A Estrutura Da Oração. Diego Maenza
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Hoje vieram menos pessoas à igreja do que ontem. No entanto, os meus sermões foram mais extensos.
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O último livro da Bíblia anuncia um inferno repleto de fogo e enxofre como condenação para aqueles que traem as leis do Senhor. Um inferno de fetidez, de vapores fedorentos, seria um tormento insuportável, mesmo para qualquer alma alheia às debilidades do corpo. Defeco calmamente e com alguma dor. O meu esfíncter expulsa um gás em forma de um guincho agudo. Cheira mal, mas aspiro-o, imaginando um tormentoso inferno pestilento, saturado de eflúvios fedorentos e, aqui sentado, o cheiro sobreposto à imaginação incita-me à náusea. Abro um pouco da porta, permitindo que circule um pouco de ar fresco que sacuda os miasmas excrementícios, o ar viciado que contaminou o meu organismo.
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Tomás fareja-me a perna, provavelmente por ter sentido o cheiro a sabão no meu corpo após o banho. Começa a emitir grunhidos desagradáveis. Puxa-me pelo tecido do pijama e rasga-o, inundando-o com a sua baba. “Cão feio”. Agora vejo-o afastar-se, satisfeito com a sua brincadeira. Tiro o pijama e vejo-me nu em frente ao espelho. Não resisto a fazer uma carícia à zona dos meus testículos. Um fluxo elétrico faz-me tremer. O meu pénis incha num tom vermelho-escuro. Ao reagir, afasto-me do espelho com horror. Tiro outra roupa e tento esquecer os meus desejos.
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O Sinédrio dos sentidos acolhe com agrado a proposta de trair a alma.
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Tiro-lhe a camisa com uma serenidade que nem parece a minha. Mas são as minhas mãos que despem o seu tronco. Deito-o com o rabo virado para a minha cara, que afasto imediatamente, corando instantaneamente. Acaricio as suas costas que provavelmente estarão a queimar com o fresco do mentol. Os seus pulmões já o sentem, tenho a certeza, pois as minhas mãos esfriam ao ritmo das massagens. Contemplo pela última vez o seu rabo perfeito de jovem dominante. Volto-o com o seu rosto virado para mim. Meto o mentol sobre os seus peitorais e aproveito para apalpar os seus mamilos tímidos que emergem sem ousadia. O cheiro forte do eucalipto penetra-me.
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Esta madrugada, ambos dormem com o ruminar da chuva a açoitar a rua. Nem o Padre Misael teve o sonho da faca, nem o jovem Manuel a visão da besta. Talvez tenham desaparecido de vez. Estamos no limiar de um novo dia. No centro da cidade, a chuva arrasta todos os pivetes da rua do bilhar. A chuva forte limpa a velha árvore do pátio. Durante as chuvas, alguns ingénuos afirmam que é Deus a chorar por todos os pecados da humanidade. A imagem mais acertada não estaria simbolizada pelas lágrimas divinas que caiem sobre o mundo, mas pelo chiado da urina que nos encharca, como o de Tomás, que agora descasca a casca da velha amendoeira. De uma forma ou de outra, afinal é do corpo do Deus imaterial que provem o líquido que nos lava.
QUINTA-FEIRA
Frio e calor
Fiat voluntas tua, sicut in caelo, et in terra.
Sou sacudido por uma descarga ardente cuja génesis é o occipício e parte em êxodo destilando por toda a minha coluna dorsal. Os meus tendões despertam e obrigam-me a esticar o comprimento do meu corpo na prazerosa dor que é consumida de forma orgástica nas minhas cuecas. Sinto como o meu pénis vai descendo lentamente, derrubado pelo prazer convulsivo da poluição, enquanto na minha alma se forma um vazio que não consigo suportar. O frio desliza pela janela aberta e balança a cortina com um uivo lânguido e consecutivo. Observo como o veludo estremece sobre a parede, embate no vidro da janela, contra a moldura feita de pinheiro. Sinto a brisa deslizar e colar-se às minhas axilas, agitando-me a pele numa rajada que arrepia o meu corpo todo. Suspiro. Separo-me do interior maculado pelo sémen. Levanto-me e oro pela fraqueza do meu corpo.
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O calor do café encoraja-me a deixá-lo. Prefiro ingerir o sumo de pêssego com pequenos golos. O menino conta-me uma história um pouco profana, mas não me atrevo a repreendê-lo. Apenas olho para ele e esboço um sorriso frio. Hoje também não me fez companhia na missa e fez-me tanta falta, principalmente quando o bispo Pio deu a bênção. Observo-o e maravilho-me com as suas feições, com o seu olhar despreocupado, com o seu cabelo despenteado pela manhã. Levanto-me rapidamente da mesa, tentando desviar o olhar que continua voltado para ele, uma e outra vez.
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Tive tremores. Hoje não sairei de casa nem sequer para atender os paroquianos que estão a preparar-se para a sexta-feira Santa. Deixei alguns compromissos menores ao cargo de outrem, seguindo a recomendação do doutor. O miúdo prepara-me uma infusão que ingiro com os medicamentos. Ao voltar-se, pude notar o movimento das suas nádegas num vaivém provocador. Rendo-me ao sono.
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Vejo o rosto do rapaz ao acordar. Esteve a fazer-me companhia durante todo o tempo em que estive com febre. Diz-me que fez o almoço e conforta-me o corpo com uma sopa quente que insiste em dar-me à boca, colher atrás de colher. Mas depois vem um momento de tensão. Repreendo-o por ter examinado a pintura sem o meu consentimento e responde-me que só queria saber o que continha o quadro. Não é uma questão de proibir-lhe o conhecimento, mas considero que deveria ter consultado antes uma voz que lhe confirmasse se estava ou não capacitado para tal conhecimento. Responde-me que se sente apto e implora que o guie pelo quadro. Após uma luta de súplicas e rejeições, cedo ao pedido e permito-lhe abri-lo. Ele faz uma cara de surpresa. “É lindo” diz, “mas horrível ao mesmo tempo”. “É a nossa alma”, digo-lhe ou penso simplesmente. O choque residual da febre deixa-me tonto. Neste momento só me dá vontade de afastar-me do menino, de gritar com ele para que saia do meu quarto e que desapareça para sempre, que Deus me revelou que ele é um emissário do demónio. Sou invadido pela vontade de o excomungar da minha vida. Sei que farei tudo ao contrário, porque me ergo para ele e pouso uma mão sobre o seu ombro e a sustento num abraço cheio de intenções. “O que estás a ver é um paraíso, um inferno, e isto aqui”, digo-lhe com uma voz magnânima indicando-lhe a parte central, “é o mundo”. “Por agora já chega! Teremos tempo para o examinar parte por parte”. O meu corpo não resiste ao impulso e beijo-o na bochecha enquanto desço a mão até à fenda das suas costas. Não reage em forma de rejeição. Pede-me, inesperadamente, que lhe dê a bênção.
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Mandei o miúdo ao mercado para fazer compras. Sinto a sua ausência e tento combater o desejo com uma oração, mas ao estar ajoelhado, as palavras ficam-me presas na garganta. Desta vez não consigo rezar. Levanto-me, tomo um duche de água morna, e preparo-me para o receber o mais arrumado possível.
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O menino finalmente chega, mas infelizmente vem acompanhado pela menina Raquel, uma mulher prestativa à disposição da Igreja, jovem, apesar dos seus quase quarenta anos, solteira, apesar da sua beleza. Atrás dela entra uma comitiva de senhoras que se juntaram para me fazer uma visita e oferecer-me frutas, compradas precisamente, imagino, à bela solteirona. Tomás cumprimenta com latidos de indignação. Recebo-as com aparente agradecimento, dando-lhes, com a autoridade que me conferem, algumas advertências, mas também uma ou outra tarefa para a preparação da procissão de amanhã e despeço-me delas de forma delicada alegando o pretexto do meu repouso. Fecho a porta atrás delas, com o gume de ferro bolorento e dobradiças enferrujadas, e vou ao encontro do rapaz por toda a casa.
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Convido-o uma vez mais a entrar no meu quarto. Mantemos uma conversa