Paixão cruel - Três semanas em atenas. Janette Kenny
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André não tencionava perdê-la de vista até ter total certeza de que estava grávida e de que o filho era dele.
Kira acordou quando já amanhecera e espreguiçou-se lentamente na cama. Há muito tempo que não se sentia tão descansada e suspirou com satisfação. O rangido de uma poltrona de vime fê-la ficar tensa. Não estava sozinha. Tapou-se com o lençol até ao queixo e olhou para a poltrona.
– Bom dia! – cumprimentou André, levantando-se e aproximando-se da cama. Lá, deixou uma caixinha na mesa-de-cabeceira. – Acho que estes testes são de confiança.
– Queres que faça um teste de gravidez? – perguntou ela, com incredulidade.
– Sim. E aqui sugere que se faça logo de manhã.
Coisa que ela sabia perfeitamente, visto que já o fizera ao princípio da sua gravidez, para ser confirmado mais tarde pelo seu médico. Mas se André queria outro teste, fá-lo-ia.
Dez minutos mais tarde, André tinha a confirmação inequívoca da gravidez.
– Continuarás a ser minha convidada até teres o bebé.
– Quererás dizer tua prisioneira.
– Se quiseres chamar-lhe assim – disse ele, dirigindo-se para a porta.
Kira não queria montar uma cena e deixar-se levar pela histeria, portanto, respirou fundo e manteve a calma.
– Está bem, posso trabalhar com o meu portátil daqui sem nenhum problema.
– O teu único trabalho até dares à luz é cuidares de ti e do bebé – disse ele, abrindo a porta.
– Ainda faltam seis meses de gravidez! – protestou ela. – Se não tiver nada para fazer, ficarei louca.
André esboçou um sorriso lento, carregado de insinuação.
– Eu farei com que não te aborreças, ma chérie – garantiu e desapareceu.
Kira levou os punhos às têmporas, com vontade de gritar. Se ficasse ali, acabaria por ser sua amante, mas, quando André descobrisse que era uma Bellamy, tratá-la-ia com o mesmo ódio que sentia por Edouard e Peter. E o seu filho também. Tinha de entrar em contacto com o seu advogado e descobrir quem urdira o plano para que André achasse que era cúmplice de Peter.
Depois de tomar o pequeno-almoço, saiu para dar um passeio pelos arredores da casa. Petit Saint Marc era uma bonita prisão, um bosque tropical exuberante de diferentes tonalidades de verde e rodeado de uma franja de areias brancas. O mar turquesa prolongava-se interminavelmente para o horizonte, salpicado de vez em quando pela passagem de algum barco. Kira caminhou pela areia até à água e chegou até um recife isolado.
Viu um guarda a patrulhar a praia e, mais perto dela, um jovem caribenho estava sobre um montículo a observar o horizonte. Kira seguiu o seu olhar e, não longe da margem, avistou um caiaque que deslizava sobre a água com aparente facilidade. Certamente, era o que o jovem esperava. Ao longe, viu também o inconfundível verde das árvores. Seria outra ilha? É claro. Provavelmente, o caiaque vinha de lá.
Quando o caiaque chegou à margem, o rapaz de pele morena saltou para a água e, com a ajuda do outro jovem, puxou a embarcação até à areia. Depois, os dois rapazes viraram-se e desapareceram no bosque.
Certa de que na outra ilha haveria um telefone para telefonar ao seu advogado, Kira ignorou o pânico que sentia das embarcações pequenas e aproximou-se do caiaque. Com determinação, empurrou-o até à água, dizendo para si que, se um jovem adolescente conseguia manipulá-lo, ela também.
Uma vez na água, segurou com força no remo e afundou-o na água, mexendo-o ritmicamente e fazendo avançar o caiaque para o seu destino. Só virou a cabeça uma vez para olhar para Petit Saint Marc, mas continuou a remar para a frente, para a pequena ilha que se elevava à frente dela, ainda demasiado distante e pequena.
Demasiado tarde, viu as nuvens cinzentas que se aproximavam pelo horizonte com uma velocidade inesperada e o pânico voltou a apoderar-se dela. Seria impossível chegar a terra firme antes de começar a tempestade.
O vento começou a levantar ondas cada vez mais altas e era difícil manter o rumo. Um relâmpago rasgou silenciosamente o céu, como um aviso mudo do que se aproximava. Kira segurou com força o remo, pensando que talvez aquilo fosse um erro que podia pôr em perigo a sua vida e a do seu filho, mas decidida a seguir em frente.
A chuva não demorou a chegar, em forma de uma cortina densa que a cercava várias vezes. Tinha a roupa encharcada e o cabelo colado à cara e às costas. O caiaque encheu-se de água. Cansada, continuou a remar, consciente de que parar significaria o lançamento do caiaque contra as rochas. Mas cada vez tinha menos forças.
Sem saber o que fazer nem para onde se dirigir, à mercê do vento e da chuva, Kira achou ouvir o ruído de um motor. Alguém saíra para o alto-mar com a tempestade! Seria o pai do jovem caribenho que vira na praia? Talvez alguém que pudesse ajudá-la? Arriscou-se a virar a cabeça, com a esperança de ver alguém por perto que pudesse ajudá-la. Ofegou de cansaço, mas verificou, aliviada, que alguém viera ajudá-la.
Era André! Não! Como a encontrara tão rapidamente?
Mas o importante era que estivesse ali. Confiava totalmente nele, mesmo que fosse apenas para a salvar das garras daquela tempestade.
Naquele momento, a natureza pareceu gozar com ela e uma rajada de vento virou o caiaque de costas e a força da água arrancou-lhe o remo das mãos. O vento apagou os seus gritos. E, de repente, o caiaque virou-se. As ondas envolveram-na e arrastaram-na para baixo e, então, viu-se novamente a afogar-se num lugar escuro que lhe arrancava a vida.
O seu pesadelo voltava a tornar-se realidade.
O coração de André parou, embora fosse apenas por um instante, e pensou em matá-la por fazer semelhante loucura, por se pôr em perigo.
Mas, antes de a estrangular com as suas próprias mãos, tinha de a salvar das ondas e de a levar sã e salva para Noir Creux, a ilhota desabitada que era uma reserva natural. Desligou o motor da mota aquática e mergulhou de cabeça no lugar onde a vira desaparecer sob as ondas, contando os segundos, consciente de que o tempo era de vital importância. Procurou no redemoinho e, finalmente, conseguiu tocar numas madeixas de seda. Segurou o cabelo dela e puxou-a com ele para cima, contra a força das ondas.
Saíram juntos para a superfície, sob a chuva e a fúria das ondas e, então, viu o receio e o alívio nos olhos femininos.
Muitas emoções invadiram-no, mas tentou ignorá-lo. Não queria sentir mais do que simples desejo físico por ela. Porque agora, depois da reunião em Martinica com o seu advogado, sabia que Kira era apenas uma oportunista, que passava de um benfeitor para outro, tentando tirar o máximo proveito.
Mas não com ele e muito menos agora que tinha consciência de que era apenas uma encantadora de serpentes que não hesitaria em usar a fraqueza que sentia por ela para tentar destruí-lo.
Passando-lhe um braço pela estreita cintura, nadou para terra firme e, depois do que pareceu uma eternidade, sentiu a areia vulcânica da margem sob os pés. A chuva continuava a cair com força e ele dirigiu-se para a gruta que se abria atrás das rochas. Vendo-se finalmente a salvo da força das ondas, André