Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore

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Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro - Margaret Moore Ómnibus Hi

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      – Vinte e dois pagam as suas rendas em espécies, milorde – apressou-se Chalfront a responder. – David Marchant, o moleiro, é quem paga mais, cinquenta xelins por ano. John, o ferreiro, é quem paga menos, dois ceitis. Os outros estão aqui relacionados.

      Ele desenrolou uma das listas que acabara de trazer.

      – E estes? – Etienne apontou para um outro grupo de nomes, na mesma lista.

      – Esses são os aldeões ad opus. Ao lado de cada nome, verá que anotei o rendimento esperado, por semana e por ano, milorde.

      Etienne assentiu com a cabeça, antes de passar os olhos pelo papel.

      – Parece que gostas realmente de fazer relatórios, Robert.

      – Gosto de ter as coisas em ordem, milorde – respondeu Chalfront, respeitosamente. – Aliás, eu gostaria de chamar a sua atenção para as minhas anotações relativas às taxas e impostos do moinho e dos direitos de...

      – Estou com uma dor de cabeça – interrompeu o barão, sem mentir.

      Ele pegou num documento com um selo elaborado, e outro com um selo menor.

      – Esta é a minha Carta de Escritura – explicou, indicando o primeiro. – Especifica as terras, serviços e rendas que devo receber. E esta é a Carta Consuetudinária, que descreve as obrigações e direitos dos arrendatários, e que encontrei entre os papéis do conde. Quero que as examines e me digas se está tudo em ordem.

      O meirinho arqueou as sobrancelhas, abrindo mais os olhos muito azuis.

      – Confia-me essa responsabilidade, milorde? – perguntou, incrédulo, e ao mesmo tempo, extasiado.

      – Sim – só então Etienne se deu conta de que talvez não fosse sensato incumbir o meirinho daquela tarefa. – Por enquanto. O meu procurador, Jean Luc Ducette, deve chegar dentro de quinze dias. Ele examinará os registos, e é bom que confirme tudo o que tu me disseres.

      O meirinho assentiu, entusiasmado.

      – E o que são estas outras listas? – quis saber Etienne, gesticulando na direcção de uma outra pilha de papéis.

      – Achei que talvez quisesse ter algumas informações antes de os arrendatários começarem a fazer os seus juramentos de lealdade. Aqui estão três homens que ainda não pagaram o gersum – Chalfront apontou para um grupo de nomes no primeiro documento da pilha. – Este aqui precisa de pagar o merchet antes de casar a filha, no próximo mês. Estes dois morreram depois do conde, e ninguém recolheu o heriot. E, finalmente, milorde, acho que deveria tomar uma decisão sobre as taxas pelo direito de alimentar os porcos.

      – Quanto é que o conde pedia em troca do privilégio de deixar os porcos preambularem pela floresta?

      Chalfront citou quantias que teriam sido apropriadas há um século atrás, e Etienne manifestou a sua opinião.

      – Não é de admirar que o conde se tenha encontrado em sérias dificuldades financeiras – acrescentou, olhando atentamente para o meirinho. – Por que é que tu não o avisaste de que não estava a cobrar o suficiente?

      – Eu avisei, milorde! O conde recusava-se a ouvir-me, mesmo quando o alertei para o facto de que estava a arruinar-se. Ele era um homem que fazia questão de ser estimado pelos arrendatários. E era, pois não resta dúvida de que a sua morte foi profundamente sentida.

      Se Etienne precisava de uma confirmação adicional sobre o falecido conde ter sido um homem com prioridades mal colocadas, Robert Chalfront acabara de lha dar. Não era importante que os arrendatários estimassem o seu senhor; era importante que o respeitassem, obedecessem e fizessem dele um homem rico.

      – Entendo – Etienne estudou, com um olhar pensativo, o homem sentado à sua frente. Um homem como aquele atrever-se-ia, de facto, a repreender o patrão? Teria a coragem de revelar abertamente as consequências da mal empregue generosidade do conde? Ou limitar-se-ia a gaguejar, a assentir e a esforçar-se para obedecer às instruções que recebia?

      – Perdoe-me a intromissão, milorde.

      Etienne reconheceu imediatamente a voz feminina que poucas vezes ouvira, e olhou para a porta. Gabriella trajava o mesmo vestido castanho-claro que sempre usava; parecia pálida e cansada, mas o brilho de desafio não abandonara os olhos castanhos. Etienne quase podia ler o pensamento de Gabriella, ao contemplá-la parada sob o umbral da porta, vendo-o a dissecar o que fora, outrora, a propriedade do seu pai. De certeza que ela gostaria de o ver no fundo do poço, ao pé do moinho, com o rebolo amarrado ao pescoço, com a mesma intensidade com que ele gostaria de a ter na sua cama.

      – Diz, Gabriella – murmurou, decidindo não perder tempo com pensamentos inúteis.

      – O capataz, o cavaleiro e o lenhador encontram-se no castelo, conforme a sua solicitação – anunciou ela, respeitosamente.

      Pelo menos, a pequena demonstração da outra noite atingira parte do objectivo; Gabriella baixara o tom.

      – Traz-me mais vinho, e cerveja para o capataz e os outros – ordenou Etienne.

      Gabriella assentiu com uma mesura, antes de se afastar.

      – Tira esta papelada daqui, Chalfront – pediu Etienne, esticando os braços para cima e para trás, ansioso por ficar sozinho. Infelizmente, precisava de receber aqueles três homens que iriam prestar-lhe juras de lealdade antes dos demais arrendatários. Há três dias que ele andava a adiar o evento, por um motivo que considerava justo, principalmente depois de ouvir rumores sobre a reacção negativa do povo ao tratamento que ele dispensara à filha do conde. Etienne decidira esperar para ver se eles fariam algo mais, além de protestar.

      Não fizeram.

      Ajeitando as vestimentas e tentando desamarrotar as pregas com a mão, Etienne recostou-se na cadeira e aguardou, assumindo a expressão mais arrogante que conseguiu, enquanto Chalfront juntava a papelada. Segurando da melhor maneira possível os volumosos rolos de documentos, o meirinho curvou-se para a frente numa reverência e saiu do solário, no momento em que os três homens entravam, afastando os capuzes ensopados para trás, sobre as capas que pingavam água.

      O mais alto dos três, que, obviamente, era também o líder, pois caminhava à frente dos outros dois, era um homem loiro, com o rosto quadrado, ombros largos e braços musculados. Os dois homens que o seguiam tinham cabelos escuros e eram de estatura mais baixa. Possuíam um ar de convencimento que desapareceu quando se aproximaram do barão.

      O homem alto ajoelhou-se numa perna.

      – Sou William, o capataz, milorde – anunciou, com a voz grave e áspera, antes de afastar para trás uma mecha do cabelo liso.

      – Eu sou Osric, o cavaleiro – disse o mais atarracado dos dois homens morenos, enquanto também se ajoelhava.

      – E eu sou Brian, o lenhador, – declarou o último, fazendo o mesmo.

      – Como vocês são os líderes do povoado, mandei chamá-los para que sejam os primeiros a fazer os vossos juramentos de lealdade. Presumo que estejam dispostos a fazê-los – acrescentou Etienne, reflectindo sobre como era fácil lisonjear aqueles homens rudes, ao reparar nos olhares de superioridade que trocaram entre si.

      Antes

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