Legado de paixões - O homem que arriscou tudo. Michelle Reid

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Legado de paixões - O homem que arriscou tudo - Michelle Reid Tiffany

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em investigar? Zoe pensou com amargura que o exclusivo lhe daria uma promoção ou um trabalho melhor num dos grandes jornais.

      – É estranho – disse Susie, recostando-se na cadeira enquanto percorria com o olhar a cozinha que servia de salão.

      – O quê? – perguntou Zoe, pestanejou para conter as lágrimas.

      – Que sejas a neta de um empresário grego multimilionário, mas vivas num apartamento modesto ao lado do meu no centro de Islington.

      – Não penses que isto vai ser um conto de fadas na vida real – levantando-se da mesa, Zoe levou as duas chávenas de café para o lava-loiça. – Nem sou nem quero ser a Cinderela. Theo Kanellis – Zoe nunca pensara nele como o seu avô, – não significa nada para mim.

      – Mas nesta carta diz que Theo Kanellis quer conhecer-te – indicou Susie.

      – A mim não, a Toby.

      Zoe virou-se e cruzou os braços. Perdera peso durante as últimas semanas e o seu cabelo, normalmente brilhante e lustroso, pendurava mortiço de um rabo-de-cavalo que enfatizava a tensão das suas feições. Umas sombras profundas rodeavam os seus olhos azuis e os seus lábios, que tinham sempre um sorriso fácil, tinham adotado uma curva descendente que só se alterava quando pegava em Toby ao colo.

      – Esse homem repudiou o seu próprio filho! Nunca quis conhecer a minha mãe nem a mim. A única razão por que agora se mostra interessado é porque está envergonhado por a imprensa estar a falar disso. E suponho que é porque tenciona moldar Toby para o transformar num clone de si próprio, já que com o meu pai não o conseguiu – Zoe respirou fundo. – É um homem frio, cruel e déspota e não tenciono deixar Toby nas suas mãos!

      – Ena! – exclamou Susie. – Vê-se que guardas ressentimento.

      «Nem imaginas», pensou Zoe, com amargura. Com um apoio mínimo por parte do seu pai, o filho de Theo não teria tido de passar vinte e três anos a mimar e a reparar o antigo desportivo com o qual fugira para Inglaterra. Só durante as noites recentes, quando acordava a visualizar o acidente, é que se apercebera de que o seu pai se agarrava àquele carro estúpido porque era a única lembrança que lhe restava do seu lar familiar. Se o seu avô fosse um homem menos cruel, possivelmente, só possivelmente, o seu pai teria levado a sua mãe ao hospital num carro mais novo e seguro, que os teria protegido do impacto que lhes teria salvado a vida. Ela continuaria a estudar a sua pós-graduação em Manchester e Toby estaria a dormir no quarto que os seus pais tinham preparado para ele com tanto amor.

      – Aqui diz que às onze e meia chegará o seu representante – disse Susie, referindo-se ao conteúdo da carta. – Deve estar quase a chegar.

      Seria apenas mais uma das dezenas de pessoas que tinham entrado e saído da vida de Zoe nas últimas semanas: médicos, parteiras, assistentes sociais de centenas de departamentos diferentes que queriam assegurar-se de que estava em condições de cuidar do seu irmão, cada um deles com um questionário interminável sobre a sua vida privada. Claro que deixaria a universidade para cuidar de Toby. É óbvio que estava disposta a trabalhar se o salário incluísse facilidades para cuidar do menino. Não, não tinha namorado. Não era promíscua nem irresponsável. Claro que não deixaria Toby sozinho em casa enquanto ela ia a festas. As perguntas sucediam-se várias vezes, uma atrás da outra, cada uma mais estúpida do que a anterior.

      E também as pessoas da funerária, que com amabilidade e delicadeza a tinham ajudado a tomar decisões que para uma filha perdia na dor eram terrivelmente complicadas. O enterro tivera lugar há três dias e o seu avô não se incomodara em enviar a nenhum «representante» para ver como enterravam o seu único filho e a sua nora. Qualquer que fosse o motivo, Zoe só sabia que ele tinha preferido permanecer na sua torre de marfim enquanto os jornalistas apareciam no funeral como predadores.

      E isso levou-a ao final da lista de pessoas com quem fora obrigada a lidar durante as últimas semanas: as baratas que tinham aparecido por todo o lado assim que tinham descoberto a história. As que tinham batido à sua porta a oferecer-lhe dinheiro para lhes vender o exclusivo, as que tinham acampado fora da sua casa para a perseguir cada vez que saía… Jornalistas que não estavam ali porque se importavam com a sua perda trágica, mas porque Theo Kanellis era um magnata que protegia a sua vida privada e aquela história era tão suculenta como um pêssego amadurecido que desejavam morder mesmo que o sumo fosse amargo e no centro houvesse um verme repugnante.

      De facto, até o verme tinha um nome atraente para a imprensa: Anton Pallis, o playboy, alto e moreno que geria o grupo Pallis e que não parecia importar-se com aparecer nos jornais, quer fosse por trabalho ou por prazer. Zoe lera sobre ele frequentemente e deduzira que fora o homem que beneficiara com o exílio do seu pai.

      Só de pensar no seu nome sentia que lhe fervia o sangue e mais de uma vez se perguntara se o impulso destruidor que a possuía e que a levava a alimentar o ódio que sentia por ele seria a manifestação da parte grega de si própria que até então nunca reconhecera.

      A campainha da porta tocou e as duas mulheres ficaram alerta.

      – Talvez seja um jornalista a tentar a sorte – disse Susie.

      Mas Zoe intuiu que se tratava do representante de Theo. Eram onze e meia em ponto e os homens ricos esperavam que as suas ordens se cumprissem à letra. Endireitou os ombros, convencida de que finalmente descobriria o que Theo pretendia.

      – Queres que fique?

      Zoe olhou para a sua vizinha, que estava em avançado estado de gestação e pensou que não podia pedir-lhe mais do que já pedira naquelas últimas semanas.

      – É quase hora de que ires buscar Lucy – recordou, consciente de que tinha de enfrentar aquilo sozinha.

      – Tens a certeza? – quando Zoe assentiu, Susie disse: – Está bem. Sairei pela porta de trás.

      A campainha voltou a tocar e as mulheres mexeram-se em direções opostas. Zoe ouviu a porta traseira a fechar-se no momento em que chegava à frente da porta principal. Tinha a garganta seca e o coração acelerado. Limpou as mãos húmidas de suor nas calças de ganga e, depois de fazer uma expressão fria e impessoal, abriu.

      Esperava encontrar-se com um homem grego, baixo e robusto, com aspeto de advogado, portanto quando viu de quem se tratava, ficou paralisada de surpresa

      Alto e moreno, parecia um príncipe exótico vestido com um fato italiano. As suas feições angulosas e os seus olhos pretos apanharam o seu olhar como um imã. Zoe não recordava ter visto uns olhos como aqueles, com o poder de a fazer tremer. Nem sequer foi capaz de desviar o olhar quando nas suas costas ouviu a gritaria dos jornalistas. Era tão alto que não conseguia vê-los. Ele nem se alterou, protegido como estava por três homens com óculos escuros que formavam um semicírculo atrás dele.

      Quando finalmente Zoe conseguiu desviar o olhar dos seus olhos, deslizou-o para uma boca sensual que não sorria. Um amontoar de emoções assaltou-a num redemoinho que não foi capaz de identificar. Estava hipnotizada pelo poder que emanava dele, pelos seus ombros largos e relaxados, pela elegância da sua pose e pela segurança em si próprio que exsudava.

      Pela primeira vez em três semanas, foi consciente do aspeto desalinhado que apresentava, de que tinha umas calças de ganga gastas e uma velha blusa de lã vermelha, que vestira porque tinha pertencido à sua mãe e o seu cheiro a fazia pensar nela, e que tinha o cabelo sujo.

      O homem disse:

      – Bom dia, menina Kanellis!

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