ভবষয দরষটর গপ সমগর. Aldivan Teixeira Torres

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ভবষয দরষটর গপ সমগর - Aldivan Teixeira Torres

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e é o vinho de uvas felizes. Estas vinhas estão mesmo ao lado de umas onde tenho as uvas da ira. Guardo este vinho para ocasiões especiais."

      "Olha, Polly, eu..."

      "Desculpa ter de te abandonar por algum tempo, mas tenho de ir tratar dos outros convidados. Sabes como é, deveres de anfitriã... Mete conversa com as pessoas, diverte-te. Se precisares de alguma coisa, a Fifi e o James estão à tua disposição."

      "Quem é o James?"

      "O meu mordomo. Não demoro muito. Depois podemos falar." Ela bebeu um pouco do vinho e misturou-se com os outros convidados, coleccionando sorrisos de todos com quem falava, até desaparecer na multidão.

      Herodotus sentiu-se muito deslocado e só. Toda a gente tinha um ar amigável, é certo, mas ele não estava a sentir-se particularmente sociável - não hoje. Dirigiu-se ao sofá, sentou-se tão levemente quanto pode numa das extremidades por respeito à sua óbvia antiguidade e tentou passar tão despercebido quanto possível.

      Passados alguns minutos, um homem aproximou-se e sentou-se ao seu lado. Aparentava estar perto dos setenta anos, com uma cara magra de pele enrijecida pelas intempéries e cabelo branco-neve no alto de uma testa com entradas profundas. Era magro com uma barriga algo proeminente e tinha a face enrugada, mas simpática. Havia ali muitas linhas de sorriso.

      "Há quanto tempo a conhece?", perguntou o homem com bons modos.

      "Quem? Polly?"

      "É esse o nome que ela usa agora? Sim, Polly."

      "Encontrei-a pela primeira vez há uns minutos."

      O homem acenou com a cabeça. "Eu conheço-a há cinco anos. Eu e a minha mulher estávamos casados há quarenta e três anos, e ela nunca tinha estado doente um dia que fosse, à excepção de um espirro de vez em quando. Um dia a Alice foi ao hospital, e três semanas depois morreu com cancro. Todo o meu mundo colapsou, e eu pensei que mais valia morrer e ir ter com ela. Foi aí que uma enfermeira veio ter comigo na sala de visitas e me consolou. Eu não sou o tipo de homem que chora, mas nesse dia chorei no ombro dela como uma criança - molhei-lhe a farda toda. Mas ela não se importou. Contei-lhe tudo sobre a Alice, devemos ter passado horas a falar. Sabe, alguns amigos tinham tentado consolar-me dizendo que a Alice tinha ido para um lugar melhor, mas a Polly nunca me tentou convencer de nenhum desses disparates. Ela esteve simplesmente ali, presente, e isso foi o suficiente; e algum tempo depois o resto do mundo também passou a estar presente - mais vazio sem a Alice, mas com mais esperança do que eu tinha tido até aí."

      Ele parou por um momento, e perguntou: "E qual é a sua história?"

      Herodotus corou. Depois de uma história como aquela, o que é que ele podia dizer? "O meu carro avariou-se em frente aqui à casa", respondeu ele, quase em tom de desculpa.

      O velho olhou para ele por uns momentos com um sorriso quase imperceptível nos lábios, e acabou por se levantar. "Certo", disse, esticando o braço e dando uma palmada amigável nas costas de Herodotus. "Lembre-se, como Polly sempre diz, nada está perdido enquanto houver esperança." E foi-se embora.

      Herodotus tomou mais um pouco do vinho e observou os convidados. Após alguns minutos, um homenzinho com um ar de fuinha, vestido com um fato cinzento e com uma camisa branca perfeitamente engomada e um laço vermelho ao pescoço, aproximou-se do sofá. Em vez de se sentar nele, deu a volta até estar por trás de Herodotus e inclinou-se para lhe murmurar ominosamente ao ouvido: "Sai daqui enquanto podes."

      "Como?"

      "Ouviste-me bem. Sai daqui antes que seja tarde demais", e afastou-se sem mais explicações.

      Herodotus perguntou-se em que toca de coelho tinha caído enquanto via o homem afastar-se. Ele não tinha escolha senão ficar - a menos que quisesse caminhar oitenta quilómetros pelo calor escaldante do deserto.

      Pelo meio da multidão andava descontraidamente um gato preto de pelo comprido e olhos dourados brilhantes. Com deliberação felina, veio até ao sofá, examinou Herodotus com atenção, e saltou-lhe para o colo; Herodotus afagou-o levemente. O gato não levantou objecções e começou a ronronar, dando-lhe palmadinhas nas coxas com as patas macias.

      Polly regressou nesta altura, desta vez vestida com um body de lantejoulas com riscas verticais vermelhas e brancas e debruado a azul com estrelas também brancas numa fila vertical ao longo do peito e da anca. Os ombros, braços e pernas estavam nus, e nos pés trazia sapatilhas de ballet.

      "Ah, encontraste o Midnight", sorriu Polly.

      "Acho que ele é que me encontrou a mim", disse Herodotus.

      "Estou a ver que estás habituado a ver as coisas de uma perspectiva felina."

      "Já tive alguns gatos", admitiu ele.

      "Isso agrada-me. Os gatos são a prova viva que Deus estava a brincar quando disse que não devíamos ter mais nenhum deus para além dele." Ela baixou-se e afagou por sua vez o gato, que ronronou ainda mais alto.

      Polly saltou para o sofá ao lado dele, deu uns quantos saltos com toda a distinção e boas maneiras de uma criança de dez anos com excesso de energia, e acabou sentada de lado, de pernas cruzadas, a olhar para ele. O gato nem estremeceu. "E agora, do que é que havemos de falar?", perguntou ela.

      Herodotus abanou a cabeça. "Não estou com vontade de falar. Só quero arranjar o meu carro e pôr-me a caminho."

      A voz de Polly soou compassiva. "Estás com problemas, hein?"

      "Eu disse que não queria falar sobre isso", disse ele num tom mais brusco do que tinha sido a sua intenção.

      "Tudo bem", disse ela, agora a fazer festas ao gato. "Então podemos falar do meu tema favorito – a minha pessoa. Faz-me perguntas, vejo na tua cara que estás cheio delas. Pergunta-me o que quiseres. Estou muito bem disposta, e assim dou-te uma oportunidade única pela qual alguns homens dariam a própria vida."

      Era óbvio que ela não ia deixá-lo em paz, por isso mais valia fazer-lhe a vontade. "Cultivas muitas flores aqui?"

      Ela ficou espantada e confusa por alguns segundos. "Tenho de admitir que não me perguntam isso muitas vezes. Normalmente vêm coisas do género ‘qual é o sentido da vida’ ou ‘porque é que isto tinha que me acontecer a mim’. É verdade que tenho um canteiro no jardim das traseiras, mas não é maior do que os jardins de Versailles. Porque perguntas?"

      "Bem, quando eu entrei disseste: ‘Bem-vindo à Estufa4’."

      Polly riu-se; e o riso dela soava como um espanta-espíritos a tilintar numa brisa suave, um som que enchia a sala de brilho, que era a própria essência da alegria. "Não é ‘Estufa’, é ‘Casa Verde’. Por causa da cor."

      "A casa é branca."

      "OK, mas ‘Casa Branca’ já está ocupado5, topas?"

      Herodotus fechou os olhos. Era como se o cérebro dele tivesse acabado de entrar num banco de nevoeiro. "Não sei se isso faz alguma espécie de sentido."

      "Sentido? Não havia nada sobre ‘sentido’ no contrato. Népias. Nem sobre ‘justo’, já agora, nem mesmo nas letras miúdas. Eu li-o todo."

      Herodotus

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