O Fantoche Como Instrumento De Valor Educativo. Paula G. Eleta
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Hoje os serviços Educativos são chamados à causa para acolher a diversidade intrínseca de cada indivíduo e, portanto, os seus operadores deveriam ser preparados para compreender eficazmente a realidade das nossas salas de aulas: crianças com diversas condições de saúde psico-física, de diversas proveniências e origens étnicas, com diferentes hábitos alimentares... consideramos ainda mais as línguas... hoje os Serviços Educativos contam com uma presença significativa de crianças cuja língua materna é diferente do português e daí elas adquirem o português como L2.
Os Serviços Educativos para a primeira infância (0-6 anos) são também solicitados para acompanhar as famílias nesta nova aventura “parental”. Mas o que entendemos hoje em dia por “família”, quando ela encarna vários “modelos” e assume um carácter bastante complexo?
Os operadores dos Serviços 0-6 anos (e não só) devem intervir diariamente com famílias muito diversas entre elas, logo, com diversas exigências e necessidades. Encontramos, efectivamente, famílias nucleares, alargadas, recompostas, casais homossexuais, famílias monoparentais, com crianças adoptadas, com crianças sob custódia, com progenitores divorciados, mães adolescentes e acima dos quarenta anos.
Para poder oferecer espaços educativos abertos e inclusivos, é preciso estar em condições de responder a tal complexidade activando percursos específicos mas também adequadas modalidades operativas e relacionais que saibam acolher, compreender, fazer dialogar, valorizar e suportar as diversidades presentes no próprio seio (Cfr. Eleta, em colaboração com Iaccarino, 2017).
Por isso é necessário desenvolver novas competências lúdico-educativas e comunicativo-relacionais para compreender e reconhecer nas crianças e nas suas famílias uma pluralidade de saberes, para co-construir um património comum que se enriqueça, entre as outras coisas, dos vividos, das experiências e das competências dos vários actores em jogo.
Sem uma mente “aberta” (recuando à frase inicial) não seriamos capazes de criar, na diversidade, um Serviço significativo para todos os utentes.
O fantoche com a sua linguagem não exclui mas integra
Mediante à nossa plurienal experiência, estamos convencidos que o fantoche (pelas suas características) possa tornar-se um instrumento de alto valor educativo porque faz parte do ambiente natural de jogo da criança e vai ao encontro das suas exigências, permitindo ao educador de criar um contexto estimulante e enriquecedor e para ter predilecção por temas ligados aos interesses dos discentes, às suas histórias familiares, e certamente também aos objectivos educativos em questão.
Substancialmente, propor os fantoches como instrumento de valor no âmbito educativo quer dizer saber:
- Oferecer um canal alternativo de comunicação e de livre expressão, criando as condições para facilitar às crianças e aos adultos para experimentar livremente tais linguagens de forma que, cada um a sua maneira, possa descobrir, estruturar ou integrar conhecimentos, habilidades e vários aspectos da sua personalidade e da sua história (Cfr. Dolci e Eleta, 2017);
- Promover acessos alternativos ao conhecimento, à experiencia, à participação e a partilha;
- Criar uma oportunidade de auscultação e de aceitação para todos;
- Gerar contextos educativos motivantes, gratificantes e inclusivos.
O que entendemos por “fantoche?
"O fantoche é um instrumento do teatro de animação, aquela particular arte teatral que, concretamente, utiliza fantoches, marionetas, bonecos e sombras como protagonistas do espectáculo na qualidade de sinais de uma linguagem fortemente visual e sensorial… No teatro de animação, além de fantoches, podemos pois compreender as marionetas, os “pupi” (fantoche siciliano da época cavaleiresca) mas também as mãos nuas.
Alguns artistas fabricantes de fantoches de talento manipulam no cenário objectos comuns sapatos, utensílios da cozinha, ou mais. Também neste caso trata-se de fantoches porque adquirem a função teatral.”(Cfr.Dolci e Minoia: 63-84, 2009; Cfr. Dolci e Eleta, 2017)
No âmbito educativo, a escolha de uma técnica mais que uma outra coisa deve ser avaliada tendo em consideração algumas variáveis fundamentais como a familiaridade com a linguagem e o instrumento por animar, o objectivo a alcançar, a idade do grupo por envolver, o espaço disponível, os estímulos mais adequados para o tal grupo de crianças, etc.
Todavia, pela sua simplicidade e a sua imediação expressiva, a técnica que mais se difundiu na educação sem dúvidas é aquela do fantoche em forma de luva no interior do qual o animador enfia a sua mão.” (Cfr. Dolci e Eleta, 2017)
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