ANTIAMERICA. T. K. Falco
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“Ela já não é minha namorada.”
“Estás melhor assim. És boa demais para ela. Se ela te voltar a arranjar problemas, avisa-me. Mando a polícia atrás dela.”
“Não preciso da tua ajuda para lidar com ela. Não precisas de outra desculpa para te meteres em problemas.”
Alanna apontou para o corredor à esquerda do bar que levava à sala VIP. “Posso usá-la, certo?”
Natalya revirou os olhos. “Podes ficar com o quarto até às nove.”
“Obrigada. O meu amigo deve estar aí a chegar.”
“Nem um minuto mais. O meu chefe vem cá por volta das dez. Estarei metida em problemas se ele te vir lá. Ele é muito rigoroso.”
“Rigoroso? Andas a traficar mesmo debaixo do nariz dele.”
Natalya apoiou as duas mãos no balcão. Ele não sabe porque eu sou cuidadosa. Devias tentar um dia destes. Trouxeste o dinheiro?”
Alanna colocou a mão esquerda no balcão. Natalya fez deslizar um saco de plástico em troca das notas dobradas. Ela levou o dinheiro ao bolso sem se preocupar em contar. As drogas recreativas eram destinadas aos clientes que a espancaram enquanto ela trabalhava no bar. Alanna já não era mais uma cliente habitual, mas ambas ainda se protegiam uma à outra.
Alanna pô-la em contacto com fornecedores baratos na Zona Fantasma — o site do mercado negro onde ela vendia os seus dados de identidade. Natalya mantinha-a informada sobre Bogdan e os seus comparsas da máfia russa, vendendo-lhe ocasionalmente um saco de erva sem cobrar nada e protegia-a nas suas escolhas irracionais de vida. Desta vez, Alanna estava sem energia para lutar.
Guardou o saco no bolso antes de falar ao ouvido de Natalya. “Se o Bogdan aparecer, avisa-me. Fujo pelos fundos.”
“Vou ficar de olho nele. Mas não demores. É melhor não estares aqui quando isto encher.”
Alanna piscou o olho antes de pegar o copo do balcão. “Fico a dever-te uma. Liga-me um dia destes. Agora que estás solteira, podemos ficar no teu sofá a ver a Netflix.”
Natalya sorriu timidamente. Tinha razão em estar preocupada. Não só por ter mentido a Bogdan. Ela era a competição dele. Ele dirigia uma empresa de drogas para os seus chefes russos. Búlgaros. Rijos. Um sociopata com um temperamento mil vezes pior que o da mãe de Alanna — tirando os gritos e berros. Todo queimado à superfície, nos seus olhos e carranca quase permanente. Não era alguém com quem se quisesse estar quando entrou em erupção.
Bogdan era a razão pela qual Alanna mostrou a identificação de Jessica à porta. Ele pode não se lembrar que ela existiu. Ou pode matá-la à primeira vista. É melhor errar por precaução. Ela não teria cá vindo, exceto por ter de assumir que a FCCU vigiava cada movimento seu. Qualquer pessoa com quem ela se encontrasse em sua casa ou na deles, levantaria a suspeita dos federais. O Feliz Acaso serviu de lugar público para onde ela poderia ir com um pouco de privacidade.
A iluminação fluorescente do clube no teto guiou-a pelas casas de banho até à sala VIP. Um cheiro forte a purificador de ar inundou as suas narinas quando ela entrou pela porta. A câmara acendeu-se no mesmo néon roxo foleiro do exterior. Um sofá circular de couro vermelho com almofadas de tecido ocupava metade do quarto. Cadeiras de couro a combinar e duas mesas pretas cobriam ambas as paredes. Cortinas escarlates finas penduradas nas bordas do sofá, com uma mesa preta no centro.
Após colocar a bebida e o pacote de Natalya na mesa central, deixou-se cair no sofá. Retirou alguns de erva do saco de plástico. A erva era outra das razões para ela ter escolhido este local para a reunião. A FCCU não reagiria bem se a visse comprar a um traficante de rua. Pegou no rolo de papel que tinha na bolsa, em seguida, colocou-o na mesa ao lado dos sacos de erva antes de meter mãos à obra.
Minutos depois, foi interrompida por uma mensagem de Brayden no seu pré-pago. Ele estava a reclamar do seu atraso devido ao trânsito e perguntou-lhe por que ela escolheu encontrar-se com ele em South Beach. Mal sabia ele o problema em que ela se estava a meter para mantê-lo fora do alcance dos federais. Eles já andavam a caçar uma pessoa que era importante para ela. Nem pensar que iria pôr o seu melhor amigo no radar deles.
Quando acabou de enrolar, acendeu uma das pontas com o isqueiro para acalmar os nervos. Normalmente só fumava nos seus dias de maior ansiedade. Se automedicar-se sempre que a sua vida se descontrolava fazia dela uma viciada, paciência. Não fazia muito tempo que ela estivera viciada em drogas bem piores. Outra característica que herdou do pai.
Nos seus últimos anos de vida, esteve propenso a revelar a sua alma enquanto estava sozinho com ela e embriagado. Quase todos os dias lhe contava o abuso que sofreu por parte do seu chefe e colegas de trabalho ou a última bronca da sua mãe. Mas na sua cabeça ficou-lhe marcada uma confissão que se destacou das outras: “Tu és minha filha. Eu amo-te mais do que tudo no mundo. Mas às vezes gostaria que nunca tivesses nascido.”
Após uma profunda inalação, ela deitou-se no sofá com o seu grito de ajuda a marinar no seu cérebro. Quão diferentes teriam sido as suas vidas se ela tivesse entendido a dor dele como fez agora? Direcionou a sua atenção para os dois charros que guardara para Brayden. Com alguma sorte, ele compartilharia o hábito do seu pai de confessar sob a influência de drogas.
Se estivesse disposto a partilhar o paradeiro de Javier voluntariamente, já lhe teria dito. A sua erva favorita deveria dissipar qualquer dúvida. Não era a sua primeira tentativa de arrancar informações a alguém que estava pedrado. O truque era apertar os botões certos em vez de interrogar. Dar-lhe desculpas para confessar.
“Tenho algo para te dizer.”
Alanna girou a cabeça para a voz em frente ao sofá. Brayden estava acima dela com uma camisa vermelha desbotada e calções cáqui. Ela abriu um sorriso para a carranca profunda no rosto dele, em seguida, inclinou a cabeça em direção à mesa central para que ele pudesse servir-se. “Primeiro senta-te e relaxa.”
Ele abanou a cabeça antes de cair do outro lado do sofá. Após pegar num dos charros, apontou para ela com a mão livre. Alanna tirou o isqueiro do bolso e deu-lho. Após acender o charro e dar uma passa, ele examinou a peça retangular lisa de prata. “Fixe.”
“Gostas?”
Ele acenou com a cabeça antes de lhe atirar o isqueiro de volta. “É a única bugiganga chique com que já te vi por aí.”
Ela levantou-o em direção da luz antes de enfiá-lo no bolso. “O resto do meu brilho eu perdi ou penhorei.”
“Herança de família?”
“Não. Roubei.”
Ele exalou uma nuvem de fumo cinzento. “Por que não me surpreende? Enfim, tenho uma mensagem do AntiAmerica.”
“Do AntiAmerica?”
“Eles querem saber porque invadiste o apartamento do Javier.”
Alanna sentou-se no seu assento. “Onde é que eles ouviram isso?”
“Foi por isso que os federais te algemaram ontem, não foi?”
“Mas eu não disse a ninguém.”