Hamlet. Уильям Шекспир

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Hamlet - Уильям Шекспир

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nem os dias santos são respeitados; para que esta actividade de dia e de noite? O que será? Qual de vós m'o poderá dizer?

HORACIO

      Posso eu, ao menos, referir os boatos. Nosso ultimo rei, cuja imagem ainda ha pouco vimos, foi, segundo dizem, convocado a campo fechado por Fortimbraz de Noruega, que um cioso orgulho tinha levado a esse acto. N'esse combate o nosso valente Hamlet, e era justa a sua reputação, matou a Fortimbraz. Ora em virtude de uma declaração authentica, sanccionada pelas leis da cavallaria, se Fortimbraz succumbisse, todos os seus estados pertenceriam ao vencedor. Por sua parte o nosso rei tinha empenhado da mesma fórma a sua palavra; e no caso de elle ser vencido, uma igual porção de territorio pertenceria a Fortimbraz. Assim, em virtude d'este pacto reciproco, a successão do vencido pertencia de direito a Hamlet. Comtudo o joven Fortimbraz, ardente e sem experiencia, reuniu nas fronteiras de Noruega um exercito de aventureiros, promptos e resolvidos pela soldada aos mais audaciosos commettimentos. O seu projecto, segundo o nosso governo está informado, é nada menos do que retomar á viva força e de mão armada esse territorio que seu pae perdeu com a vida: eis-aqui, na minha fraca opinião, a rasão principal dos preparativos que fazemos, das guardas a que somos obrigados, e d'esta actividade tumultuosa que se nota em todo o paiz.

BERNARDO

      Tambem eu julgo ser esse o motivo; isto explica-nos porque vemos passar diante dos postos de guarda a sombra do rei, com a sua armadura e com o seu porte magestoso, d'esse rei que foi e é o causador d'esta guerra.

HORACIO

      É um argueiro nos olhos da intelligencia para lhes perturbar a vista. Nos tempos mais gloriosos e florescentes de Roma, pouco antes da morte do grande Julio, abriram-se os tumulos, e os mortos, nas suas mortalhas, divagaram pela cidade, soltando gritos ameaçadores; viram-se estrellas deixar após si rastos luminosos, choveu sangue, desastrosos signaes appareceram no céu, e o astro humido, sob cuja influencia está o imperio de Neptuno, eclipsou-se; todos julgavam ser o fim do mundo. Estes mesmos signaes precursores de acontecimentos terriveis, correios de maus destinos, preludios de grandes catastrophes, o céu e a terra os fizeram apparecer nos nossos climas, aos olhos impressionaveis dos nossos compatriotas.

A sombra reappareceHORACIO continuando

      Mas silencio, olhem, eil-o que volta. Vou interpellal-o, embora elle me fulmine. Pára. Illusão. Se tens o dom da palavra, se pódes articular sons, falla; se ha alguma boa acção cujo cumprimento te possa alliviar e contribuir para a minha salvação, responde-me: se és sabedor de alguma desgraça que ameace a tua patria, e que um aviso opportuno possa desviar… Oh falla! ou se em tua vida confiaste ás entranhas da terra riquezas mal adquiridas; e a maior parte das vezes é por isso que vós, os espiritos, divagaes depois da morte, dil-o. (O gallo canta.) Detem-te e falla. Veda-lhe o caminho, Marcello.

MARCELLO

      Devo servir-me da minha partazana?

HORACIO

      Serve-te se não parar.

BERNARDO

      Para cá?

HORACIO

      Por acolá. (A sombra afasta-se.)

MARCELLO

      Partiu! – que presença magestosa! – são desacertadas estas demonstrações violentas! é invulneravel como o ar, e os nossos golpes não são senão o ridiculo esforço de uma colera impotente.

BERNARDO

      Ia fallar quando cantou o gallo.

HORACIO

      Estremeceu como um culpado que uma intimação subita aterra. Ouvi dizer que o gallo, que é o clarim da aurora, acorda o Deus da manhã com a sua voz sonora e penetrante, e que a esse signal todos os espiritos errantes no mar, no fogo, na terra ou no ar se apressam em voltar aos seus respectivos dominios. A prova está no que acabâmos de presencear.

MARCELLO

      O gallo cantou, e elle desappareceu. Algumas pessoas dizem que na vespera do dia em que se celebra a natividade do Salvador do mundo, o arauto da manhã canta toda a noite sem interrupção; pretendem então que nenhum espirito ousa saír da sua mansão, que as noites são salubres, que nenhuma estrella exerce influencia maligna, nenhum maleficio surte effeito, que nenhuma feiticeira exercita os seus feitiços, tanto esse dia é bento, e está sob o imperio de uma graça celeste.

HORACIO

      Assim o ouvi dizer, e acredito-o. Mas eis que no oriente, acolá no fundo, por detrás dos outeiros, surge a manhã, vestida de purpura por entre o orvalho. Demos fim á nossa vigilia, e vamos dar parte ao joven Hamlet do que vimos esta noite; porque, por vida minha, creio que este espirito, mudo para todos, lhe fallará. Approvam esta confidencia, que nos impõe o nosso dever e a nossa affeição?

MARCELLO

      Vamos sem detença; sei onde o acharemos, e onde lhe poderemos fallar sem constrangimento. (Retiram-se.)

      SCENA II

Uma sala apparatosa no castelloEntram o REI e a sua comitiva, a RAINHA, HAMLET, POLONIO, LAERTE, VOLTIMANDO, CORNELIO e CORTEZÃOSO REI

      A morte de Hamlet, nosso amado irmão, ainda é tão recente, que pareceria justo, que nossos corações estivessem immersos na tristeza e saudade, e que uma nuvem de dor cobrisse o solo d'este reino; comtudo, a rasão combateu os impulsos da natureza, tanto que enfreámos a nossa dor, e embora ainda esteja bem viva a recordação, pensâmos tambem em nós. Portanto, com um prazer incompleto, confundindo os sorrisos com as lagrimas, a alegria com o luto; unindo o dobrar dos sinos aos canticos nupciaes, tomámos por esposa aquella que outr'ora era nossa irmã, e fizemol-a compartir comnosco a corôa d'este bellicoso paiz. N'esta conjunctura ouvimos primeiro os vossos illustrados conselhos, livremente enunciados. Somos-lhes gratos. Quanto ao joven Fortimbraz, fazendo seguramente uma fraca idéa do nosso poder, ou imaginando que a morte de nosso chorado irmão lançasse o estado na dissolução e na anarchia, embalando-se em chimerica esperança, ousou mandar-nos mensagem após mensagem, intimando-nos a restituir-lhe o territorio perdido por seu pae, e legalmente adquirido por nosso valoroso irmão; isto por o que lhe respeita. Fallemos agora de nós e do motivo d'esta reunião. O motivo é este. Pelas presentes escrevemos ao rei de Noruega, tio do joven Fortimbraz, que jazendo enfermo n'um leito, mal conhece os projectos de seu sobrinho, pedindo-lhe que ponha o seu veto á empreza, porque é de entre os seus subditos que se fazem as levas de soldados e os alistamentos. Encarregámo-vos, Cornelio e Voltimando, de apresentar as nossas saudações ao idoso monarcha norueguez, e é nossa vontade, que nas negociações vos conformeis adstrictamente ás instrucções que junto com a nossa carta recebereis. Adeus; a celeridade do resultado prove a dedicação dos negociadores.

CORNELIO e VOLTIMANDO

      Senhor, a nossa dedicação e obediencia não tem limites.

O REI continuando

      Nem o duvidâmos. Recebam um cordeal adeus. (Cornelio e Voltimando sáem.) Agora, tu, Laerte, que pretendes? Disseram-nos que nos querias fazer uma supplica? Qual é? Tu não podes fazer ao monarcha dinamarquez um pedido que não seja rasoavel, e não recorres a elle em vão. Que poderias desejar, Laerte, a que não estejamos promptos a annuir, mesmo antes de conhecer a pretensão. A cabeça não é mais sympathica ao coração, a mão não é mais prompta em servir a bôca do que o throno de Dinamarca é dedicado a teu pae. Que desejas pois, Laerte?

LAERTE

      Meu augusto soberano, a vossa licença e o vosso consentimento, para voltar a França. Gostosamente vim a Dinamarca para assistir á vossa coroação, mas, cumprido esse dever, confesso-o, os meus desejos e a minha vontade me chamam a França, e supplico a vossa magestade que me conceda partir.

O REI

      Já alcançaste o consentimento de teu pae? o que diz Polonio?

A RAINHA

      Arrancou-me o meu consentimento, tanto me importunou; acabei por ceder, mau grado meu, aos seus desejos. Supplico-lhe, pois, senhor, que lhe conceda a licença pedida.

O REI

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