Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém. Maisey Yates
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– Sou.
– Ena, que coincidência – declarou o estranho, que olhava para ele fixamente com uns olhos cor de ónix.
Levantara-se um pouco de vento, mas a noite continuava limpa e, no céu, brilhava a lua cheia que o impulsionara a queimar a sua frustração com um dos seus passatempos favoritos.
O chefe do grupo dirigiu-se a um dos seus homens. Desmontou devagar e aproximou-se, até parar à frente de Zachim com uma postura desafiante. Ele manteve a expressão impassível, pensando que, se iam lutar com ele um a um, sairia a ganhar.
Então, os outros dezoito desmontaram também.
Muito bem, aquilo já era demasiado. Era uma pena que as suas armas estivessem no carro.
Farah Hajjar acordou, de repente, a meio da noite. Nunca dormia bem com a lua cheia. Era como um mau presságio para ela. A mãe morrera numa noite de lua cheia. Não conseguira adormecer naquela noite e chorara até ficar sem forças. Já não tinha doze anos, mas não o superara. Tal como não vencera o seu medo dos escorpiões… Algo difícil quando se vivia num deserto onde havia escorpiões às centenas.
Levantou-se na cama e, ao longe, ouviu um cavalo a relinchar.
Interrogou-se se o pai estaria de regresso de uma das suas reuniões de uma semana para discutir o futuro do país. Depois da morte do horrível rei Hassan, era da única coisa que falava. Disso e do seu temor de que o príncipe déspota Zachim governasse como o pai. O príncipe tivera uma vida de conto de fadas antes de voltar a Bakaan há cinco anos, se o que as revistas cor-de-rosa que ela lia contavam fosse verdade. Por isso, suspeitava que o pai tinha razão sobre o herdeiro ao trono. E isso seria mau para o povo.
Bocejando, ouviu o galope de mais cavalos e questionou-se o que estaria a acontecer. Se o pai tivesse de se ausentar mais um dia ou dois, era quase melhor. A verdade era que, por muito que ela tentasse, nunca conseguia agradá-lo. Para ele, as mulheres só serviam para tecer e ter filhos. De facto, casara-se pela segunda vez com a intenção de ter um filho varão e repudiara a esposa quando não o conseguira.
O pai não entendia o desejo de independência de Farah e ela não compreendia porque é que ele não aceitava que também tinha cérebro e sabia como usá-lo. Para cúmulo, estava decidido a casá-la, algo que ela não queria. Na sua opinião, havia dois tipos de homens no mundo: os que tratavam bem as esposas e os que não. Mas nenhum deles apoiaria a independência total da esposa, nem a sua felicidade.
Farah sabia que o pai agia guiado pela crença de que as mulheres precisavam da proteção de um homem. E ela ficara sem recursos para lhe demonstrar o seu erro.
Com um suspiro, virou-se para o outro lado, recordando como o amigo da infância pedira permissão para a cortejar. Amir era o braço direito do pai, por isso pensava que era o melhor partido para a filha. Infelizmente, Amir era igualmente machista e ela não queria casar-se com ele.
Como castigo, o pai proibira-a de receber mais revistas ocidentais, pois culpava-as das suas ideias loucas. A verdade era que Farah só queria ser diferente. Queria fazer mais do que trazer material educativo de contrabando para a aldeia. Queria mudar a situação das mulheres em Bakaan e defender os seus direitos. E sabia que não teria nenhuma possibilidade de o conseguir se se casasse.
O mais provável era que não tivesse nenhuma oportunidade em qualquer caso, mas isso não a impedia de tentar e, de vez em quando, ultrapassar os limites que o pai marcava.
Frustrada e irritada, pressentindo que algo terrível estava prestes a acontecer, acomodou-se na almofada e perdeu-se num sono inquieto e pouco reparador.
Uma sensação de inquietação acompanhou-a durante os dias seguintes, até a amiga chegar a correr até ela quando estava a limpar a manjedoura dos camelos e tudo piorar.
– Farah! Farah!
– Calma, Lila – tranquilizou-a Farah, deixando a pá de lado. – O que aconteceu?
Lila tentou recuperar o fôlego.
– Não vais acreditar, mas Jarad acabou de voltar do acampamento secreto do teu pai e… – começou a jovem e baixou o tom de voz, embora não houvesse mais ninguém por ali, para além dos camelos. – Diz que o teu pai sequestrou o príncipe de Bakaan.
Capítulo 2
Sentindo-se culpada por ter estado a desfrutar da ausência do pai, Farah correu para os estábulos e montou o cavalo branco. Se o que Lila dizia era verdade, o pai podia enfrentar a pena de morte por essa temeridade.
Como se conseguisse perceber o seu desassossego, o Raio de Lua relinchou e levantou a cabeça.
– Calma – tranquilizou-o Farah, embora precisasse mais de se acalmar do que o cavalo. – Corre como o vento. Tenho um mau pressentimento.
Pouco depois, entrou no acampamento secreto, desmontou e entregou o cavalo a um dos guardas para que lhe desse água. Estava a escurecer e, nas tendas, estavam a fazer-se os preparativos para passar a noite. De um dos lados do acampamento estava o deserto e, do outro, as montanhas, banhadas pelos últimos raios do entardecer.
No entanto, naquele dia, não tinha tempo para se deleitar com a sua beleza, pensou Farah. Estava muito nervosa, rezando para que Lila se tivesse enganado.
– O que estás a fazer aqui? – perguntou Amir, num tom seco e com o rosto tenso, ao vê-la a aproximar-se da tenda do pai.
– E tu? – replicou ela, cruzando os braços num gesto desafiante. Não estava disposta a deixar-se intimidar pelo seu antigo amigo da infância.
– Isso não é um assunto teu.
– Se o que me disseram é verdade, é – contradisse ela e respirou fundo. – Por favor, diz-me que não é verdade.
– A guerra é coisa de homens, Farah.
– Guerra? – repetiu ela e praguejou como um homem teria feito, enfrentando o olhar de desaprovação de Amir. – Portanto, é verdade – sussurrou. – O príncipe de Bakaan está aqui?
Amir cerrou os dentes.
– O teu pai está ocupado.
– Está lá dentro?
Farah referira-se ao príncipe, mas ele não entendeu.
– Não pode ver-te agora. As coisas são… Delicadas.
Uma forma muito subtil de o descrever, pensou ela. A tensão podia sentir-se no acampamento.
– Como aconteceu? Sabes que o meu pai é um homem velho e amargurado. Era a tua responsabilidade cuidar dele.
– Continua a ser o chefe de Al-Hajjar.
– Sim, mas…
– Farah? És tu? – chamou o pai, da tenda.
Ela sentiu um nó no estômago. Por muito machista e autoritário que fosse, era a única pessoa que tinha no mundo e