Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco. Marcos Sassungo
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– Diz, meu filho.
– Pai, eu estou a gostar muito de uma amiga minha, mas ela é que não sabe.
– Onde ela vive?
– Bem, ela vive no bairro do São João.
– Tem-na visto? Conversas com ela, frequentemente?
– Bem, eu falava com ela, muitas vezes, mas ela viajou para Alemanha e soube de que ela voltou.
– Bom, filho. E ela ligou-te?
– Não, pai, ela não me disse nada. Apenas fui informado pela Irmã do Putsom sobre a sua chegada.
– Ok. Isso significa…
– Significa o quê, pai?
– Tem duas variantes: ou ela quer fazer-te uma surpresa ou para ela, tu, simplesmente, deixaste de existir. Mas o que te aconselho, é, seja natural, amanhã. Não te emociones e não te aproximes muito e isso vai dar-te a oportunidade de te sentires mais à vontade em falar dos teus sentimentos. Tu ama-la?
– Sim, pai. Embora seja prematuro afirmar, mas acho que sim, pai.
– Está bem, filhão, não pode haver dúvidas sobre isso. Deve-se estar firme e convicto nos sentimentos, mas sê forte e corajoso. Demonstra isso. Declara isso para ela e diz o quanto a amas. Mas prepara o teu coração para a jornada mais tenebrosa que é o amor. Onde só os fortes ficam e os fracos desistem.
Quando encontrei a tua mãe eu descobri-me e percebi que por ela valia a pena lutar, porque todas as vezes que eu olhava para ela na faculdade, ela tinha um brilho diferente. Um brilho que não se via em nenhuma outra mulher e todas as vezes que a tua mãe mostrasse uma atitude que me descontentava, eu orava para que não perdesse o brilho daquele olhar e até hoje esse brilho não pára e está cada vez mais a brilhar desde o dia em que a conheci, quando ainda éramos adolescentes.
– O pai ama de verdade a mãe e isso eu percebo. Inclusive a Vanda falou disso na festa. É realmente lindo.
–É, filho, eu amo a tua mãe. Agora é tua vez de encontrar alguém e amá-la de verdade, campeão. Não é fácil, mas nunca perderemos nada, se amarmos alguém. Agora vai descansar.
– Obrigado pai. Até amanhã.
– Até amanhã, filhão.
Capítulo II
O Desastre do Amor
"No mercado da vida, os homens são convidados e desafiados a sonhar… O sonho desafia o homem a vencer a dor, a lágrima e o punhal do sofrimento. O sonho desafia o homem a treinar o seu eu para formação do seu carácter e personalidade. Os sonhos maltratam homens sonhadores de sonhos. Alguns bons e outros ruins…"
O silêncio reinou, naquela noite de quinta-feira, e, sob a ordem da luz escura negra, à simpatia da lua cheia. Não houve gritos de nenhum animal sequer, excepto o dos grilos, que interrompiam a beleza do silêncio daquela noite trôpega. A noite estava tão abstratamente bela quanto o país das maravilhas no mundo da Alice. Um luar cheio de brilho e pacato. Pela janela, tudo se podia ver. Eram duas da manhã de sexta-feira, quando eu me pus em pé e, silenciosamente, convidei a porta a abrir sob total silêncio e fiquei no claustro do quintal sob um olhar atento ao luar e às estrelas que não paravam de concorrer no brilho; uma brilhando melhor que a outra. O silêncio, enfim amadureceu os meus pensamentos e na minha imaginação nasceu os feixes da sua imagem Santa. Ela estava vagando nos meus pensamentos e a busquei propositadamente para tornar aquele momento mais hipoteticamente romântico. Indubitavelmente, o espaço se tornou o lugar mais romântico que eu já tive. Cheio de um brilho e com uma coragem romântica. Emaranhado e num mundo fantasticamente de paixão a cor Preto e Branco, construí arquitetonicamente um plano de poder declarar-me. Foi a ideia mais absurda que eu já tive. E saber que aconselhei o meu amigo Batinho a fazer o mesmo, perdi-me na minha própria ideia, e no meu próprio princípio. Enfim, estava perdido no deserto dos meus pensamentos triturados com aquela ideia oca. E percebi que no mercado da vida, os homens são convidados e desafiados a sonhar e o sonho desafia o homem a vencer a dor, as lágrimas e o punhal do sofrimento. O sonho desafia o homem a treinar o seu eu para formação do seu carácter e personalidade. Os sonhos maltratam homens sonhadores de sonhos. Alguns bons e outros ruins. Mas a verdade é que nenhum sonho é completamente ruim, se formos capazes de alimentá-lo com a dor do compromisso e com o sofrimento da persistência. Um sonho é uma semente; ela precisa de todas as condições suficientes para brotar, crescer e dar frutos. Eu tenho várias sementes de sonhos como qualquer um. Por isso, não sei ao certo quem eu me tornarei de verdade ou a que status responderei nessa casa universal; médico, advogado, engenheiro, escritor, cantor. Eu não sei. Naquele momento, procurei, de alguma maneira, convidar a minha atenção a lei de Newton; toda força quando aplicada a um corpo, provoca deslocamento e o deslocamento consumado, gera trabalho, logo, a força aplicada será nula, se não houver deslocamento e todo um sonho, precisa de uma força que quando aplicada, o mova, o desloque, o empurre para as alturas da vida igual a uma águia e a realização de qualquer sonho é nula, se não houver um desejo autodiegético ou ainda se os esforços aplicados a eles forem igual a zero. Por isso, todo homem devia ter um mentor. Qual é o meu sonho? O que realmente preciso fazer para movê-lo? Qual é o propósito da minha vida nessa casa universal? Uma coisa eu tinha a certeza naquele momento, a Santa era a mulher que tornaria o meu coração mais adolescente. Conheci-a há dois anos e até agora ainda vivo corrompido com a tentação de a conquistar. E amanhã começam as aulas, o que farei? Já lá se passaram dois anos e eu nunca tive a oportunidade de dizer a ela o que há muito tempo se formou dentro de mim. Convivo com esse apêndice, com esse nódulo que contraria o metabolismo normal da minha cárdia e, dessa vez, vou tentar ser mais ousado ainda. Voltei enfim ao meu quarto, na minha cama, ali, onde eu ensaio todos os dias o silêncio da morte.
E pela manhã, a minha mãe, do paladar daquele silêncio delongo, e com a voz a nascer de uma nota musical, tocou-me:
– Tino, acorda, levanta-te, homem. São seis da manhã. É teu primeiro dia, precisas de chegar mais cedo à escola.
– Obrigado, mãe.
– Então, filho, como tu passaste a noite?
– Ansioso com o meu primeiro dia de aula na escola. E você, Mamusca, como está?
– Graças a Deus passei bem cassule. Seu pai disse-me que ontem chegaste tarde… filho…meu primogênito, não cresças tão rápido. Pare de sair ou vir a casa fora do horário. O mundo é grande e tu não precisas de pegar tudo o que tem nele.
– Mas, mãe, estive ontem com o Batinho, peço desculpas, não vai voltar a acontecer. Eu prometo.
– Eu sei que sim, meu filho. Tu alegraste meu coração quando nasceste. Eras tão pequeno que pensei que alguma coisa mal haveria de acontecer. Orei a Deus para que me devolvesse a ti. Eras tão pequeno e escondido do mundo. Agora que cresceste, filho, por favor, cuida da tua vida por mim. Na rua ou na escola, lá a onde eu não te poder proteger ou cuidar, por favor, ajuda-me a cuidar de ti.
– Está bem, mãe. Não precisas de ficar triste, mãezinha. E quer saber?
– O que filho?
– Eu amo-te, Mamusca.
– Eu