Ubirajara: Lenda Tupi. José Martiniano de Alencar

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Ubirajara: Lenda Tupi - José Martiniano de Alencar страница 3

Ubirajara: Lenda Tupi - José Martiniano de Alencar

Скачать книгу

Tupan e desprezar a vingança dos araguaias.

      II

      O GUERREIRO

      Retumba a festa na taba dos araguaias.

      As fogueiras circulam a vasta ocara e derramam no seio da noite escura as chamas da alegria.

      Toda a tarde o trocano reboou chamando os guerreiros das outras tabas á grande taba do chefe.

      Era a festa guerreira de Jaguarê, filho de Camacan, o maior chefe dos araguaias.

      No fundo da ocara prezide o conselho dos anciãos, que decide da paz ou da guerra, e governa a valente nação.

      Os anciãos, sentados no longo giráu, contemplam taciturnos a geração de guerreiros que elles ensinaram a combater, e têm saudades da passada gloria.

      Suspenso em frente delles está o grande arco da nação araguaia, ornado nas pontas das penas vermelhas da arara.

      É a insignia do chefe dos guerreiros, a qual Camacan, pai de Jaguarê, conquistou na mocidade e ainda a conserva, pois ninguem ouza disputal-a.

      Eil-o, o velho chefe, embaixo do arco, que sua mão tantas vezes brandiu na guerra. Em pé, arrimado ao invencivel tacape, elle dirije a festa.

      De um e outro lado da vasta ocara, está a multidão dos guerreiros, colocados por sua ordem; primeiro os chefes das tabas; depois os varões; por ultimo os moços guerreiros.

      Vêm depois os jovens caçadores que já deixaram a oca materna e estão impacientes de ganhar por suas proezas a honra de serem admitidos entre os guerreiros.

      Mas para isso têm de passar pelas provas, e sua juventude não lhes consente ainda a robustez, que tamanho esforço demanda.

      Todos invejam a gloria de Jaguarê que hontem era o primeiro entre elles, e hoje ali está disputando a fama aos mais valentes guerreiros.

      Por detraz da estacada apinham-se as mulheres, que segundo o rito patrio não podem ser admitidas nas festas guerreiras.

      De lonje acompanham silenciozas com os olhos, as velhas aos filhos, as espozas aos seus guerreiros, e as virjens aos noivos.

      Exultam quando ouvem celebrar as façanhas dos seus; mas não ouzam murmurar uma palavra.

      Entre ellas está Jandira, a doce virjem, cujos negros olhos não se cansam de admirar Jaguarê, seu futuro senhor.

      Já lhe tarda o momento de ver aclamar guerreiro ao joven caçador, para ter a felicidade de servil-o como escrava na paz, e acompanhal-o como espoza ao combate.

      No centro da ocara ergueu-se Jaguarê.

      Defronte delle, Pojucan, no corpo que a ferida não abateu, mostra a grande alma, serena em face dos inimigos.

      Camacan troou a inubia para ordenar silencio e o filho começou:

      – Guerreiros araguaias, ouvi a minha historia de guerra.

      «Depois que Jaguarê sofreu as provas do valor, partiu para conquistar um nome famozo.

      «Deixando a taba, viu o falcão negro que despedia o vôo para as aguas sem fim, e Jaguarê disse:

      «O falcão negro é o valente guerreiro dos ares; elle será a fama do guerreiro araguaia que atravessará as nuvens e subirá ao céu.

      «Então Jaguarê marcou o vôo do falcão negro e seguiu por elle.

      «O sol despediu-se e voltou; uma, duas, tres vezes. No ultimo sol Jaguarê encontrou um guerreiro da nação tocantim, senhora do grande rio.

      «Guerreiros araguaias, quereis saber qual foi o campeão que Tupan enviou a Jaguarê para dar-lhe o nome de guerra?

      «Elle aí está diante de vós.

      «É o grande Pojucan, o feroz matador de gente, chefe da tribu mais valente da poderoza nação dos tocantins, senhores do grande rio.

      «Vós que o tendes aqui prezente, vêde como é terrivel o seu aspeto, mas só eu que o pelejei conheço o seu valor no combate.

      «O tacape em sua mão possante é como o tronco do ubiratan que brotou no rochedo e creceu.

      «Jaguarê, que arranca da terra o cedro gigante, não o pôde arrancar de sua mão; e foi obrigado a despedaçal-o.

      «Os braços de Pojucan, quando elle os estende na luta, não ha quem os vergue; são dois penedos que saem da terra.

      «Seu corpo é a serra que se levanta no vale. Nenhum homem, nem mesmo Camacan, o póde abalar.

      «Pojucan era o varão mais forte e o mais valente guerreiro que o sol tinha visto até áquelle momento.

      «Foi este, guerreiros araguaias, o heróe que ofereceu combate ao filho de Camacan; e Jaguarê aceitou, porque logo conheceu que havia encontrado um inimigo digno de seu valor.

      «Elle vos contempla, guerreiros araguaias. Se alguem duvida da palavra de Jaguarê e da força do guerreiro tocantim, chame-o a combate e saberá quem é Pojucan.»

      O chefe tocantim lançou um olhar ameaçador á multidão dos guerreiros; mas nenhum ouzou aceitar o dezafio.

      Pojucan alçou a mão em sinal de que dezejava falar; todos escutaram com respeito o heróe, ainda maior na desgraça.

      – Guerreiros araguaias, ouvi a voz de Pojucan, vosso inimigo, que afronta as iras dos fortes e despreza a vingança dos fracos.

      «Pojucan, guerreiro chefe da grande nação tocantim, jámais encontrou guerreiro que rezistisse á força de seu braço invencivel.

      «Mas Tupan, cansado de ouvir celebrar em todas as festas o nome de Pojucan, como vencedor, emprestou sua força a Jaguarê, o maior guerreiro que já pizou a terra.

      «Eu que senti o impeto de sua corajem, posso dizer-vos que só o sangue tocantim é capaz de gerar um guerreiro tão poderozo.

      «Foi alguma virjem araguaia que vagando pela floresta encontrou Pojucan, e trouxe no seio fecundo a alma do grande guerreiro.

      «Seu braço é como o corisco do céu; e a sua força como a tempestade que dece das nuvens.»

      Calou-se Pojucan; e Jaguarê continuou o seu canto de guerra:

      «Quando a sombra começava a decer da crista da montanha, Pojucan e Jaguarê caminharam um contra o outro.

      «Toda a noite combateram. O sol nacendo veiu achal-os ainda na peleja, como os deixára; nem vencidos, nem vencedores.

      «Conheceram que eram os dois maiores guerreiros, na fortaleza do corpo, e na destreza das armas.

      «Mas nenhum consentia que houvesse na terra outro guerreiro igual; pois ambos queriam ser o primeiro.

      «Foi então que o chefe tocantim ganhou na corrida a lança de duas pontas, que Jaguarê havia fabricado.

      «Tres vezes seu punho robusto a brandiu, e tres vezes ella escapou-lhe da mão, como a serpente das garras do gavião.

      «Mais

Скачать книгу