O Homem Que Seduziu A Mona Lisa. Dionigi Cristian Lentini

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O Homem Que Seduziu A Mona Lisa - Dionigi Cristian Lentini

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a cansar-se e precisavam de água limpa. Ele olhou em volta e parou a épica narrativa.

      Pietro estava como sempre encantado e mudo, sonhador como as crianças que ouvem pela primeira vez os poemas homéricos e virgilianos.

      – E depois? O que aconteceu? Como acabou, senhor?

      – Bem, o resto é bastante recente: depois da morte de Maomé II, o novo sultão proibiu Ahmed Paxá de retornar à Itália. No fim do verão do ano seguinte, esgotados pela fome, a sede e a peste, os otomanos renderam-se, e os aragoneses finalmente retomaram controle da cidade. Segundo alguns, o famigerado líder turco está preso, outros dizem que foi executado por seus próprios soldados em Edirne. “O quam cito transit gloria mundi”, concluiu Tristano.

      – Como, excelência?

      – Nada, Pietro, nada. Apressemos o passo. Os fartos e hirtos seios da sereia Partenope nos esperam.

      Acariciando o cavalo, apressou o passo, deixando para trás um Pietro ainda mais confuso.

      VII

       Dom Ferrante e os porquês de Nápoles

A emboscada e a criada

      Depois de dois dias, chegaram a uma ensolarada e atarefada capital, bem no meio de um colorido mercado que vendia qualquer coisa que se pudesse conceber: frutas sobre móveis, peixes em cordas de cânhamo, da música à esculturas, de doces a animais, de relíquias a prostitutas.

      – Quem faz uma viagem a Nápoles deve estar preparado para conhecer pelo menos 3 divindades: a massa, a muçarela e os strufolis – disse Tristano brincalhão a seu companheiro.

      – Espero conhecê-las todas logo, senhor – retrucou Pietro.

      Deixaram os cavalos em um pequeno estábulo e seguiram a pé pelos becos, por onde se articulava aquela confusa exposição de rua.

      Mas logo os forasteiros perceberam que estavam sendo seguidos. Tentaram então confundir-se com a multidão, entre as tendas dos bancos, abrindo caminho entre os mercadores, mas aquele sujeito parecia conhecer aquele ambiente melhor que qualquer outro e não tinha nenhum problema em segui-los de perto. Pietro decidiu então confrontá-lo; gesticulou a Tristano que se desviasse por uma viela secundária e, assim que o homem dobrou a esquina, sacou sua espada, tentando dissuadi-lo.

      A ele juntaram-se logo outros dois, muito bem equipados.

      Cinicamente ameaçadores, começaram a aproximar-se, abaixando-se e curvando-se como leões sobre a presa. Depois de algumas voltas ao redor de Pietro, começou a luta: o de veste escura adornada com penas lançou um ataque duplo sobre Pietro, da direita e do alto, e de chofre avançou com o sabre na altura da cintura, fazendo aquele recuar. O outro usava um gibão vibrante com adorno octogonal de preciosos lápis-lazúli incrustados. Virando-se, levantou a espada ao céu, convidando Tristano a fazer o mesmo; lançou então a espada na direção do punhal de Tristano, que prontamente deteve o golpe, contra-atacando com sua espada e um chute na perna do adversário. Enquanto isso, o terceiro homem, de calças listradas, sacou uma espada e começou a ajudar o primeiro, alternando-se com este contra o espadachim bolonhês; lançou a espada na altura da cabeça, que Pietro bloqueou levantando o braço e invertendo a espada com a lâmina para baixo; depois, fez um amplo arco no ar e respondeu ao golpe, forçando o adversário a mudar de posição.

      Enquanto o ar aquecia com as faíscas das lâminas e o estrondo dos punhais, eles entravam sem perceber nas escuras vielas da cidade velha.

      Pietro fez um recuo sábio e deu um pequeno passo adiante com uma ameaça de investida; após outro vacilo falso, partiu para o ataque decidido: rapidamente, avançou com a espada de baixo para cima e, com um magistral jogo de punho, deu um golpe da direita para a esquerda, forçando o valentão a abrir o braço e deixar seu peito desprotegido; bloqueando então a lâmina com o escudo, afundou inexorável a arma no peito.

      No outro fronte, Tristano estava em sérias dificuldades, enfrentando um adversário bem treinado, ágil, que avançava com o joelho esquerdo golpeando com a mão direita e vice versa, simulando rotações com o corpo, mudando com agilidade ritmo e guarda, na busca de qualquer incerteza na vacilante defesa do diplomata. Pietro tentou prestar-lhe socorro, e o teria feito se também não estivesse ocupado com seu osso duro de roer.

      Caíram de repente na cabeça dos napolitanos enormes lençóis brancos  remendados e chumbados nas pontas; ficaram presos neles por alguns instantes. O assobio de um malandro indicou a Tristano e seu ajudante uma via de fuga e, quando os valentões conseguiram soltar-se, a portinhola de uma cantina subterrânea já havia engolido os forasteiros, dando-lhes segurança por algum tempo.

      Cessado o perigo, puderam finalmente retornar ao beco, que no meio-tempo se encheu de alguns pobres coitados, mas não viram nem puderam agradecer os meninos de rua a quem provavelmente deviam a vida; haviam desaparecido, assim como o saco de dinheiro do bravo Pietro!

      Enfim, depois de espontâneos e justos palavrões, os dois riram-se e, ao meio dia, chegaram ao Castel Nuovo.

      Foram logo recebidos com os maiores cumprimentos do velho soberano, que, embora indisposto com o papa, conservava por Tristano um particular senso de reconhecimento e uma consideração que ia além das respectivas funções públicas: provavelmente via nele o amigo Latino.

      Foi na verdade o cardeal Orsini, então legado apostólico a latere, que, dado o boletim de investidura concedido pelo papa Pio II e apoiado pelo cardeal Trevisan, pelo arcebiso de Nazaré em Barletta, Giacomo de Aurilia, pelo arcebipso de Taranto e de muitos outros prelados, em 4 de fevereiro de 1459 d.C., com uma extravagante cerimônia na praça diante do castelo de Barletta, coroou Fernando I de Nápoles, abençoando-o no triplo título de rei da Sicília, de Jerusalém e da Hungria. O episódio e os acontecimentos dos dias seguintes à coroação foram registrados por Latino naquela página de diário estranhamente arrancada e misteriosamente desaparecida do arquivo pessoal do cardeal.

      Dom Ferrante e dom Tristano fecharam-se em conclave por mais de duas horas.

      Antes de partir, o funcionário pontifício empenhou-se para afastar o principal obstáculo diplomático às relações da Santa Sé com a corte partenopeia: fez que a secretaria real tomasse conhecimento de algumas missivas secretas, obviamente falsas, que o embaixador veneziano em Nápoles enviava ao doge. Nesses despachos, o soberano napolitano era descrito como inepto, vaidoso e libertino. A reação aragonesa foi imediata.

      Graças ao retorno do homem da Sereníssima e à pessoal estima do rei, o colóquio foi muito cordial e, ao fim, embora dom Ferrante não tivesse tomado nenhuma decisão, a Tristano pareceu que o soberano estava disposto a considerar as razões expostas e analisar o cenário proposto.

      Não se equivocou: dois dias depois, convocou o jovem pupilo do falecido cardeal Orsini e comunicou-lhe verbalmente que o Reino de Nápoles participaria da nova aliança contra Veneza. O comando seria confiado a seu filho Afonso, duque da Calábria, que também assumiu a função de capitão da liga. O acordo seria formalizado e oficializado no dia de Natal.

      Tristano estava muito satisfeito.

      Depois de uma abundante ceia de massas e doces natalícios, certamente desprezados pelos barões e demais cortesãos representantes da nobreza napolitana, o jovem decidiu retirar-se a seu apartamento para tentar relaxar, tomando um banho na banheira quente que sua majestade tão generosamente mandou preparar.

      A velha senhora que lhe havia preparado o banho, enquanto arrumava os últimos lençóis em um armário, continuava a mirá-lo fixamente, mas Tristano não lhe fez caso,

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