Tess: O Voo Das Valquírias. Andres Mann

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Tess: O Voo Das Valquírias - Andres Mann

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em bancos altos e duas bandeiras do Iraque atrás. Um promotor sentou-se abaixo na plataforma junto a seus secretários, cujo trabalho era relatar o processo. Advogados ocuparam as três fileiras atrás da jaula. As famílias dos acusados não puderam entrar na sala do tribunal.

      Fonte: deathpenaltynews.blogspot.com

      Detentos do ISIS na prisão de Mossul

      Guardas trouxeram um homem chamado Raham para sala do tribunal. Ele ficou de pé de frente para os juízes enquanto um defensor público sentou-se atrás dele e fez anotações. O acusado leu um pequeno cartaz acima da cabeça dos juízes impresso com parte de um verso corânico:

      'Se julgas, julga entre eles com justiça.'

      Um dos juízes levantou-se e leu as acusações contra o homem. Então, o juiz olhou para o homem desarrumado a sua frente e lhe fez uma pergunta simples.

      – Você veio a Mossul da Turquia para se juntar ao Daesh e assassinar cidadãos iraquianos?

      – Não, vossa excelência. Eu vim procurar trabalho como encanador. O Daesh me forçou a lutar.

      – Na condição de membro do Daesh, você matou cidadãos iraquianos?

      – Tive que seguir ordens. Eu me arrependo de tudo.

      O juiz levantou uma de suas sobrancelhas e pegou uma caneta. Sequer olhou para o homem quando proferiu:

      – O réu é considerado culpado e sua sentença será a morte.

      Assinou a sentença e disse:

      – Próximo.

      O julgamento do homem durou menos de dez minutos. Os guardas o arrastaram para fora da sala do tribunal e, uma hora depois, eles o levaram para o enforcamento onde foi pendurado. Naquele dia, 36 membros do ISIS seguiram-no no cadafalso.

      Os homens estavam entre centenas de estrangeiros detidos no Iraque acusados de terrorismo. Os acusados, homens, mulheres e crianças vindos da Turquia, Ásia, Europa, África e até dos EUA.

      Mais de 6.000 homens e algumas mulheres estão no corredor da morte e, de acordo com as Nações Unidas, suas nacionalidades não foram reveladas. Muitos outros militares estavam sob custódia, incluindo pelo menos uma dúzia de europeus.

      Tess e Jake não queriam mais ver aquilo e foram para Paris. Uma justiça tão severa foi difícil de testemunhar, mas eles entenderam que as ações extremas do ISIS fizeram com que a retribuição fosse inevitável.

      2

      Entrar em um acordo

      No dia seguinte, a fumaça de cigarro permanecia nos corredores do tribunal iraquiano. Os guardas prisionais passavam a fumaça entre eles, aos advogados e até os acusados presos em jaulas no fim do corredor. Os guardas e oficiais de justiça permitiram que as famílias dos detentos trocassem beijos furtivos e chorosos através das grades amarelas. Porém, os guardas não tinham qualquer simpatia pelos acusados.

      Um oficial de justiça olhou para os prisioneiros com hostilidade. O Daesh matou seu irmão, um major da polícia, durante a luta para reconquistar Mossul. – E agora eu tomo conta daqueles que mataram ele – disse o homem, apontando para seus olhos, em um gesto árabe de dever e abnegação. – Eu condeno vocês – ele disse aos prisioneiros.

      Naquele dia, os juízes ouviram mais nove casos alegando uma variedade de atrocidades e mortes de cidadãos inocentes.

      Os guardas conduziram para dentro da sala duas irmãs turcas. O promotor acusou seus maridos de ter agentes administrativos trabalhando para o Estado Islâmico em Tal Afar. Ao serem questionadas pelo juiz, as mulheres afirmaram ser donas de casa. Disseram também que seus maridos saíram do ISIS. O advogado designado pela justiça não discutiu os fatos e somente pediu perdão por suas clientes serem mulheres. Os juízes deliberaram, então, o juiz chefe ordenou que o oficial de justiça trouxesse as mulheres para diante dele. Ele disse às irmãs para dar um passo à frente e as sentenciaram à prisão perpétua.

      Em seguida, os guardas arrastaram seis mulheres para a sala do tribunal. O promotor as acusou de ajudarem integrantes do ISIS a instalar explosivos e também de lutarem contra tropas iraquianas.

      Fonte: deathpenaltynews.blogspot.com

      Mulher integrante do ISIS sendo julgada em Mossul

      O juiz olhou para o grupo e perguntou:

      – Estas alegações são verdadeiras? Vocês mataram iraquianos? Ele não esperou a resposta.

      – Sentencio vocês à pena de morte – ele proclamou.

      As mulheres suspiraram e duas delas choraram enquanto os oficiais de justiça as arrastavam para fora da sala do tribunal.

      O oficial de justiça chamou dois cidadãos franceses, Hassan e Yakout. O juiz nem se deu ao trabalho de ler as acusações.

      – Eu os condeno à forca – disse o juiz, sem tirar os olhos dos papeis diante dele.

      Há pouco recurso para os condenados. Os países europeus deram poucos sinais de que desejavam recuperar seus cidadãos.

      Os oficiais empurraram os homens para fora do tribunal, porém, em vez de levá-los para o corredor da morte, eles seguiram para uma sala privada. Um homem vestido de forma elegante e um advogado iraquiano estavam sentados diante de uma mesa, fumando cigarros e bebendo chá.

      Os guardas forçaram os dois prisioneiros a se sentarem e amarraram suas mãos para trás. Logo em seguida, saíram.

      Um dos visitantes baforou e olhou para os dois reféns já conformados com seus destinos. Falou com eles em francês.

      – Messieurs, pelo que entendi vocês são franceses de origem de argelina. Correto?

      Hassan viu um fio de esperança.

      – Você é da embaixada francesa? Vai nos resgatar?

      – Não tenho tanta certeza disso, até porque os iraquianos provaram que vocês cortaram umas cabeças em nome do ISIS.

      – Isso é mentira. Eles nos torturaram para confessarmos isso.

      – Não importa – disse o francês enquanto matava uma mosca e apagava o cigarro no cinzeiro. – Só vejo uma solução para vocês escaparem da execução.

      Hassan esperou por um minuto. Ele olhou para seu colega condenado e virou-se para o francês.

      – Creio que você tem uma proposta que vai nos salvar do enforcamento. O que precisamos fazer?

      – Não é complicado – o francês respondeu. – Eu vou explicar e se vocês concordarem em fazer o que eu sugerir, voamos em um avião particular de volta para a França.

      – Por favor, diga-nos o que você quer.

      O francês falou por dez minutos e os homens concordaram com os termos apresentados.

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