Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore
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– Se o meu irmão soubesse o que está a acontecer, viria imediatamente.
– Ah, sim, o teu irmão... Tu não tens ideia nenhuma de onde é que ele se encontra?
Gabriella balançou a cabeça.
– Que pena – Josephine estudou Gabriella da cabeça aos pés. – Tu és uma jovem interessante. É difícil acreditar que não tenhas um namorado.
– Não tenho, milady.
– Nem Chalfront? – perguntou Josephine, com um olhar maroto.
– Nunca!
– Confesso que concordo contigo, nesse ponto. Ele não é o tipo de homem capaz de fazer palpitar o coração de uma mulher.
– Não pretendo casar-me com ninguém, milady.
Josephine arqueou as sobrancelhas como se tivesse dúvidas, e suspirou.
– Bem... preciso de descer para o salão. Sir George deve lá estar, e ele é um jovem elegante e divertido. Far-me-á companhia enquanto Etienne anda por aí a tentar descobrir se há algum arrendatário a tentar enganá-lo. Espero que não, pois pobre daquele que se atrever! Por favor, arruma o quarto, Gabriella, e depois estarás livre até à hora do jantar.
– Obrigada, milady – murmurou Gabriella, enquanto Josephine saía do quarto.
Gabriella começou a dobrar o pesado vestido de veludo, com movimentos bruscos. O que é que Josephine de Chaney pensava, que ela precisava da sua compaixão? Ela amassou entre os dedos das duas mãos a écharpe azul e mandou-a com força sobre a cama, num gesto furioso. Depois deixou escapar uma exclamação sufocada, ao ver a seda toda amarrotada. Esticou a écharpe e alisou-a delicadamente, reflectindo que não fazia sentido descarregar a sua raiva num pedaço de tecido, principalmente num tão precioso como aquele.
Sem largar a écharpe, Gabriella caminhou até à penteadeira. Com Josephine ausente, podia olhar à vontade para o espelho. Gabriella surpreendeu-se ao ver que a sua aparência era melhor do que imaginara; a pele do rosto estava um pouco bronzeada do sol, mas não demais; os cabelos estavam levemente despenteados, e depois de um rápido olhar para a porta, ela pegou numa escova e passou-a pelos cachos ondulados. O seu rosto parecia um pouco mais magro, mas não lhe ficava mal; ao contrário, realçava-lhe os olhos, que eram o seu traço mais favorável.
Sentindo a fragrância dos perfumes, Gabriella pegou num dos frascos de cristal; fechou os olhos e inalou o doce e suave perfume a rosas. Depois recolocou-o no lugar e, com outro olhar furtivo em direcção à porta, cobriu a cabeça com a écharpe.
Até certo ponto, compreendia a escolha de Josephine; não era fácil abster-se do luxo e do conforto. Ela, pelo menos, ainda tinha esperança de que Bryce voltasse para a amparar; Josephine ficara completamente sozinha. E encontrara um grande amigo no barão DeGuerre.
O qual, por acaso, a observava, parado sob o umbral da porta, percebeu Gabriella ao olhar para o espelho. Ela tirou a écharpe da cabeça, com uma exclamação de susto, e virou-se para contemplá-lo.
– Este quarto está em completa desordem – murmurou o barão, entrando, quase como se falasse para si mesmo.
– Sim, milorde... Eu estava a arrumá-lo – Gabriella engoliu em seco, indecisa sobre o que fazer. Havia roupas de Josephine espalhadas por toda parte, mas o seu último desejo era ficar naquele quarto sozinha com o barão DeGuerre.
– Pois continua.
Gabriella assentiu, em silêncio, e começou a recolher as roupas, apressada e desajeitadamente, cada vez mais consciente da presença constrangedora do barão, de pé no centro do aposento.
– Quer dizer então que Chalfront te quer como esposa – exclamou ele. – A tua recusa foi... inequívoca, eu diria, não achas?
– Uma das últimas coisas que o meu irmão me disse, antes de se ir embora, foi que eu não confiasse em Robert – disse ela, enquanto arrumava os frascos de perfume sobre a penteadeira, deixando cair um deles e recolocando-o de pé, em seguida.
– E tu acreditaste no teu irmão?
– Claro – respondeu Gabriella, sem hesitar. – O que aconteceu depois de o meu pai morrer prova que Bryce tinha razão. Se Robert fosse um meirinho competente e honesto, eu não estaria endividada neste momento.
Ela dobrou a écharpe e foi guardá-la no baú, tentando manter a maior distância possível do barão.
– Mas antes disso, tu tinhas algum motivo para desconfiar dele? – insistiu Etienne, sem alterar o tom brando de voz. Ele deu alguns passos na direcção de Gabriella, que se afastou, apressada, para pegar num vestido que estava sobre a tampa de outro baú. – É do meu entendimento que o teu irmão não gostava de Chalfront porque o meirinho costumava advertir o teu pai para que não lhe desse quantias de dinheiro tão exorbitantes.
Gabriella passou a dobrar o vestido com movimentos mais lentos.
– Na fase final da enfermidade, o meu pai falava continuamente sobre algo que não estava certo – explicou, sem olhar para o barão. – E quase sempre mencionava o nome de Robert. Quando a situação financeira do meu pai se tornou conhecida, ficou claro para mim que tanto ele quanto Bryce tinham razão em desconfiar de Robert.
– E, no entanto, ele insiste em dizer que tentou prevenir o teu pai – A voz baixa e gutural do barão soou perto do ouvido de Gabriella, mas ela continuou a dobrar o vestido, como se a proximidade dele não a perturbasse. – Ele chega a afirmar que ofereceu dinheiro ao teu pai.
Gabriella não respondeu. No fundo, não queria acreditar em Robert Chalfront. Reconhecia, contudo, que o pai fora um homem demasiadamente generoso, que apreciava o luxo, e a quem talvez tivesse faltado bom senso.
– O meu procurador não encontrou qualquer sinal de falsificação nos registos da contabilidade. Por outro lado, reconheço que não seria difícil para um meirinho esconder esse tipo de crime. Farei questão que Jean Luc examine tudo outra vez, minuciosamente.
Gabriella assentiu e mordeu o lábio inferior, e Etienne sentiu-se comovido com aquela súbita fragilidade, que contrastava com a força que ela normalmente demonstrava. Naquele momento, o desejo de Etienne era de abraçá-la e confortá-la.
A sensação era tão inédita que, de repente, ele sentiu-se sozinho e desamparado, como se sentira anos antes, quando participara do seu primeiro torneio, numa época em que ainda era um jovem inexperiente, ao mesmo tempo assustado e deslumbrado com o mundo dos homens e das armas.
Na ocasião, no entanto, ele não deixara que as suas emoções transparecessem, e agora também não o deixaria.
– Se Jean Luc descobrir que Chalfront está a dizer a verdade, tu deves-lhe um pedido de desculpas.
– Sim, milorde – assentiu Gabriella, secamente. – Se for preciso pedir desculpas, eu pedirei.
– Se for para pedires com essa falta de graciosidade, será melhor não o fazeres.
– Com licença, milorde... preciso de