Comboio-Fantasma. L.M. Somerton

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Comboio-Fantasma - L.M. Somerton

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este ano?»

      Adam puxou os ombros para trás e espetou o peito. «Segurança. O mesmo de sempre. Ele disse que eu tenho de vos manter aos três na linha.» Ergueu a sua chávena de chá para brindar. «Embora também tenha admitido que é uma tarefa impossível.»

      Garth deu uma olhadela rápida ao amigo, admirando a sua fisionomia bem musculada. Adam parecia-se tal e qual com o jogador de râguebi do condado e de Inglaterra que era. Era muito mais alto do que os outros, com 1,95 metros. Garth media 1,82 metros graças às suas botas de motard com sola grossa. Stevie, o mais pequeno do grupo, tinha atingido o pico com 1,70 metros e Zach era apenas alguns centímetros mais alto. Em fila, faziam uma grande inclinação.

      «Tens mais hipóteses de convencer a Mo a não servir morcela com recheio inglês. Nunca vai acontecer.» Zach encostou a sua caneca à de Adam. «Mas desfruta. Pelo menos, o Stevie vai gostar que lhe digas o que fazer.»

      A meia risada de Adam deu-lhes a entender que ia gostar tanto quanto ele. As bochechas pálidas de Stevie ficaram rosadas.

      «Não me provoques», murmurou ele, evitando o contacto visual. «Não és diferente.»

      Garth teve a oportunidade de refletir sobre as palavras de Stevie enquanto Mo depositava quatro pratos à sua frente. As suas artérias contraíram-se ao apreciar a disposição aromática das frituras. Inalou o aroma antes de apunhalar uma gema de ovo amarela como o sol com o garfo. «Este verão, vamos encontrar os homens dos nossos sonhos. A Semana do Orgulho vai garantir muito por onde escolher. Mas é pena que não venham etiquetados. Poupar-nos-ia bastante tempo e angústia se pudéssemos verificar uma etiqueta a dizer Dommy top, adora Shibari ou sub ideal para espancar procura mão firme. Esse tipo de coisa.» Encheu o garfo com bacon.

      «Então, o que diriam as nossas etiquetas, génio?» Perguntou Adam.

      Garth levantou a sobrancelha. «Penso que o Zach é o homem certo para responder a essa pergunta.»

      Apercebendo-se que estava sob o intenso escrutínio dos seus três amigos, Zach mastigou, engoliu e de seguida bebeu um golo de chá.

      «Bem, o Stevie é fácil. Rainha doce e tímida procura Dom XXL para prazer sem dor.»

      Stevie encolheu os ombros. «Ele é bom.»

      «E eu?» Perguntou Garth.

      «Emo vadio e mal comportado gosta de dor, adora servir, quanto mais severo melhor.»

      Carrancudo, Garth deitou a língua de fora. Zach tinha acertado em cheio.

      «Ele também te topou, Garth», exclamou Stevie. «Agora é a vez do Adam.»

      Zach mastigou um grosso pedaço de salsicha, como se esta lhe pudesse proporcionar a inspiração adequada. «Dom excessivamente protetor precisa de sub para cuidar. Gosto por castidade é essencial.»

      Adam enfiou uma garfada na boca, mastigando enquanto acenava com a cabeça em concordância. «Etiqueta-me já. Estou pronto.»

      «O que diria a tua etiqueta, Zach? Conheces-te tão bem como pensas que nos conheces a nós?» Perguntou Garth. «Uma coisa é descreveres as manias dos teus amigos, outra coisa é admitires as tuas em voz alta.»

      «Zach só tem olhos para um homem», disse o Stevie. «Um certo professor alto e moreno do departamento de matemática.»

      Garth e Adam murmuraram em acordo.

      «É pena que ele não esteja interessado», disse Zach. «A minha etiqueta vai dizer especialista em desejo não correspondido

      «O Professor Raynott é lindo», admitiu o Stevie. «Mas assustador. Acho que nunca o vi sorrir. Será que é mesmo gay?»

      «Tem um autocolante com o arco-íris na janela traseira do Audi», disse Zach. «Eu continuo a viver com esperança.»

      «Perseguidor!» Stevie acenou-lhe com a faca.

      Zach encolheu os ombros. «O meu gaydar é inexistente. Gostava de saber se estou a ladrar à árvore errada.»

      «Pareces mais um cachorrinho demasiado entusiasmado a mijar para o tronco.» Adam inalou o chá. Garth e Stevie desataram a rir.

      «Ainda bem que todos acham a minha vida amorosa, ou a falta dela, muito divertida.» Zach riu. «Mesmo que eu não pesque um pato que traga o número do professor gostoso agarrado, o verão promete ser divertido.»

      «É verdade», concordou Garth. Não estava a chover, o pequeno-almoço de Mo estava delicioso e ele tinha dois meses para ganhar algum dinheiro e divertir-se com os seus amigos. Se algum deles tivesse sorte na lotaria do amor, iam celebrar juntos. «A vida é boa.»

       * * * *

      Garth despiu o casaco de cabedal e colocou-o no cubículo destinado aos seus artigos pessoais. O ritual de humilhação de moda vinha com o trabalho. Ele podia usar as suas calças pretas, mas o polo azul era obrigatório. Tinha o logótipo do parque de diversões estampado nas costas e Garth não teria optado por usá-lo se a sua vida dependesse disso. Considerou-se sortudo por estar a trabalhar no comboio-fantasma. Só tinha dois anos e era topo de gama — um lugar muito mais fixe para trabalhar que o helter-skelter ou o carrossel. Zach teria ficado em farrapos a arrastar tapetes de fibra de cairo por todo o lado e Stevie teria permanecido num estado de vertigem constante.

      Os efeitos especiais do comboio-fantasma eram aterradores e os passageiros que esperavam o tipo de passeio foleiro “abana-ossos” que provavelmente experienciaram durante a infância recebiam o maior susto da vida. Cada carruagem fazia o percurso sozinha e, dentro do armazém cavernoso que albergava a experiência, a configuração tinha sido concebida para que nenhuma carruagem jamais passasse por outra. Havia até uma segunda trajetória acessível através de uma rampa, um túnel e um troço sobre uma piscina de água turva. Uma câmara automática tirava fotografias de cada carruagem à medida que estas atravessavam a porta de saída. A expressão nos rostos dos clientes no momento em que emergiam para a luz do dia não tinha preço.

      A viagem era toda controlada por um computador e uma série de componentes eletrónicos complicados. Tudo o que Garth tinha de fazer era ligá-lo, recitar as instruções de segurança aos ocupantes de cada veículo e depois premir o botão que os remetia para o seu caminho. Os clientes podiam ver as suas fotografias no grande ecrã, mas as compras eram feitas através de uma cabine central, pelo que ele não tinha de se preocupar em levar dinheiro. Eram coisas simples, mas ele tinha de se manter atento a quaisquer problemas com a viagem.

      De vez em quando, ficava tudo paralisado até ele reiniciar o computador. Quando isso acontecia, dispunha de um sistema Tannoy para tranquilizar todos os que ficassem presos lá dentro. Não era difícil, o pagamento era bom e, o melhor de tudo, dispunha de muito tempo para dispensar uma olhadela aos ocupantes das carruagens na esperança de encontrar o Sr. Certo. É claro que ele não tinha a menor ideia do que faria se encontrasse o Sr. Alto, Sombrio e Dominante, mas tinha bastante tempo para sonhar acordado com as possibilidades. Concedeu ao seu cérebro uma pausa das complexidades da física molecular e à sua pele uma boa dose de vitamina D.

      Uma campainha tocou, assinalando a abertura do parque. O nível de ruído aumentou à medida que as atrações entravam em ação e música pop se misturava num turbilhão de harmonias discordantes. Em breve, o ar ficaria impregnado com o aroma de cachorros quentes, maçãs caramelizadas

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