Herança Perdida. Robert Blake

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Herança Perdida - Robert Blake

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      Herança

      Perdida

      Robert Blake

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      Título original: El legado perdido

      © 2021 Robert Blake

      © Imagem da capa: Retirada dos common wells do Flickr

      Tradução de Susana Franco

      (Sem restrição de direitos de autor)

      Todos os direitos reservados

      Não é permitida a reprodução total ou parcial deste trabalho, nem a sua incorporação a um sistema de computador, ou transmissão em qualquer forma ou por qualquer meio, seja ele eletrónico, mecânico, de gravação ou qualquer outro, sem autorização prévia e escrita pelo autor.

      A infração dos direitos acima mencionados pode constituir um delito contra a propriedade intelectual (Art.270 e seguintes do Código Penal).

      Índice

       Prólogo

       Capítulo I

       Capítulo II

       Capítulo III

       Capítulo IV

       Capitulo V

      Tessalónica, 1912

      — Mais de meia hora à espera neste calor sufocante — rosnou o diretor do museu enquanto mantinha o relógio de bolso no colete — Quando é que o barqueiro vai aparecer?

      Ele continuou a andar às voltas para cima e para baixo enquanto a névoa do amanhecer não permitia ver nem um metro de distância; apenas o leve ruído de algum pássaro alterou o profundo silêncio.

      — Penso que não deve demorar muito — respondi enquanto folheava o pergaminho mais uma vez.

      — Achas que vamos encontrar o lugar exato com esta névoa? — Acrescentou o velho.

      Kalisteras pareceu morder o lábio; estava a começar a ficar cansado das queixas do velho.

      — Assim que os primeiros raios de sol nascerem, a névoa começará a dissipar-se e o lago ficará visível.

      — Tens a certeza?

      — Eu já percorri este caminho muitas vezes — ele respondeu presunçosamente.

      O diretor olhou-o de cima a baixo, não suportava os presunçosos.

      — Espero que estejas certo — eu disse a olhar nos olhos dele. — É preciso estar um dia claro e nítido para poder interpretar este mapa.

      — Enquanto não for uma cópia grosseira feita por alguns manuacenses nos séculos seguintes, — acrescentou o diretor com um meio sorriso.

      — Então a nossa jornada à Salónica terá sido em vão. — Respondi ironicamente. — Nunca faço uma investigação sem provas suficientes. Este pergaminho é do século IV.

      — Eu sei amigo. Por isso é que decidi sair da minha biblioteca. Ainda assim tenho as minhas dúvidas — ele suspirou suavemente.

      Imediatamente a figura do barqueiro apareceu na neblina sem que estivéssemos conscientes da sua presença. Ele cumprimentou Kalisteas e acenou para entrarmos no barco.

      — Eles já pensavam que você não vinha, — Kalisteas o repreendeu. — Os meus amigos estavam a começar a ficar nervosos.

      O barqueiro olhou para ele; não parecia gostar de receber ordens.

      — Com este nevoeiro, até para mim, é difícil navegar, — respondeu ele.

      Kalisteas olhou para ele surpreendido.

      — Vamos lá, — ele acrescentou sem rodeios. — Levaremos o dobro do tempo para chegar ao nosso destino nestas condições.

      O barqueiro, com um joelho na madeira lascada, começou a brandir o seu longo remo de cima para baixo, enquanto nós estávamos sentados à sua frente, tentando decifrar algo naquela manhã quente em que a água parecia uma jangada de azeite e somente o som dos pássaros quebrava o inquebrável silêncio do amanhecer.

      Os primeiros raios de sol finalmente começaram a aparecer, penetrando nas nuvens e diminuindo a névoa que começou a deixar-nos ver uma manhã esplêndida naquele vasto pantanal.

      A gruta para a qual estávamos a ir, que à distância parecia um simples buraco, também começou a tornar-se mais visível quando nos aproximámos.

      — O nível da água não baixou o suficiente! — Gritou Kalisteas, apontando com a mão. — Meia caverna ainda está inundada!

      Apenas o topo estava seco. A água alcançou até três quartos da gruta.

      — O pergaminho garante que este é o único mês do ano em que o nível da água torna a caverna visível, — respondi.

      — No mês passado choveu muito. Portanto, o nível da água está mais alto do que o normal.

      — E agora? — O diretor rosnou novamente.

      — Toca a nadar, amigo, — Kalisteas anunciou com um sorriso irónico. A situação parecia diverti-lo.

      O barqueiro deixou-nos bem à entrada do buraco, então só tivemos que pular para a água e nadar uma curta distância dentro da caverna até chegarmos a uma borda rochosa ao fundo dela.

      — Pagaste ao barqueiro? — Perguntou o grego quando chegamos à costa.

      — Não tivemos tempo. Pulámos rapidamente para a água.

      Kalisteas abanou a cabeça várias vezes.

      — Pagaremos no regresso — respondi.

      — Ele esperava o pagamento agora. Quem garante que voltaremos? — Ele acrescentou com raiva e começou a caminhar em direção a um pequeno túnel à sua esquerda.

      — Porque é que ele está furioso? — O professor sussurrou ao meu ouvido alguns metros depois, quando o grego se afastou um pouco.

      — Dá azar não pagar a portagem — respondi, virando a cabeça. — Os gregos são muito supersticiosos.

      Kalisteas levou-nos por um corredor estreito que serpenteava da esquerda para a direita quando começámos a descer e o calor ficou ainda mais sufocante. Chegámos a uma encruzilhada onde dois túneis bloqueavam o caminho e uma pequena cavidade continuava a descer.

      — Guiei-vos até onde sei, — disse Kalisteas em voz baixa. — Agora é a vossa vez.

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