Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore
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– Ele quase me viu – balbuciava o cavaleiro, ofegante.
– Quem?
Gabriella ficou paralisada. Baixou a mão, sem bater, mas também não se conseguiu afastar. Nunca ouvira Alice a falar naquele tom; a velhinha sempre lhe parecera tão meiga e humilde... e agora falava com brusquidão, como se fosse a mais rabugenta proprietária de uma taberna da Inglaterra.
– O barão! Eu seria um homem morto, se ele me tivesse visto, mamã – choramingou Osric. – Acho que está na hora de nos mudarmos daqui.
– E deixar estas matas? – Alice proferiu um impropério e Gabriella levou uma mão à boca, arregalando os olhos, incrédula. – Não sejas palerma, Osric! Os coelhos daqui têm a melhor pele que já vi! Tu precisas de ter mais cuidado, é só isso.
– Estou-lhe a dizer, mamã, que isto está muito perigoso – teimou Osric. – O barão não é tão idiota como o conde. O tempo das vacas gordas já acabou!
– Só se tu quiseres, seu pateta! – rosnou Alice. – Vamos fazer uma pausa, pronto. Daqui a algum tempo, recomeças. Estou velha demais para ficar a preambular por aí, à procura de um lugar para morar. Agora, vai buscar-me uma cerveja e pára de te queixares. E tira essa roupa, depressa! Se alguém te vir sujo de sangue, poderá desconfiar.
Gabriella girou nos calcanhares e deu alguns passos apressados para longe da casa, com a sensação de estar a sonhar. O seu pai fora, de facto, explorado! Quantos mais o chamavam de idiota e gozavam com ele? Quantos mais o tinham enganado e roubado?
Ela quisera encontrar, de qualquer maneira, uma justificativa para a relutância daqueles homens em ajudá-la, apenas para descobrir que o barão tinha razão, pelo menos em parte.
Gabriella seguiu caminho para a casa de Mary, tentando decidir o que fazer. Devia contar ao barão o que descobrira? Ou devia falar com William, primeiro? Ou com Robert? Em quem poderia ela confiar, por todos os santos?!, pensou, desolada, conforme os primeiros pingos de chuva lhe caíam sobre a cabeça.
O céu estava escuro e o vento sacudia os galhos secos das árvores que margeavam o caminho para o castelo Frechette. Não se ouvia o canto de um único pássaro a romper o silêncio, apenas o baque surdo e lento das patas dos cavalos, conforme se aproximavam dos picos da cordilheira que circundava o vale.
Apesar de tudo, Etienne sentia-se contente por estar de volta. O contraste com as suas outras propriedades, bem menos sumptuosas, levara-o a dar mais valor à extraordinária beleza do castelo Frechette, mesmo num dia húmido e sombrio de Outono, como aquele.
Etienne repetia a si mesmo que também estava satisfeito porque a decisão que tomara durante a viagem fora uma decisão sensata.
Gabriella Frechette teria de deixar o castelo. A sua simples presença incentivava o desrespeito entre os servos e a impertinência dos arrendatários. Portanto, ela teria de se ir embora. A princípio, Etienne pensara em dispensar Gabriella assim que voltasse, mas depois pensara que tal atitude poderia ser interpretada pelos arrendatários como fraqueza da sua parte. A Primavera seria uma boa época. Ele não determinara um prazo para a prestação de serviços de Gabriella, portanto seria magnânimo na Páscoa.
Etienne moveu-se na sela, procurando uma posição mais confortável, e olhou sobre o ombro. Jean Luc Ducette, alto e esquelético, cavalgava serenamente ao seu lado. Philippe vinha logo atrás, provavelmente contrariado por não ter sido favorecido com a posição de honra. O humor de Philippe, no entanto, não preocupava Etienne. Em breve, eles estariam no castelo, com uma boa refeição, o calor do fogo... e Josephine!
Por todos os santos, ele deveria sentir-se mais eufórico! Tinha a mulher mais linda do país como amante, dez propriedades prósperas, um castelo magnífico. Jean Luc dissera-lhe que o lucro dos solares tinha sido maior do que o esperado, e um clima de paz pairava na nação, o que significava que era mínima a probabilidade de o chamarem para a guerra durante os meses castigadores do Inverno. Na verdade, ele deveria sentir-se bem mais entusiasmado.
Talvez fosse a presença do petulante Philippe que lhe anuviava a alegria. Philippe nascera insatisfeito, e passava a vida a culpar os outros. Não cabia a Etienne ficar à procura de Philippe, mas a este colocar-se à disposição do seu amo. Em vez disso, das poucas vezes que Etienne fora caçar, Philippe encontrava-se ocupado, geralmente a embebedar-se na taberna mais próxima, ou na própria cozinha do castelo.
Na Primavera, decidiu Etienne, também mandaria Philippe embora, se até lá ele não tivesse ido por si mesmo.
Foi então que Etienne detectou um movimento dentro do bosque e puxou abruptamente a rédea da sua montaria. Ele saltou do cavalo, torcendo o tornozelo, no processo, empertigando-se no mesmo instante, sem uma palavra ou gemido, ignorando a dor enquanto se aproximava do animal morto.
Era um veado, uma fêmea gigantesca, e acabara de ser abatida quando o invasor obviamente ouvira os homens a aproximarem-se e fugira.
Etienne franziu a testa e praguejou, baixinho. Com que então, alguém se atrevera a ignorar a sua advertência. Se ele não tivesse sentido necessidade de se afastar da tentação de Gabriella Frechette, poderia ter reforçado com mais eficácia as suas ordens. Fora um erro deixar George a comandar; tanto quanto era um guerreiro destemido e talentoso, o cavaleiro não tinha o hábito de dedicar atenção a assuntos que não lhe interessavam.
Philippe, Jean Luc e alguns dos soldados também desmontaram e reuniram-se ao redor do barão, contemplando, em silêncio, o animal ensanguentado.
– Levem-no para o castelo – ordenou Etienne. – Darei dez moedas de ouro a quem me trouxer o invasor, com provas.
Etienne voltou para o cavalo, com uma expressão tensa e contrariada, de frustração e de dor. Quando montou e inadvertidamente o seu pé esbarrou no cavalo, ele fechou os olhos, duvidando, por um momento, que fosse capaz de continuar a suportar aquela agonia em silêncio.
Mas o barão desprezava todo e qualquer sinal de fraqueza, mais ainda em si próprio do que noutras pessoas. Com algum esforço e sorte, ele esperava conseguir disfarçar, até chegar ao castelo e poder ficar sozinho. Atiçou o cavalo com o calcanhar do outro pé e partiu, num galope suave, à frente dos demais.
Etienne tentou manter a expressão serena, enquanto subia os degraus para a entrada do salão principal, apesar do tornozelo inchado e dorido. Conseguira esconder a sua condição dos criados do estábulo, mas não via o momento de chegar ao quarto, onde poderia ficar sozinho. Teria de pensar em algo para mandar Josephine sair do quarto, e... Foi então que ele se deu conta de que ela não estava no pátio para o receber; normalmente, Josephine deixava ordens estritas aos sentinelas para que a chamassem assim que o avistassem das muralhas. Talvez a chuva fina e persistente que começara a cair tivesse impedido Josephine de o esperar do lado de fora.
Etienne abriu a porta e entrou, parando no vestíbulo para tirar a capa molhada e tentando não se perguntar onde estaria Gabriella.
Estava explicada a ausência de Josephine no pátio; ela encontrava-se sentada numa cadeira alta, perto do fogo, rodeada pelos artigos que lhe oferecia um casal de mercadores, como se tivesse sido transportada para um bazar do Oriente. O mercador, um homem robusto e com modos ansiosos, abria caminho entre as mercadorias para mostrar a Josephine um rolo de tecido dourado, que Etienne suspeitou que custasse uma verdadeira fortuna; a chapeleira, mais discreta que o marido, aguardava de pé entre uma confusão de chapéus, coroas,