Cores. Patrizia Barrera
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Vi-a e fiquei logo impressionado. Algo nela me atraía e me rejeitava ao mesmo tempo, algo de infinitamente doce e secretamente triste em uma boca de mulher e um sorriso de menina, quase como se estivessem congregados nela uma inocência mágica e uma perversão lânguida. Quanto mais a olhava, mais me convencia que carregava em si uma natureza dúplice e, por consequência, uma beleza dúplice. E de fato me parecia bela, de uma elegância rara, com uma tímida roseira crescendo entre espinheiros selvagens. Foi assim, de instinto, que a segui: caminhava leve sem se virar, rápida e segura sobre longas pernas de pantera. Mas bastava olhar por um momento o seu perfil puro para descobrir a incerteza infantil que me tinha tomado e que então, mais do que nunca, parecia soar mal sobre seu corpo perfeito. Como em um sonho, ainda revejo seus castanhos cabelos soltos sobre as costas que pareciam tremer, o nariz pequenininho e arrebitado, a dobrinha amarga e macia de sua boca. Enquanto a seguia, imaginava até o som acre de sua voz, que devia ser sutil como seus quadris e harmoniosa como o tenro delinear de suas coxas. E eu sentia como se a conhecesse desde sempre enquanto me perguntava o que fazia ali, sozinho naquela longa estrada, apenas perseguindo um perfume de mulher.
Esses pensamentos acompanhavam o longo caminho que parecia não ter fim. Mas nada tinha fim naquele dia: nem o tagarelar suave das cotovias, nem o calor das colinas secas, e muito menos o suor que gotejava inexorável e lento da minha testa. Mas eu continuava caminhando, impulsionado pelo desejo desesperado que ela finalmente se virasse e, por um único momento, voltasse a mim seu olhar. De repente, quase irritada pelo barulho dos meus passos, ela se virou: captei um olhar sanguinário e feições cortantes como de uma fuinha. Feroz e sanguinária, então! Mas seu lábio tremeu de medo e eu ensaiei a coragem de quem se sente o mais forte. Olhei-a de volta longamente, esfomeado e desafiador, despejando pelos olhos os pensamentos proibidos silenciados por tempo demais. Mas não avancei nem um passo, preso pelo inconsciente temor de que aquela fosse apenas a visão de um momento, uma miragem perseguida por uma vida que poderia sumir em razão de uma simples imprudência. Eu senti que tinha uma necessidade extrema de afundar nela, de provar o calor de sua pele e a doçura de sua boca. Tive vontade de feri-la, de segurar aqueles quadris sutis e esfacelá-los entre os dedos, de pôr meus dedos sobre seus seios e depois arrancá-los, para esmagar e destruir algo precioso e frágil demais para não sentir raiva e me partir o coração. Ela estava ali, imóvel, e não fugia. E por que deveria? Desconhecidos um do outro e fixos em um pensamento, nenhum de nós dois se movia, e ficamos nos olhando como estudantes inquietos à espera do sinal que não chegava nunca. Por fim, ela se mexeu e eu segui atrás. Eu talvez fosse cúmplice de um misterioso subentendido oculto em seus olhos. Desorientado e perdido, segui o leve ritmo de suas pulsações, o prazer que escorria de sua pele e a obscura vontade de meus sensos.
Retomamos então aquele eterno vagar entre campos e colinas, e o céu parecia o mar, e cada odor prometia tempestade. Acompanhava-me um presságio de morte que de repente envolveu minha alma e não me abandonava mais. E eu, que nunca havia amado o calor do meu corpo, o senti com uma veemência macabra, como se tivesse despertado por vingança do longo esquecimento a que eu o havia condenado. Eu, que nunca havia amado uma mulher, agora me rebaixaria a pedir, me jogaria por impulso ao chão diante daqueles lindos quadris a mendigar uma hora de piedosas e amorosas carícias. Mas eu fui aquele homem que teve medo de amar e, por isso, se confinou para sempre nas certezas de um destino irrevogável, em um trabalho uniformizado, negando a si mesmo o calor do lar por pura vileza? Eram meus todos aqueles pesados anos passados em que eu me havia esquecido de ser menino e, por isso, abominava a ideia de um toque humano no rosto e do sorriso brilhante de um recém-nascido? O que eu tinha feito da minha pobre vida se não um vestido apertado demais em que eu mal encontrava lugar sozinho?
Cuspido desses pensamentos, me de conta que tínhamos chegado nos arredores de uma casa, e que a mulher estava perdida. Olhou-me, e eu fiquei do lado de fora, na espera inútil de um convite que nunca chegou. Parado diante da porta, não aconteceu nada naquele dia, nem nos seguintes, e eu fiquei em pé, respirando o ar poeirento dos campos até quando o sol ficou incandescente e o pó me queimou os pés e um forte vento me obrigou a voltar.
Desde aquele dia, vivi o terror de mim mesmo, segurei a inutilidade da minha vida vazia e constatei com amargura o colapso de minhas ilusões. De repente, senti nojo da minha sutil pele de velho. E compreendi finalmente que nunca amei, que escolhi com feroz obstinação percorrer sozinho essa passagem pela terra, decidido a dar valor àquilo que valor não tem, exceto àquele imaginário e inconsistente da vaidade dos homens. Seguindo aquela mulher, fui eu mesmo por uma hora: agora voltei a minha vida, a minha estrada morro abaixo que me levará ao previsível fim.
Sei que nunca serei feliz, mas talvez consiga convencer-me de que não cometi erros que mereçam censura, nem fiz péssimas escolhas a que preciso renunciar. Estenderei um véu sobre minha alma, como fazem todos, e percorrerei a linha que marca o tempo justificando a cada minuto minhas terríveis ações. O esquecimento é tudo o que desejo.
Mas agora sei que caminho em vão, sem esperança e sem amor.
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