A Ordem. Daniel Silva

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу A Ordem - Daniel Silva страница 13

A Ordem - Daniel Silva HARPERCOLLINS PORTUGAL

Скачать книгу

proteção. Sessenta metros mais abaixo, Donati rezara sobre o seu corpo despedaçado.

      — Há quanto tempo é que isso se passa? — perguntou Gabriel.

      — Há uma música do Gershwin que se chama assim. Sempre adorei essa canção — respondeu Donati, de forma provocadora.

      — Responde à pergunta.

      — Não se passa nada. Mas janto com ela regularmente há cerca de um ano.

      — Há cerca?

      — Talvez dois anos seja mais correto.

      — Calculo que não jantem em público.

      — Não — respondeu Donati. — Só na casa da Veronica.

      Gabriel e Chiara tinham estado lá uma vez, numa festa. Era um palazzo repleto de arte e antiguidades, próximo da Villa Borghese.

      — Com que frequência? — perguntou ele.

      — Salvo quando há uma emergência no trabalho, à quinta à noite.

      — A primeira regra do comportamento ilícito é evitar um padrão.

      — Não há nada de ilícito no facto de eu e a Veronica jantarmos juntos. A disciplina do celibato não proíbe todos os contactos com mulheres. Simplesmente, não posso casar com ela nem…

      — Podes estar apaixonado por ela?

      — Em rigor, sim.

      Gabriel fitou Donati com reprovação.

      — Porque é que escolherias, voluntariamente, estar tão próximo da tentação?

      — A Veronica diz que o faço pela mesma razão que escalava montanhas, para ver se consigo manter o equilíbrio. Para ver se Deus irá estender-me a mão e apanhar-me se cair.

      — Suponho que ela seja discreta.

      — Alguma vez conheceste alguém mais discreto do que a Veronica Marchese?

      — E os teus colegas do Vaticano? — perguntou Gabriel. — Alguém sabia?

      — É um lugar pequeno, cheio de homens sexualmente reprimidos que adoram partilhar um bom mexerico.

      — E é por isso que te parece suspeito que um homem com problemas cardíacos tenha morrido na única noite da semana em que não estavas no Palácio Apostólico.

      Donati não disse nada.

      — Certamente, há mais do que isso.

      — Sim — disse Donati, enquanto tirava outra folha de alcachofra. — Muito mais.

      7

      RISTORANTE PIPERNO, ROMA

      Houve, para começar, o telefonema do cardeal Albanese. Chegou quase duas horas depois da hora a que o camerlengo disse ter encontrado o Santo Padre morto na capela privada. Albanese alegou ter feito várias chamadas sem resposta para Donati. Donati verificara o seu telefone. Não tinha qualquer chamada não atendida.

      — Parece ser um caso simples. E que mais?

      O estado do escritório papal, respondeu Donati. Persianas e cortinas fechadas. Uma chávena de chá meio bebida sobre a secretária. Um documento desaparecido.

      — O que era?

      — Uma carta. Uma carta pessoal. Não oficial.

      — O Lucchesi era o destinatário?

      — O autor.

      — E o conteúdo da carta?

      — Sua Santidade recusou dizer-me.

      Gabriel não sabia se o arcebispo estava a ser inteiramente sincero.

      — Suponho que a carta tenha sido escrita à mão…

      — O vigário de Cristo não usa um processador de texto.

      — A quem estava endereçada?

      — A um velho amigo.

      Depois, Donati descreveu a cena que encontrou quando o cardeal Albanese o conduziu até ao quarto papal. Gabriel imaginou o quadro como se tivesse sido pintado a óleo sobre tela pela mão de Caravaggio. O corpo do pontífice falecido estendido sobre a cama, vigiado por um trio de prelados superiores. No lado direito da tela, pouco visíveis nas sombras, três leigos de confiança: o médico pessoal do papa, o chefe da pequena força policial do Vaticano e o comandante da Guarda Suíça Pontifícia. Gabriel nunca conhecera o doutor Gallo, mas conhecia Lorenzo Vitale, e gostava dele. Já Alois Metzler era outra história.

      O Caravaggio privado de Gabriel dissolveu-se, como se tivesse sido apagado por diluente. Donati estava a reproduzir a explicação de Albanese sobre como encontrara, e depois movera, o cadáver.

      — Francamente, é a única parte da história que é plausível. O meu mestre era bastante pequeno e o Albanese tem o físico de um boi. — Donati ficou em silêncio durante um momento. — Como é evidente, há, pelo menos, uma outra explicação.

      — Qual?

      — Que Sua Santidade nunca tenha chegado à capela. Que tenha morrido à secretária, no escritório, enquanto bebia chá. Tinha desaparecido, quando saí do quarto. Refiro-me ao chá. Alguém retirou a chávena e o pires, enquanto eu rezava junto do corpo de Lucchesi.

      — Suponho que não tenha sido submetido a uma autópsia.

      — O Vigário de Cristo…

      — Foi embalsamado?

      — Receio que sim. O corpo de Wojtyla ficou bastante cinzento enquanto estava em exibição na basílica. E, depois, houve o Pio XII. — Donati estremeceu. — Uma verdadeira desgraça. O Albanese disse que não queria correr riscos. Ou talvez estivesse simplesmente a ocultar o seu envolvimento. Afinal, se um corpo for embalsamado, torna-se muito mais difícil encontrar vestígios de veneno.

      — Tens mesmo de parar de ver essas séries policiais na televisão, Luigi.

      — Eu não tenho televisão.

      Gabriel deixou passar um momento.

      — Tanto quanto me lembro, não há câmaras de vigilância na lógia, no exterior do apartamento papal.

      — Se houvesse câmaras, o apartamento não seria privado, pois não?

      — Mas, certamente, havia um guarda suíço de serviço.

      — Há sempre.

      — Nesse caso, ele teria visto qualquer pessoa que tivesse entrado no apartamento.

      — Em princípio.

      —

Скачать книгу