Sem Pistas . Блейк Пирс
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Primeiro, ela tirou as coisas fora da geladeira – a caixa de ovos, o pacote de bacon, o prato com manteiga, o pote de geleia, porque April gostava de geleia mesmo que ela não gostasse. E então ela colocou seis tiras de bacon em uma panela sobre o fogão e ligou o fogo a gás debaixo da panela.
Ela cambaleou para trás com a visão da chama amarelo-azul. Fechou os olhos e tudo lhe veio à tona.
Riley estava em forro apertado, debaixo de uma casa, em uma pequena jaula improvisada. A tocha de propano era a única luz que ela podia enxergar. O resto do tempo estivera em uma completa escuridão. O piso do forro era de terra. O assoalho acima dela era tão baixo que ela mal conseguia agachar.
A escuridão era total, mesmo quando ele abriu uma pequena porta e entrava no foro, junto com ela. Ela não podia vê-lo, mas podia ouvir sua respiração e seus grunhidos. Ele destrancava a jaula e a abria e então entrava.
E só então ele acendia a tocha. Ela podia ver seu rosto cruel e feio sob a luz. Ele a insultava com um prato de comida miserável. Se tentasse pegá-lo, ele empurrava a chama para ela. Ela não podia comer sem se queimar…
Ela abriu os olhos. As imagens eram menos vivas com os olhos abertos, mas ela não conseguia afastar a corrente de memórias. Continuou preparando o café da manhã, todo o seu corpo se agitando com a adrenalina. Ela estava arrumando a mesa quando a voz de sua filha gritou novamente.
"Mãe, quanto tempo vai demorar?"
Ela deu um salto, o prato escorregou de sua mão, caiu no chão e quebrou. "O que aconteceu?" April gritou, aparecendo ao lado dela.
"Nada," disse Riley.
Ela limpou a sujeira e, enquanto ela e April sentavam para comer juntas, a hostilidade silenciosa era quase palpável, como de costume. Riley queria acabar com esse clima, se aproximar de April e dizer, April, sou eu, sua mãe, eu te amo. Mas ela já tinha tentado tantas vezes e isso só piorava. Sua filha a odiava, e ela não conseguia entender o motivo, nem como acabar com isso.
"O que você vai fazer hoje?" ela perguntou a April.
"O que você acha?" April retrucou. "Vou para a aula."
"Quero dizer depois disso," disse Riley, mantendo a voz calma, compassiva. "Eu sou sua mãe. Gostaria de saber. É normal."
"Nada na nossa vida é normal."
Elas comeram em silêncio por alguns momentos.
"Você nunca me conta nada," disse Riley.
"Nem você."
Isso acabou com qualquer esperança de ter uma conversa de uma vez por todas.
Isso é justo, Riley pensou amargamente. Era mais verdadeiro do que April imaginava. Riley nunca lhe contava coisas sobre seu trabalho, seus casos; ela nunca tinha contado sobre seu cativeiro, nem sobre seu tempo no hospital, ou por que ela estava "de férias" agora. Tudo o que April sabia era que ela teve que viver com seu pai durante grande parte desse tempo e ela o odiava ainda mais do que odiava Riley. Mas, por mais que ela quisesse conversar, Riley achava melhor que April não tivesse nem ideia sobre o que sua mãe havia passado.
Riley se arrumou e levou April para a escola, elas não trocaram nenhuma palavra durante o caminho. Quando April saiu do carro, ela gritou para ela: "Vejo você às dez."
April lhe deu um tchau descuidado, enquanto se afastava.
Riley dirigiu até um café nas proximidades. Tinha se tornado uma rotina para ela. Era difícil para ela passar algum tempo em um lugar público, e ela sabia que era exatamente por isso que ela precisava fazê-lo. O café era pequeno e nunca estava cheio, mesmo no período da manhã como aquele e, por isso ela o achou relativamente inofensivo.
Enquanto estava sentada ali, bebendo um cappuccino, lembrou-se novamente do pedido de Bill. Fazia seis semanas, caramba. Aquilo precisava mudar. Ela precisava mudar. Ela não sabia como iria fazer isso.
Mas uma ideia estava se formando. Riley sabia exatamente o que precisava fazer primeiro.
CAPÍTULO 4
A chama branca da tocha de propano tremulou à frente de Riley. Ela teve de se esquivar para trás para escapar de uma queimadura. O brilho a deixou cega e ela não conseguia sequer ver o rosto de seu sequestrador. À medida que a tocha era movimentada, ela parecia deixar vestígios remanescentes suspensos no ar.
"Pare!" ela gritou. "Pare!"
Sua voz estava crua e rouca de tanto gritar. Ela se perguntou por que estava perdendo o fôlego. Ela sabia que ele não iria parar de atormentá-la até que estivesse morta.
Foi então que ele levantou uma buzina de ar e a apertou em seu ouvido.
Uma buzina de carro soou. Riley voltou ao presente e olhou para fora, a luz do cruzamento tinha acabado de ficar verde. Uma linha de motoristas esperava atrás de seu veículo, então ela pisou no acelerador.
Riley, com as palmas das mãos suando, forçou-se a se livrar daquela memória e lembrou-se de onde estava. Ela estava indo visitar Marie Sayles, a única outra sobrevivente do sadismo indizível de seu quase-assassino. Ela repreendeu-se por deixar o flashback dominá-la. Ela tinha conseguido manter sua mente na direção por uma hora e meia e pensou que estava indo bem.
Riley dirigiu em Georgetown, passou por casas de luxo vitorianas e estacionou no endereço que Marie lhe fornecera por telefone – uma casa de tijolos vermelhos com belas janelas. Ela se sentou no carro por um momento, em dúvida se deveria entrar, tentando criar coragem.
Por fim, ela saiu. Enquanto subia os degraus, ficou satisfeita ao ver que encontrara Marie na porta. Sombriamente, mas elegantemente vestida, Marie sorriu, um pouco abatida. Seu rosto parecia cansado e marcado. Pelos círculos sob seus olhos, Riley tinha certeza que ela andava chorando. Isso não era nenhuma surpresa. Ela e Marie tinham se visto muito durante as semanas de conversas por vídeo, havia pouco que pudessem esconder uma da outra.
Quando se abraçaram, Riley imediatamente reparou que Marie não era tão alta e robusta como ela esperava que fosse. Mesmo de salto, Marie era mais baixa que Riley, sua estrutura era pequena e delicada. Isso deixou Riley surpresa. Ela e Marie tinha conversado, mas esta era a primeira vez que se encontraram pessoalmente. A fragilidade de Marie a fazia parecer ainda mais corajosa por ter sobrevivido àquela situação.
Riley analisou seus arredores enquanto ela e Marie caminharam para a sala de jantar. O lugar estava impecavelmente limpo e decorado com bom gosto. Em outra ocasião, seria uma casa alegre para uma mulher bem-sucedida e solteira. Mas Marie mantinha todas as cortinas fechadas e as luzes baixas. A atmosfera era estranhamente opressiva. Riley não queria admitir, mas o lugar a fez pensar em sua própria casa.
Marie serviu um almoço leve sobre a mesa da sala de jantar e ela e Riley sentaram-se para comer. Ficaram ali em um silêncio constrangedor, Riley estava suando, mas não tinha certeza do motivo. Ver Marie trazia tudo de volta.
"Assim… Como é que foi?" Marie perguntou timidamente. "Sair para o mundo?"
Riley sorriu. Marie sabia melhor do que ninguém como dirigir naquele dia foi custoso.
"Muito bem," disse Riley. "Na realidade, até que bem. Eu só tive um momento