Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos. August Nemo

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Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos - August Nemo Mestres da Poesia

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verificar compulsando o seu livro, fazia-o também ter pelo "amor' o mais profundo desprezo. Era natural. É pelo amor que se perpetua a Vida; logo. deve detestar o primeiro, que é um "meio", quem detesta a segunda, que é um "fim". Era perfeitamente lógico.

      Por duas ou três vezes que ele toca no assunto é para proclamar o seu supremo desprezo não tanto pelo sentimento, como pela sensação, penso eu:

      Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!

      O amor da Humanidade é uma mentira.

      É. E é por isso que na minha lira

      De amores fúteis poucas vezes falo.

      O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!

      Quando, se o amor que a Humanidade inspira

      É o amor do sibarita e da hetaíra,

      De Messalina e de Sardanapalo?!

      Quis saber que era o amor, por experiência,

      E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,

      Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,

      Todas as ciências menos esta ciência!

      Materialismo brutal, dirão. Enganam-se. Ainda aqui, mais uma vez, tocam a rebate todas as campanas do seu acrisolado idealismo. O que ele detestava acima de tudo era o que ele chamava os "amores fúteis". Queria o amor impossível, o sentimento puro, espiritual, fluido, etéreo, imarcescível, que para ele era:

      É a transubstanciação de instintos rudes,

      Imponderabilíssima e impalpável,

      Que anda acima da carne miserável

      Como anda a garça acima dos açudes!

      Eis por que lhe chamo "poeta da morte", porque não amava a Vida nem o Amor. Estava no seu direito, ou melhor, na sua fatalidade.

      Quero, entretanto, antes de concluir este artigo, oferecer a gente ledora dois sonetos do poeta pouco conhecidos. O primeiro, em que ele idealiza e espiritualiza tão encantadoramente as forças universais, é o seguinte, por ele intitulado "La mento das cousas":

      Triste, a escutar, pancada por pancada,

      A sucessividade dos segundos,

      Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos

      O choro da Energia abandonada!

      E a dor da Força desaproveitada,

      — O cantochão dos dínamos profundos,

      Que, podendo mover milhões de mundos,

      Jazem ainda na estática do Nada!

      É o soluço da forma ainda imprecisa...

      Da transcendência que se não realiza.

      Da luz que não chegou a ser lampejo...

      E é, em suma, o subconsciente aí formidando

      Da Natureza que parou, chorando,

      No rudimentarismo do Desejo!

      O segundo soneto que citarei será o derradeiro, chama-se “Último Número”; Fê-lo o poeta pouco antes da sua morte. É um soneto cabalístico, não há negá-lo. É sibilino. Que será o “último número”. Será a última vibração do seu ser em prol da Beleza? Será o último transporte das suas faculdades em direção à sua companheira – a Poesia? Será a sua derradeira aspiração a objetivar na angústia de uma estrofe todo o infinito que ele trazia dentro de si? Pode não ser nada disso e pode ser tudo isso ao mesmo tempo...

      Enquanto ao soneto, ei-lo aqui:

      Hora da minha morte. Hirta, ao meu lado,

      A Ideia estertorava-se... No fundo

      Do meu entendimento moribundo

      Jazia o Último Número cansado.

      Era de vê-lo, imóvel, resignado,

      Tragicamente de si mesmo oriundo,

      Fora da sucessão, estranho ao mundo,

      Como o reflexo fúnebre do Incriado:

      Bradei: — Que fazes ainda no meu crânio?

      E o Último Número, atro e subterrâneo,

      Parecia dizer-me: “E tarde, amigo!

      Pois que a minha autogênica Grandeza

      Nunca vibrou em tua língua presa,

      Não te abandono mais! Morro contigo!”

      Concluamos. O que Augusto dos Anjos deixou publicado é imperfeito e pouco. Entretanto, é preciso reconhecer que há, no meio de todas as imperfeições da sua obra, extraordinárias belezas. Ele valia sobretudo pelo que era: uma revelação de artista pouco comum num meio inóspito. Quanto à quantidade, não são muitos livros ou calhamaços de um homem de letras que dão direito à estima e aos respeito dos seus pares, mas a qualidade da sua inspiração e do seu idealismo, a sua probidade literária e o seu amor pelo trabalho. E a este respeito não nos esqueçamos de que para a Academia de Letras, tem entrado singulares homens de letras que nem sequer são “unius libri”10.

      Quanto às suas imperfeições, não percamos de vista que ele acaba de morrer na flor da idade e sem ter tido vagares para expungir os seus versos dos defeitos inevitáveis num primeiro livro. Depois, nem sempre a perfeição marmórea dos versos é suficiente para consagrar um artista. Uma composição poética dos versos pode ser um primor de métrica e versificação e não ter sombra de poesia. É o que sucede inúmeras vezes a Leconte de L’Isle, por exemplo, e a muitíssimos outros poetas franceses, dos quais diz Sully Prudhomme que aparecem com extraordinária precocidade, revelando-se conhecedores das mais secretas astúcias da ver- sificação, conhecendo à maravilha o seu ofício, em suma, virtuoses consumados, e, entretanto, alheios à verdadeira arte – e isto remata o grande pensador poeta, porque entre eles o npumero dos hábeis excede de muito o número dos realmente inspirados.

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