (a quem solicitamos o consentimento, e a quem a remettemos em manuscripto antes de a publicarmos para que não fizessemos menção do seu nome); pois que elle antes queria ser sepultado no esquecimento do que incensado com Elogios! Assim o deviamos nós esperar; pois que he do verdadeiro sabio eximir-se aos Elogios, e do Ignorante sollicitá-los!