Amôres d'um deputado. Buffenoir Hippolyte

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Amôres d'um deputado - Buffenoir Hippolyte

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aqui esta noite, foi na intenção de lhes falar d'este negocio e de lhes pedir conselho.

      E Ronquerolle tornou conhecidos dos seus amigos os documentos relativos á futura eleição por Saint-Martin. Tratava-se de lutar, em nome da Republica, contra o marquez de la Tournelle, que representava ali as ideias reaccionarias, e que seria approvado por todos os fanaticos do throno e do altar.

      – Mas isso é encantador, exclamou Maupertuis, farás desapparecer o tal marquez como uma simples bolinha de prestidigitador; e entrarás na Camara como uma bala de canhão.

      – Não me embriaguem com palavras, disse Ronquerolle desenhando-se-lhe no rosto uma nuvem de tristeza. Não vá eu contar com a victoria e me aguardem as desillusões. A lucta será encarniçada, terrivel. O marquez possue influencia, é rico, pode vencer…

      – Ora adeus! interrompeu Didier. Todo o districto de Saint-Martin se impressionará com a tua embriagadora eloquencia, inflamarás todas as intelligencias com os teus discursos, e no dia da votação, o teu nome victorioso sahirá das urnas.

      – E depois, accrescentou Branche, que amava mais Ronquerolle do que a um irmão, tu imaginas que vamos deixar-te combater sósinho?! Reclamamos tambem a nossa parte na lucta; proponho que partamos comtigo para a Borgonha, tomando a cidade de Saint-Martin, como nosso quartel-general, da qual faremos fogo, de quatro barricadas, afim de reduzir á expressão mais simples sua excellencia o marquez de la Tournelle e todas as jovens e velhas devotas, que, estou certo, correm já por montes e valles trabalhando a favor da candidatura de tão alta personagem!

      Uma formidavel gargalhada saudou a arrogante phrase de Emilio Branche, e o proprio Ronquerolle foi obrigado a acompanhal-a olhando o seu amigo.

      Depois de duas horas de discussão, ora calma ora ruidosa, ficou decidido que Ronquerolle acceitaria a candidatura que lhe era offerecida, que Branche, Didier e Maupertuis deixariam Paris durante o periodo eleitoral, e que iriam a Saint-Martin auxiliar o seu amigo, e que, sendo necessario fundariam um jornal de combate.

      Ronquerolle mais pallido ainda que do costume, estremecia de satisfação ao pensar que o seu nome ia sahir da obscuridade, e que ia achar-se envolvido nas luctas politicas do seu paiz. Assaltava-o já o desejo, de se encontrar, elle, filho d'um humilde artista borgonhez, em frente d'esse arrogante marquez de la Tournelle, provando-lhe que os filhos dos proletarios tinham mais sangue nas veias, que os filhos e os netos dos emigrados de Coblentz, entrados em França nos carros de mercadorias do estrangeiro.

      Provava assim possuir o legitimo orgulho dos homens seguros da sua consciencia e do seu valor e o desejo de ajudar generosamente os seus amigos, fazendo-os saltar os obstaculos, que os impediam de obter uma posição que lhes permitisse chegarem até onde a sua justa ambição os attrahia.

      Não era só por si que Ronquerolle ambicionava uma situação, era por Maupertuis, Branche e Didier. O primeiro a chegar ao ponto desejado devia estender a mão aos outros, e, decerto, não era Ronquerolle dos que poderia esquecer os companheiros dos dias difficeis da mocidade.

      Era uma hora da manhã quando os quatro rapazes se separaram.

      Encontrando-se no «boulevard» Montparnasse, os amigos do poeta, preocupados com os acontecimentos que iriam dar-se, guardaram silencio.

      A noite estava magnifica. Uma brisa suave trazia á grande cidade os vivificantes perfumes dos bosques de Ville-d'Avray, de Sèvres, de Meudon e de Clamart. Alguns trens percorriam ainda os arruamentos e só elles turbavam o socego d'aquelle bairro de Paris.

      Chegados á encruzilhada do Observatorio, Maupertuis, Didier e Branche voltaram a conversar animadamente.

      Intimamente, porém, sentiam-se tristes.

      – Uma nova existencia vae começar para nós, disse Maupertuis, uma vida de discordias, de combates, de lucta. Podemos dizer adeus á bella tranquilidade dos nossos vinte annos!

      – E o que faremos das nossas amantes? acrescentou subitamente Didier.

      – Daremos a liberdade a essas gentis avesitas, disse Branche, e não as lamentemos que ellas saberão orientar-se no paiz do amôr. Voces bem comprehendem, que não podemos preocupar-nos com saias durante o periodo eleitoral.

      – Poderiamos talvez, interrompeu Maupertuis, envial-as para casa de seus paes!

      – Tu falas bem! tornou Branche; infelizmente ignoramos a sua morada.

      – Porém, Ronquerolle, accrescentou Maupertuis, não poderá, tão facilmente como nós, desfazer-se da sua amante. Trata-se d'uma ligação séria. O que será de Emilia sem elle?

      – Meus filhos, disse Branche com ares paternaes, guardemos para amanhã a continuação da palestra, e vamos deitar-nos. A discussão fica suspensa.

      E os trez amigos separaram-se.

      Entretanto Ronquerolle, após a sahida dos seus amigos, encontrando-se no seu modesto gabinete de trabalho apressou-se a tomar algumas notas, sobre o que se passava, e entrou no seu quarto.

      Julgando encontrar a amante adormecida, avançou com precaução para não a despertar. Qual não foi porém o seu espanto, quando a encontrou embrulhada n'um «robe de chambre», sentada n'uma cadeira e chorando copiosamente.

      – Que tens tu? disse Ronquerolle, aproximando-se e tomando-a nos braços.

      A pobre rapariga soluçava perdidamente, e não podia articular palavra.

      Comtudo, como o amante a enchia de perguntas e a envolvia em caricias, acabou por dizer-lhe que tinha ouvido toda a conversação que elle tivera com os seus amigos, e que bem reconhecia que a legitima ambição de Ronquerolle, era uma ameaça á sua felicidade, que seria a separação de ambos, para sempre talvez.

      E essa incerteza, era terrivel para ella, que apenas podia receiar e chorar.

      – Creança, disse ternamente Ronquerolle, porque duvidas de meu carinho? Não sou o teu amante, o teu melhor amigo? Por ventura, depois de trez annos, que vivemos juntos, alguma vez te menti, te enganei, te abandonei um dia, uma hora?..

      Tentava animal-a, mas a duvida e o receio haviam ferido a alma sensivel da pobre Emilia, e tornar-se-hiam mais vivos á medida que se fossem desenrolando os acontecimentos, que tão fortemente interessavam a Ronquerolle.

      A amante do novo candidato a deputado, era uma rapariga de vinte e trez annos, de cabellos louros, olhos azues, d'um azul encantador, figura insinuante, bem talhada, seio proeminente mas sem exageração.

      Adorava a Ronquerolle a encantadora Emilinha.

      Tinham-se conhecido por forma um tanto ou quanto original.

      Haviam frequentado ambos o curso d'um professor celebre da Sorbonne.

      A joven Emilia ia ali acompanhada d'uma tia velha, á qual os seus parentes, que viviam na provincia, a tinham confiado.

      Os amôres do joven republicano e da sensivel Emilinha, tinham começado com o aspecto d'um idylio innocente, e havia tido por moldura o jardim do Luxembourg.

      Que de encantadores passeios não realizaram Ronquerolle e a linda rapariguinha sob as arvores que ensombram a fonte de Médicis!

      Que de ternas discussões elles não prolongaram percorrendo a Avenida do Observatorio!

      Que de alegres pensamentos, não os assaltaram ao atravessarem o arvoredo,

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