O Encontro Entre Dois Mundos. Aldivan Teixeira Torres
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—Renato e Aldivan, há cento e treze anos exatamente vivo. Boa parte deste período aqui neste sítio e para mim este é o melhor local do mundo. Foi aqui que obtive conhecimento sobre a natureza, Deus e as pessoas. Amei, sofri, chorei como qualquer pessoa normal e o conselho que dou é que se entregue as experiências sem medo. É melhor arrepender-se do que fez do que nunca ter feito. Em suma, fui feliz e quando eu morrer estarei satisfeito.
—Que interessante. Também vivi muitas experiências apesar de ter menos de um terço de sua idade. Estou em busca do meu caminho e quero cumprir mais esta aventura. Já reuni as” forças opostas”, entendi a complexa “Noite escura da alma” e agora estou em busca de desenvolver meus dons. Mas tenho que confessar que ainda não aproveitei a vida como deveria por causa dos meus próprios preconceitos. (Eu,o vidente)
—Tenho catorze anos e minha experiência resume-se a convivência numa família complicada onde meu pai me obrigava a trabalhar continuamente e não podia nem sequer estudar. Depois de tanto sofrer, resolvi fugir e a guardiã me adotou. Pude então estudar e brincar como qualquer criança normal e fui escolhido para ajudar um jovem sonhador em seu objetivo de conquistar o mundo. Agora, aqui estou junto dele em uma nova aventura. (Renato)
—Muito bem. Vocês fazem uma dupla perfeita. Eu também tinha um companheiro quando jovem e desbravamos os sertões em busca de justiça, paz, desenvolvimento espiritual em uma sociedade cheia de preconceitos. Não conseguimos conquistar tudo porque aqueles tempos eram difíceis. Mas confesso que fui feliz mesmo assim.(Angel)
—Que bom. Espero também ser feliz e me realizar profissionalmente. Renato, obrigado pelo apoio. (Eu, o vidente)
—De nada. Faço apenas minha obrigação. (Renato)
A conversa instantaneamente para, o silêncio reina e continuamos a caminhar. Dobramos a direita, a esquerda em vários lugares e em dado momento chegamos a uma árvore frondosa e gigantesca. Angel para e pede que façamos o mesmo. Ele se abraça na mesma mas não consegue abarcá-la. Fica emocionado, chora, ri, enfim vive uma explosão de sentimentos em questão de segundos. Depois, senta e nós o acompanhamos.
—Sabe o que isto significa para mim? Representa um símbolo de amor, amizade e companheirismo. Por favor, abracem esta árvore de olhos fechados e sintam.
Obedecemos ao mestre e no mesmo instante, sinto uma tonteira muito forte, o sangue ferve, o mundo gira, e parece que estou de frente com a pessoa amada. É muito forte o que sinto e esqueço todos os entraves, as culpas, os problemas e sinto que vale a pena mesmo amar mesmo que a outra pessoa não reconheça. Encho-me de coragem, grito o nome da pessoa e digo:Amo-te. Não preciso me preocupar com nada pois do meu lado estão pessoas da minha inteira confiança. Depois do êxtase, sento e choro um pouco. Renato, também senta e chora, mas ele nos conta sua experiência mais pura que guardamos em segredo a fim de preservá-lo.
Conversamos mais um pouco, refletimos e combinamos de continuar o passeio. Seguimos agora em outra trilha rumo ao sul.O começo da nova caminhada é um pouco desgastante pois tínhamos vividos emoções intensas anteriormente mas não deixava de ser desafiadora e instigante. A cada passo dado, encontrávamos um novo mundo onde viveram nossos antepassados e criaram história e agora cabia a nós transformar o mundo. Pensando nisso, avançamos velozmente e paramos algumas vezes a fim de nos hidratar. Em dado instante, a trilha se abre e nos mostra uma extensa planície rochosa. Então, Angel nos convida a nos aproximar mais. Ele pede que sentemos, nós obedecemos e nos conta um pouco da história daquele lugar.
—Este foi o local combinado de encontro entre o nosso grupo de justiceiros do sertão e os famosos cangaceiros do bando de Virgulino.Aqui nos reunimos e tratamos de nossa ação contra as elites daquela época. Bons tempos aqueles. Éramos considerados heróis pelo povo em geral. Contudo, na verdade, buscávamos apenas um pouco de igualdade e justiça.
—Que lindo. Se tivéssemos ações parecidas com essa nos tempos atuais não teríamos tantos problemas e preconceitos em nossa sociedade. (Afirmei, o vidente)
—Concordo, vidente. Mas nos últimos tempos vimos algumas ações exigindo mudança louváveis. (Complementou Renato)
—Sim, é verdade. Os jovens de hoje não são diferentes dos de outrora. As situações é que mudaram. Muita coisa melhorou do meu tempo para cá, mas ainda há o que avançar. Está nas mãos de vocês: Querem agir ou serem apenas expectadores da vida? (Pergunta Angel)
—Agir. Meu propósito em ser escritor é viver aventuras, evoluir espiritualmente, mostrar o caminho de Deus, desmistificar e ajudar a destruir preconceitos, ensinar e aprender. Já conquistei duas etapas e pretendo permanecer neste mesmo caminho. (Declarei, o vidente)
—Meu objetivo é acompanhar e auxiliar o vidente, este ser batalhador, que lutou por mim um dia e que mostrou que os sonhos são possíveis. Quero ter momentos bons ao seu lado e curtir sua companhia por muito tempo. São poucos que tem este privilégio. (Renato)
—Obrigado, Renato.Qual é o próximo passo, Mestre? (Aldivan)
—Calma. Ainda estamos nos conhecendo. Continuemos o passeio. (Ponderou Angel)
Dito isto, voltamos a mudar de direção e desta feita caminhamos rumo ao oeste. Agora, o caminho se mostra pedregoso e isto dificulta um pouco.Porém,o esforço se mostra compensador pois aprendíamos a cada momento com o ambiente,com o mestre Angel e com as lembranças.Enfim,tudo estava correndo bem até aquele instante. Continuamos a caminhar entre conversas, entre barulhos de animais, respirando o ar puro da mata, enfrentando o calor escaldante do fim de ano, entre dúvidas e anseios gritantes de nosso subconsciente. Mas tudo valia a pena e continuamos a descoberta. Depois de cerca de quarenta minutos neste caminho, chegamos em frente ás ruínas de uma casa de taipa. Paramos e Angel pede que o acompanhe. Entramos no que era a casa e ao tocar o resto duma parede, tenho visões gritantes de experiência vividas ali: Vejo Incompreensão, choque de sentimentos,luxúria,luz e trevas, sabedoria e conhecimento desperdiçados no “Encontro entre dois mundos”. Fico estático com toda a informação recebida e, ao perceber minha dificuldade, Angel me presta socorro ao me tirar do eixo. Caio no chão, esmorecido. Renato e ele me fazem um carinho para que eu me restabeleça.
—Calma, filho de Deus. Eu deveria ter dito para você ter mais cuidado por sua sensibilidade. Aqui foi a residência do seu antepassado Vitor Torres e foi onde ele desenvolveu seus dons. O que foi que você viu? (Indagou o ancião)
—Um pouco dos sentidos dele. Mas foi tudo muito rápido. Fiquei um pouco com medo e sofri ainda mais por isso. (Revelou o vidente)
—Já passou. Estamos aqui com você. (Disse Renato)
—Na verdade, não tem que ter medo. Você é outra pessoa, estamos em outra época e as situações são distintas. Basta ter um pouco de cuidado e controlar seu dom que está ainda em desenvolvimento. Mas não se preocupe. Eu o ensinarei quando começar o nosso treinamento. Por enquanto, devem saber que aqui é um dos locais apropriados para vencer barreiras do tempo, espaço e abrir as portas para o outro mundo. Quem souber dominar o seu poder, pode conquistar tudo na vida e vencer seus inimigos. Não há limites— Explicou Angel.
—Entendo. Estou disposto a conhecer meus limites e a descobrir totalmente meu destino mesmo que isto envolva riscos altos. É necessário para minha carreira e para minha evolução espiritual e humana. (Declarei, o vidente)
—Estamos acostumados a correr riscos. (Complementou Renato)
—Você vai até onde puder. Não é irreversível este processo. Podes