Sumalee. Javier Salazar Calle

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Sumalee - Javier Salazar Calle

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barrigudo e com um avental, gritando irritado, mas quando viu Sumalee, se calou e voltou para dentro, fechando a porta com uma forte batida. Um minuto depois, ela voltou a ser aberta e apareceu uma moça muito pequena, que também parecia tailandesa, e que se jogou nos braços de Sumalee, abraçando-a. Começaram a conversar em tailandês e logo Sumalee me fez sinal para que me aproximasse.

      — Este é David. David, esta é minha amiga, Kai-Mook, de quem falei um pouco ontem à noite. Também é tailandesa e trabalha neste restaurante. Ela vai preparar a comida para a gente.

      — É um prazer. Não se preocupe, Sumalee não disse nada de mau de você — eu disse, sorrindo.

      — Igualmente. Entrar para escolher o Swikee. — Seu inglês não era muito bom.

      — Escolher o que? — olhei para Sumalee.

      — Entre e verá.

      Eu a segui pela cozinha e ela me levou até um lugar onde havia uma bacia gigante com uma tampa. Kai-Mook a levantou e dentro havia uma dezena de rãs saltando para tentar escapar de sua prisão de plástico.

      — Rãs? — exclamei, olhando para Sumalee.

      — Sim, são consideradas uma iguaria típica por aqui. Eles preparam uma sopa de rã deliciosa aqui no Swikee.

      — Se você diz… Na verdade, nunca comi.

      Estava um pouco indeciso, mas não queria parecer muito fresco, então escolhi as rãs que queria, as que me pareceram mais bonitas, se é que era possível, e me sentei à mesa que nos apontaram para esperar a refeição enquanto falava com Sumalee sobre o que faríamos depois. Não demorou muito para Kai-Mook aparecer com uma sopeira nas mãos. Quando ela a abriu e nos serviu a sopa de rãs, tive que reconhecer que tinha uma aparência muito apetitosa. Notava-se traços de pimentas vermelhas, algo que parecia coentro, chili e mais alguma coisa que não fui capaz de identificar.

      Comecei a comer com um pouco de apreensão, mas quando dei a primeira bocada, todos os meus temores de dissiparam. Estava muito boa! Devorei o restante da rã com avidez. Ergui a cabeça e vi que Sumalee me observava, se divertindo.

      — Está delicioso, não é?

      — Tenho que reconhecer, esse é um prato de luxo. Tenho que trazer meus amigos aqui. Vão ficar loucos.

      — Sabia que iria gostar. O cozinheiro deste restaurante prepara a sopa de rãs mais gostosa de toda a cidade. Se vier com eles, pergunte por Kai-Mook e vocês terão o tratamento especial da casa. Agora ela já te conhece e cuidará de você como se fosse eu mesma.

      Olhei nos olhos dela enquanto suspirava. Não sabia que loucura estava fazendo, mas ia dizer a ela o que estava começando a sentir quando Kai-Mook nos interrompeu, aproximando-se para perguntar como estava a sopa. Disse o mesmo que tinha dito a Sumalee, que estava deliciosa, e ela voltou contente para a cozinha. O restante da refeição também foram pratos que eu não conhecia; muito saborosos, mas nenhum como a sopa. Ficamos o tempo todo rindo e contando histórias divertidas que tinham acontecido com a gente no passado em nossas viagens.

      Quando terminamos, Kai-Mook deu uma bolsa a ela. Ela não quis me dizer o que era. Também não me deixou pagar e insistiu que era seu dia de guia e que os gastos ficavam por sua conta. Segurei seu rosto e, observando-a com intensidade, dei um beijo muito suave em sua testa enquanto acariciava com os dedos suas têmporas. Pude notar que ela tremia quando fiz isso, não sabia se de emoção ou de repulsa. O importante foi que ela não se afastou. Um calafrio de excitação percorreu meu corpo ao contato com sua pele. Naquele momento, senti uma vontade quase irrefreável de lançar-me sobre ela e beijá-la, mas consegui me conter. Não apenas gostava de estar com ela e me sentia muito confortável, mas ela também me excitava demais.

      Saímos para a rua. Fomos direto para um pequeno parque que ficava bem em frente de onde estávamos, e ela entregou a bolsa a uma mulher que parecia uma mendiga. A mulher tirou algo de dentro e vi que era comida. Conversaram um pouco como se se conhecessem a vida toda e, então, continuamos nosso caminho.

      É uma mulher que está passando por apuros. Eu a conheço de outras vezes que vim ver Kai-Mook. Sempre trago um pouco de comida quente para que ela tenha uma boa refeição no dia.

      Além de bonita, é uma boa pessoa. Não para de me surpreender.

      Passei o braço por cima de seus ombros e pegamos o ônibus para o parque East Coast, no sudeste da ilha. Tínhamos decidido mudar totalmente de ambiente e eu queria ver um pouco de água, e ali havia praias, palmeiras e mar. Um lugar perfeito para conhecer um pouco mais Sumalee.

      Quando chegamos, nos metemos por um dos caminhos que entravam no parque. Sumalee ficou pensativa um momento e, então, se dirigiu a mim.

      — Sabe patinar?

      — Não, nunca tentei. Quando eu era pequeno, andei um pouco de patinete, mas não tinha o equilíbrio muito desenvolvido, então desisti logo.

      — Bom, então ensinarei a você outro dia. E andar de bicicleta?

      — Isso, sim, claro.

      — Então vamos alugar umas bicicletas para visitar o parque. O que acha?

      ― Perfeito!

      Dito e feito. Nos dirigimos para o lugar onde alugavam bicicletas e, ainda que pudéssemos escolher bicicletas tandem ou carrinhos com teto, decidimos por duas vermelhas individuais para o restante do dia. Aparentemente, era uma atividade popular, porque o parque estava cheio de ciclistas e de gente patinando. Havia uma pista com dois sentidos claramente demarcados. Sumalee foi contando-me tudo enquanto pedalávamos com tranquilidade.

      — O parque está dividido em diferentes áreas. De acordo com a área, pode fazer uma coisa ou outra. Você vai acabar descobrindo que eles são muito organizados em Cingapura.

      — Sim, estou percebendo.

      — Aqui, à direita, fica a área de churrasqueiras. Muitas famílias e grupos de amigos vêm, principalmente no fim de semana. Também há muitos restaurantes e cafeterias, se preferir não ter trabalho. Para usá-las, é preciso fazer reserva. Dá para fazer pela internet.

      — Como você disse, — afirmei, sorrindo — muito organizados. E isso?

      — Essa é a área de esportes aquáticos. Dá para alugar caiaques, fazer esqui aquático, mergulho e muitas outras coisas. Você gosta desse tipo de atividade?

      — Sim, adoro. E você?

      — Não experimentei muito, mas poderíamos tentar juntos.

      — Com certeza! Já está na minha lista desde que soube que viria para cá.

      — Agora estamos chegando à área para ficar na areia. É muito normal que as pessoas construam castelos. Olha!

      Paramos um pouco para ver um grupo de jovens terminando de construir um tempo de areia de um tamanho descomunal. Devia ter quase dois metros de altura e quatro de largura. Nenhum de nós reconhecemos o edifício, mas Sumalee me disse que o estilo era muito parecido com os templos de Angkor, em Camboja. Havia muitas pessoas tirando fotos. Sumalee me contou que outra atividade típica do parque era a fotografia.

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