Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro. Margaret Moore
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Gabriella acalentara a esperança de que os rumores sobre o barão DeGuerre fossem exagerados e de que tivesse oportunidade para lhe pedir que a deixasse continuar a morar no único lar que conhecera. No seu desespero, chegara mesmo a imaginar que o barão aceitaria a sua ajuda e conselhos, uma vez que ela conhecia a fundo o castelo, as terras e os arrendatários.
Naquele instante, contudo, Gabriella compreendeu, com profundo desalento, que a sua esperança fora vã.
Com uma voz grave e desprovida de emoção, o barão começou a emitir ordens aos servos, escudeiros e cavaleiros, para que atrelassem os cavalos e descarregassem as bagagens. Tinha vários cavaleiros, alguns deles obviamente mais importantes que outros, e a atenção de Gabriella deteve-se nos quatro que tinham entrado a cavalgar ao lado do barão, dois de cada lado. Um deles era um homem de pele lisa e lustrosa, cabelos escuros e compridos como os do barão, com a diferença de que os usava puxados para trás; tinha um rosto bonito, apesar de pálido, e olhos estreitos e astutos, com sobrancelhas escuras e espessas; o sorriso era desdenhoso, arrogante, e as vestes e acessórios da melhor qualidade. Gabriella perguntou-se se a posição favorecida daquele cavaleiro no séquito significava que ele exercia alguma influência sobre o barão. Que os céus tivessem misericórdia dos seus arrendatários, se a sua suposição fosse correcta!
Ao lado dele, cavalgava um homem loiro, vestido numa túnica vermelha. À primeira vista, Gabriella teve a impressão de que não passava de um rapazinho, apesar da inegável força física. No entanto, quando o cavaleiro desmontou, ela notou que ele possuía linhas suaves ao redor da boca e dos olhos, e concluiu que devia ter aproximadamente a mesma idade do barão.
Gabriella achava a presença daquele homem reconfortante. Se o barão era tão cruel quanto diziam, teria ao seu serviço um homem com uma expressão tão agradável? Ou seria o poder e a reputação do barão DeGuerre que atraíam seguidores de todos os tipos, bons e maus?
A segunda dupla de cavaleiros era composta por um homem não exactamente franzino, porém menos corpulento que os demais, com um ar sonhador, e de outro mais alto e forte. Os dois comunicavam entre si através de poucas palavras e gestos, como se fossem velhos amigos que se conhecessem a fundo.
Foi então que Gabriella avistou a mulher que só podia ser lady Josephine de Chaney. Era lindíssima e tinha uma pele maravilhosa, aveludada e levemente corada; os olhos verdes e grandes eram emoldurados por cílios longos e espessos; os lábios eram cheios, rosados. Ela usava um manto azul-turquesa e uma tiara que cintilava à luz do sol, sobre os cabelos loiros sedosos. Não era de admirar que tivessem sido compostas canções a exaltar-lhe a beleza clássica e a graciosidade, e que alguns homens tivessem morrido a competir pelo seu amor.
Gabriella alisou a saia do seu vestido simples e, durante um momento, desejou não ter vendido todas as suas roupas finas. Logo, porém, afastou o arrependimento que não condizia com a sua personalidade.
Os pensamentos de Gabriella foram interrompidos pela voz pacífica, porém autoritária, do barão, que ecoou pelos quatro cantos do pátio mergulhado em silêncio.
– Onde estão os filhos do falecido conde? – exigiu ele.
«Chegou a hora», pensou Gabriella. Se ao menos Bryce estivesse ali, ao seu lado, em vez de em algum lugar na Europa, ainda ignorante do facto de que o pai morrera! Gabriella tinha a certeza de que o irmão teria evitado aquela situação terrível. Se não evitado, pelo menos adiado, indo conversar pessoalmente com o rei quando a verdadeira situação da fortuna do conde se tornara conhecida, quando ele se encontrava no seu leito de morte. Sozinha com o pai, Gabriella não tivera tempo de ir, ou dinheiro para enviar outra pessoa que intercedesse no seu nome.
Gabriella pestanejou para reprimir as lágrimas e ergueu o queixo, olhando para as paredes altas e para as muralhas da sua casa. Era a única representante da família naquele momento, e a única intermediária entre o seu povo e o barão DeGuerre; não podia esmorecer diante de um recém-chegado imoral e ambicioso.
– Sou lady Gabriella Frechette – anunciou, dando um passo em direcção ao barão e flexionando os joelhos numa graciosa mesura. – Seja bem-vindo.
Etienne DeGuerre possuía anos de prática a mascarar as suas emoções, e portanto não foi difícil disfarçar a surpresa. Ele percebera a presença daquela jovem, de pé entre os servos, e ficara impressionado com o olhar firme, que transmitia força e coragem, contrastando com a delicadeza das feições que a tornavam bonita, com o rosto emoldurado por um halo de cabelos escuros e ondulados, e com o vestido simples que parecia realçar-lhe a beleza natural com mais eficácia do que o mais fino dos trajes. Ele pensara que ela fosse uma aia, possivelmente mais um exemplo das regalias a que se permitira o devasso conde de Westborough; não detectara, à primeira vista, o ar altivo e gracioso de uma jovem que crescera no meio da riqueza, uma postura que não se deixara abater pelos recentes e desventurados acontecimentos.
A voz dela também era curiosamente intrigante, de um timbre baixo e levemente rouco, sem afectação, com uma franqueza que era rara numa mulher.
Etienne DeGuerre encontrara poucas mulheres que o tivessem impressionado até então, e aquelas que tinham conseguido essa façanha eram de uma beleza física gritante, como Josephine. De todas as que conhecera, somente outras duas possuíam tamanha serenidade, determinação e autoconfiança como aquela jovem. Uma fora a sua mãe; a outra era a nova esposa do seu vassalo de confiança, sir Roger de Montmorency.
Apesar de tudo, a expressão facial de Etienne não se alterou quando ele caminhou na direcção da jovem.
– Onde está o seu irmão?
– Isso gostaria eu de saber, pois ele não teria permitido que isto acontecesse – respondeu ela, bruscamente.
Etienne arqueou as sobrancelhas. Durante anos e anos, ninguém se atrevera a falar com ele daquela maneira, ou a usar aquele tom de voz.
Foi quando Gabriella cometeu outro erro, interpretando o silêncio do barão como uma oportunidade para continuar.
– Não acha que se esqueceu de algo? Como, por exemplo, a simples cortesia de uma palavra de condolência pelo falecimento do meu pai? – perguntou, com bons modos, mas num tom de voz irónico. – Ou talvez um agradecimento pelo facto da sua morte prematura o ter enriquecido?
Durante um breve instante, a indignação tomou conta de Etienne, fazendo-lhe o sangue fervilhar dentro das veias. A sua reacção emocional, no entanto, foi rapidamente controlada, e a sua expressão permaneceu impassível. Ele estudou Gabriella Frechette com a indiferença e a frieza que tinham levado alguns dos mais bravos cavaleiros a acobardar-se diante dele, um olhar que provinha da consciência de quem vira, fizera, vivera e sobrevivera mais do que a maioria dos homens, no passado e no futuro.
Gabriella Frechette recusou-se a desviar o olhar. Nem mesmo pestanejou. Permaneceu imóvel, enfrentando o olhar intimidador do barão.
Etienne não era um homem que se desconcertava com facilidade, e a sensação não lhe agradava. Ou Gabriella Frechette era uma mulher tola, ignorante do verdadeiro significado da perda do seu status, ou tinha a capacidade de manter a dignidade, apesar de todos os contratempos.
Pelo canto do olho, Etienne percebeu o esgar gozador de Philippe de Varenne. Sir George de Gramercie, distinto como sempre no seu habitual traje vermelho, limitava-se a contemplar a jovem, com compreensível fascínio. Donald Bouchard, a quem Etienne intimamente apelidava de «monge», aguardava pacientemente o desenrolar dos acontecimentos; e o amigo deste, o estouvado Seldon Vachon, não disfarçava o espanto. Os habitantes do castelo assistiam à cena, impassíveis.
Subitamente,