O Mistério Do Lago. Serna Moisés De La Juan
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Também não encontrei nenhuma daquelas antenas de televisão horrendas nos telhados das casas, que são tão feias e danificam bastante a paisagem. É bem comum que ao observar o céu em algumas cidades ou quando se sobe nos telhados, constatar como o horizonte foi literalmente tomado por milhares desses artefatos de metal.
E, para minha surpresa, não havia nem mesmo os postes de iluminação, tão necessários, que se tornaram uma parte indispensável da paisagem nos campos e nas cidades; pela necessidade de que a eletricidade chegue a qualquer casa e, assim, perceba, se cozinhe, lave roupas, etc. Que se realizem as infinitas tarefas que, de outra forma, seriam impossíveis pelo menos em um local civilizado.
Esse aspecto um tanto negligenciado do lugar e a ausência de qualquer indício de modernidade contrastavam com a aparente boa saúde de seu povo, e que até mesmo os mais idosos pareciam ágeis e sem dores, ninguém carregava uma única bengala ou muleta, e olha que o chão era bastante escorregadio, cheio de pedras usadas como paralelepípedos nas ruas, o que seria garantia de pelo menos uma entorse se não se tomasse cuidado.
Mas eles pareciam tão alheios a todas essas ausências, andando de um lugar para outro com tanta tranquilidade que duvido que a maioria precisasse cumprir alguma obrigação, porque com a pouca pressa com que se mudavam, não teriam tempo para cumpri-la.
Aproximando-me de uma das mulheres, vestida com roupas escuras, e que cobria a cabeça com um lenço preto, sentada em uma cadeira de balanço de sua casa, tomando banho de sol em paz, tentei obter mais informações sobre esta aparente falta de interesse das pessoas à beira do lago.
― Bom dia, senhora. Posso fazer algumas perguntas? ― falei com ela sem saber se ela estava acordada, pois seus olhos estreitados não me deixaram adivinhar.
― Minha nossa, uma turista! ― ela exclamou sem demonstrar o menor choque, e sem abrir os olhos.
― Sim, cheguei ontem à noite. ― respondi, como fiz com o morador anterior, um tanto surpresa com a atitude dela.
― O que trouxe você aqui? ― ela me perguntou antes que eu pudesse interrogá-la sobre o lago, e iniciou um movimento repetitivo de balanço que foi acompanhado pelo rangido característico de sua cadeira.
― Gosto de montanhismo, e essa era uma área que eu não conhecia. ― respondi, ainda sem saber onde estava.
― Não me surpreende. ― ponderou ela, colocando a mão na frente do meu rosto para cobrir o sol e me ver melhor, enquanto abria aqueles olhos cinzentos.
― Bem, eu gostaria de saber mais sobre o lago, porque sua cor chamou minha atenção… ― tentei jogar a pergunta de forma rápida.
― Vai ficar por quanto tempo? ― a mulher me interrompeu sem me deixar explicar, fazendo um movimento para se levantar, enquanto parava o balanço lento e silenciava o ruído de sua cadeira de balanço.
― Eu não sei, um ou dois dias. ― respondi meio em dúvida, sem saber muito bem o que traria tanto interesse, já que a outra pessoa com quem conversei fez a mesma pergunta.
― Uma pena! Se tivesse tempo, se pudesse ficar até a próxima lua, então veria como o lago é bonito. ― ela comentou com um sorriso largo, enquanto se recostava e recomeçava o movimento oscilatório.
― Bem, não sei quando será, mas voltando ao assunto, saberia dizer por que o lago é dessa cor? ― perguntei na tentativa de retomar o assunto que me interessava.
― Eu não sei sobre essas coisas, apenas que é assim. ― disse ela, indiferente, enquanto fechava os olhos para continuar seu sono e repouso.
― E você sabe por que a água não é potável? ― eu insisti, lembrando das informações que o morador anterior havia me dado, chateada pela passividade da mulher.
― A única coisa que posso dizer é que é um lugar sem vida e, portanto, não é adequado para uso, por isso preferimos deixá-lo como está. ― concluiu ela, um pouco irritada porque a conversa tornara-se muito longa, e moveu a mão com parcimônia, de um lado para outro, um gesto para que eu fosse embora.
Depois de agradecê-la por suas palavras, me voltei intrigada em direção ao lago, para vê-lo mais de perto, permanecendo pensativa ante aquelas breves palavras escutadas dos habitantes que pareciam não se preocupar em ter um lago tão grande na frente deles e, também, sem poder aproveitá-lo de nenhuma maneira.
Eu já havia lido sobre alguns tipos de águas que não são boas para o consumo porque contêm certos microrganismos ou simplesmente porque possuem altos níveis de substâncias tóxicas para o corpo humano, seja arsênico, enxofre ou qualquer outro elemento nocivo presente nos confins da Terra.
Chegando quase à margem, subi em algumas rochas que podiam servir de assento improvisado, e assim contemplar aquele estranho fenômeno em estado líquido, do qual mal consegui obter algumas palavras dos habitantes locais, não muito mais que ideia repetida de que a água não é boa para consumo.
Fiquei sentada em frente ao lago por algumas horas, admirando a cor que nos impedia de adivinhar o que havia nas profundezas de suas águas, sendo o comprimento a única característica óbvia, pois não havia nada que indicasse um rio ou cachoeira nas proximidades que fornecesse água corrente, mas, ainda assim, algo me surpreendeu, porque mesmo à curta distância em que eu estava, ainda não havia notado nenhum efeito negativo em minha saúde, nem mesmo o mau cheiro que costuma ser tão característico de áreas com substâncias perigosas ou em lagoas e reservatórios com águas estagnadas.
Logo fiquei encantada vendo as nuvens fluírem em um ritmo lento através das fendas das montanhas, ou acima de seus picos, e não pude evitar a comparação com a caminhada dos habitantes daquele lugar que pareciam despreocupados com a passagem do tempo, alheios ao pulso frenético de uma cidade.
Aqueles conglomerados espumantes de água evaporada formavam imagens curiosas, às vezes fáceis de identificar como um animal, e que mudavam ao capricho do ar, refletindo-se como se a superfície negra daquele lago fosse um espelho.
Mas, por mais que eu insistisse, não consegui ver o menor vislumbre de movimento em sua superfície, como se a água daquele lago estivesse imune aos influxos da brisa que, em qualquer outro lago provocaria pequenas ondas, suaves e espumosas, que bateriam contra a margem, mas não havia vestígios da menor perturbação, como se as águas fossem uma substância viscosa e impenetrável, mais parecida com componentes oleosos como o óleo.
Além disso, não havia nada vivo ao redor, nenhuma planta, por menor que fosse, crescendo nas proximidades de lugares úmidos ou líquen nas rochas onde eu estava, ou algas na superfície daquele lago, não se via nada vivo perto de mim.
Isso em relação ao que vi, mas mesmo acostumada às mudanças entre a cidade e o interior onde os sons são mais sutis, não conseguia ouvir o menor ruído naquele lugar que era, sem dúvida, propício para se descansar e relaxar, mas não se ouvia nem sapos nem pássaros.
O que, sem dúvida, me confundiu bastante, porque em locais calmos, por mais baixo que seja o ruído produzido, ele se expande