O último comboio para a liberdade. Meg Waite Clayton

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O último comboio para a liberdade - Meg Waite Clayton HARPERCOLLINS PORTUGAL

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parecia intacto. O pianista até se dera ao trabalho de voltar a fechar a tampa, algo de que ele próprio costumava esquecer-se com frequência. Ao aproximar-se, encontrou outra desordem de páginas espalhadas. Entre todas elas, pisada até quase ser ilegível, havia uma página em que se lia um título escrito à máquina: «O PARADOXO DO MENTIROSO.»

Segunda parte A ÉPOCA INTERMÉDIA MARÇO DE 1938

      DEPOIS DE SE RECUSAR A DANÇAR

      Truus espreitou para a escuridão do quarto da pequena pensão de Hamburgo no momento em que Klara van Lange, que acordara com as vozes ou que talvez tivesse passado a noite em branco, perguntava que barulho era aquele.

      — Os rapazes do bar estão no terraço que há por baixo da nossa janela, a cantar.

      — Às quatro da manhã?

      — Acho que querem fazer-te uma serenata, querida.

      Truus deixou cair a cortina e voltou a deitar-se na cama.

      Minutos mais tarde, ouviu-se o despertador. Ambas as mulheres se levantaram e, sem acender a luz, tendo em conta os rapazes lá fora, tiraram a camisa de noite e começaram a vestir-se. Truus sentiu que Klara olhava para ela enquanto acabava de abotoar os colchetes do espartilho e escolhia as meias. Era incómodo sentir-se observada seminua, mesmo na escuridão. De dentro. De fora.

      — O que se passa, Klara? — perguntou, com a meia na mão.

      Klara van Lange desviou o olhar e fixou-o na janela.

      — Achas que estaríamos a fazer isto se tivéssemos filhos?

      Truus pôs a meia por cima dos dedos e puxou-a para o joelho e para a coxa. Prendeu-se um pouco entre as duas alianças entrelaçadas do anel do dedo do meio, mas não se rompeu. Prendeu as meias com cuidado enquanto, lá fora, os rapazes se rendiam e se iam embora. Passados uns minutos, Truus acenderia a luz ou Klara fá-lo-ia.

      — Ainda és jovem, querida — comentou Truus, com doçura. — Ainda tens tempo.

      DECISÕES

      Os elétricos à frente da estação de Hamburgo estavam tão silenciosos como na manhã anterior e as vias de baixo estavam igualmente vazias. Truus e Klara van Lange voltaram a atravessar as portas por baixo daquela suástica horrível, desceram os mesmos degraus sujos até à mesma plataforma suja e sacudiram o mesmo banco com um lenço limpo. A única coisa limpa que Truus tinha naquela manhã, visto que não tivera o atraso em conta ao fazer a mala. Voltaram a deixar as malas de viagem junto delas e esperaram. Ainda não amanhecera.

      O senhor boneco de neve aproximou-se e, sem se virar nem parar, sussurrou: «O comboio está trinta minutos atrasado, mas o sua encomenda chegará antes de partir.»

      Quando o comboio começou finalmente a ouvir-se ao longe, duas supervisoras — uma mulher idosa de cabelo grisalho e outra jovem com um bebé ao colo — conduziram um grupo de crianças pelas mesmas escadas por onde Truus e Klara tinham descido.

      Truus pediu à mais jovem para apresentar as crianças enquanto a mulher do cabelo grisalho ia riscando nomes de uma lista e entregava todos os papéis a Klara. Acariciando-as uma a uma — o toque era muito importante para estabelecer confiança —, Truus disse-lhes que podiam chamar-lhe «Tante Truus».

      Depois de os trinta nomes terem sido riscados, a supervisora mais jovem lançou um olhar nervoso para a mais velha e disse: «Adele Weiss.» Entregou o bebé a Truus e afastou-se a correr. O bebé ficou ao colo de Truus e começou a chorar e a gritar: «Mamã! Mamã!»

      — E os seus papéis? — perguntou Klara à supervisora mais velha.

      Truus tentou acalmar a menina enquanto o comboio parava na estação.

      — Não podemos levar uma menina sem papéis — sussurrou Klara.

      Truus apontou com a cabeça para o agente nazi que acabara de sair do comboio.

      — Senhora Van Lange, acho que é a sua vez — declarou. — Eu tenho ajuda suficiente aqui para pôr as crianças no comboio.

      Klara, depois de lançar um olhar hesitante para a menina que Truus tinha ao colo, pegou no bilhete e aproximou-se do nazi, que fixou o olhar na barriga das suas pernas e nos seus tornozelos, visíveis por baixo da saia.

      — Entschuldigen sie, bitte — replicou. — Sprechen sie niederländisch?

      A julgar pela cara do revisor, parecia que Helena de Troia abandonara um banco da estação para se aproximar e conversar com ele.

      Com a pequena Adele Weiss na sua anca, Truus deu a mão a outro menino e dirigiu-se para o vagão. O nazi levantou o olhar brevemente antes de devolver a atenção a Klara van Lange. Truus entrou no comboio e a supervisora começou a ajudar as crianças a entrar atrás dela.

      — Obrigada — agradeceu a mulher. — Estas decisões que temos de tomar…

      — Pôs a vida de trinta crianças em perigo, crianças sem pais, por uma criança cuja mãe a ama — redarguiu Truus. — Depressa, vamos acabar de as pôr no comboio.

      Quando a supervisora lhe entregou a última criança, sussurrou:

      — Está a desmerecer a minha irmã, Frau Wijsmuller. Poria a vida da sua filha em perigo, para além da sua própria.

      * * *

      Quando o comboio abandonou a estação com as crianças a bordo, Klara van Lange começou a chorar.

      — Ainda não, querida — disse Truus. — Ainda falta a inspeção na fronteira.

      Truus pensou em dizer-lhe que era demasiado jovem e bonita, demasiado memorável, para lhe pedir para voltar a fazer aquilo, mas, embora houvesse voluntárias suficientes para ajudar os refugiados na Holanda, as que estavam dispostas a atravessar a fronteira eram mais escassas.

      — Aconselharia que te habituasses a isto, mas eu nunca consegui — replicou. — Questiono-me se alguém se habituará.

      Entregou-lhe a pequena Adele Weiss.

      — Pega na menina. Vai fazer com que te sintas melhor. É esse tipo de menina.

      As outras crianças estavam sentadas em silêncio. Supunha que aquilo se devesse à surpresa.

      — O meu pai costumava dizer que a coragem não é a ausência de medo — disse a Klara —, mas o facto de seguirmos em frente, apesar do medo.

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