Paixão cruel - Três semanas em atenas. Janette Kenny

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Paixão cruel - Três semanas em atenas - Janette Kenny Ómnibus Geral

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Kira olhou para ele, disposta a dizer-lhe, mas os olhos do homem eram tão pretos e turbulentos como uma tempestade invernal. E ela estava demasiado cansada para enfrentar toda a força e a raiva que o imaginava capaz de desencadear.

      – Estou cansada – disse, finalmente. – Foi uma viagem muito comprida.

      – Poderás descansar no barco – disse ele. – Só falta uma hora de viagem.

      A limusina chegou, finalmente, à baía de Flamands Bay, onde estava atracado um enorme barco de cruzeiro entre um bom número de catamarãs e iates que se balançavam languidamente nas águas turquesa das Caraíbas. André saiu da limusina assim que ela parou e deu a volta para lhe abrir a porta. Baixando-se ligeiramente, estendeu-lhe a mão.

      Kira olhou para a mão de dedos compridos e elegantes e pele bronzeada e recordou a sensação daquelas mãos a acariciarem o seu corpo nu e a levá-la várias vezes ao máximo prazer.

      – Não mordo – disse ele, ao vê-la hesitar, num tom não isento de arrogância.

      – Não seria a primeira vez – respondeu ela e viu nos olhos masculinos o mesmo brilho de paixão que ela sentia. Imediatamente, arrependeu-se das suas palavras.

      – Eu não era o único com dentes, ma chérie – defendeu-se ele, segurando na sua mão.

      Kira gostaria de se afastar, mas não conseguiu. Desejou apoiar-se nele, mas não se atreveu. No entanto, o calor da sua pele e o contacto fizeram-na sentir-se segura e protegida e, deixando-se levar, saiu do veículo.

      Que patética! Só uma parva teria fantasias com o homem que a acusava de levar os paparazzi para a sua ilha, um homem que ficara com as acções maioritárias no seu hotel e que a obrigara a voltar à ilha, ao mesmo lugar onde vivera os momentos mais apaixonados da sua vida, onde tinham concebido um filho.

      No molhe, André levou-a até uma pequena lancha atracada no barco. Kira sentiu-se atónita.

      – Por favor, diz-me que não tenho de andar naquela lancha.

      – Oui, é a forma mais rápida.

      Inconscientemente, chegou-se para trás, o que não era fácil, tendo em conta que ele continuava a dar-lhe a mão e tremiam-lhe os joelhos.

      – Não, não consigo.

      Ele olhou para ela com intensidade.

      – Não tens outra alternativa.

      Kira engoliu em seco e fechou os olhos, tentando acalmar a sua ansiedade.

      – As lanchas pequenas dão-me verdadeiro pânico.

      – Não tens nada a recear.

      Aterrada, percebeu que ele falava muito a sério, ignorando, é claro, que ela estivera prestes a morrer num acidente de barco no lago Mead, perto de Las Vegas. Aquela lembrança e as suas consequências devastadoras ainda continuavam vivas na sua mente. Não, não conseguia entrar naquela lancha.

      Escapou bruscamente da mão masculina, contudo, antes de conseguir virar-se e fugir dali, André pegou nela ao colo e entrou na lancha com ela.

      – Calma, ma chérie. Vês aquele iate ancorado no meio da baía?

      Efectivamente. Um iate branco e elegante brilhava como uma pérola contra o céu alaranjado do entardecer. Mas estava muito longe.

      – No Sans Doute estarás perfeitamente – declarou ele, pondo-a no chão, ao mesmo tempo que dava instruções em francês ao jovem que se ocupava do motor. Depois, sentou-se no banco e puxou-a, sentando-a ao seu lado.

      O corpo de Kira tremia com um medo incontrolável e agarrou-se com tanta força ao banco que ficou sem sensibilidade nos dedos. André observava-a com o sobrolho franzido.

      – Mon Dieu, tens mesmo medo.

      Ela assentiu em silêncio.

      André passou-lhe um braço pelos ombros. Com uma mão, traçou círculos tranquilizadores no braço feminino.

      – Acalma-te. Não acontecerá nada.

      Oxalá conseguisse tranquilizar-se. A lancha zarpou a toda a velocidade, elevando-se sobre a água. Em pânico, Kira encostou a cara no peito masculino, sentindo-se novamente presa num pesadelo.

      – Olha para mim. Mon Dieu, olha para mim – insistiu ele.

      Kira encontrou os olhos penetrantes que a observavam, consciente de que os seus reflectiam todo o medo que sentia, mas sem se preocupar com o que André pensava dela.

      – Odeio-te – sussurrou ela.

      – Não esperaria menos de ti – disse ele, baixando a cabeça.

      Kira soube que ia beijá-la e que devia afastá-lo ou, pelo menos, virar a cabeça, mas não o fez. Porque queria que a beijasse com um desespero impróprio dela.

      A boca masculina fechou-se sobre a dela com uma paixão que devorou as suas últimas renitências. Ela tremeu violentamente e recusou-se a reagir durante uma décima de segundo, mas, então, o beijo mudou, tornou-se mais terno, e um tremor muito diferente ao provocado pelo medo arrebatou-lhe toda a capacidade de um pensamento lógico.

      Kira apoiou a palma da mão no peito masculino e sentiu os batimentos do coração de André sob a pele, enquanto ele lhe acariciava as costas com os dedos num baile erótico mais antigo do que o tempo. Sem conseguir nem querer reprimir-se, ela beijou-o com a mesma paixão.

      Ele interrompeu o beijo demasiado cedo, quando ela estava prestes a suplicar que acariciasse todo o seu corpo, o peito, o sexo…

      – Chegámos ao Sans Doute, ma chérie – anunciou ele. – Aqui estarás a salvo.

      Que grande mentira! Desde que ela continuasse a render-se à mais leve das suas carícias, estava em perigo mortal de perder a sua alma e o seu coração com aquele misterioso pirata das Caraíbas.

      André orgulhava-se do controlo rigoroso que tinha sobre si próprio tanto nos negócios como na cama, mas beijar Kira fora um erro. Fizera-o para a ajudar a esquecer o pânico que se apoderara dela de forma tão irracional, mas a verdade era que ele estivera prestes a perder o controlo. Se não tivesse interrompido o beijo, quem sabia até onde teria podido chegar.

      E ela era uma sedutora, uma bruxa marinha e agora era dele.

      Ajudou-a a subir para a coberta do iate, consciente do tremor do seu corpo e da força com que lhe segurava a mão e sentiu o repentino impulso de a abraçar, de a proteger, de fazer amor com ela até dissipar todos os seus receios.

      Como detestava aquele desejo que ameaçava fazê-lo perder o controlo por ela! E como odiava o controlo que Bellamy tinha na sua vida!

      Sem a soltar, conduziu até à sala principal do iate, decorado em cetim de tons dourados e, dali, subiram pela escada em espiral até à sala de observação. Teve-a sempre ligeiramente presa pelas costas, com a mão apoiada na curva da cintura, por um lado, porque gostava do contacto e, por outro, porque sabia que a inquietava e a excitava. E era assim que a queria, excitada e ansiosa por ele.

      André

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