A Ordem. Daniel Silva

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A Ordem - Daniel Silva HARPERCOLLINS PORTUGAL

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Devo dizer que o Santo Padre gostou bastante. Achou que fazia a Igreja parecer cool. Foi exatamente esta palavra que ele usou, já agora. Os meus rivais na Cúria não concordaram. — Mudou bruscamente de assunto. — Peço desculpa por ter interrompido as tuas férias. Espero que a Chiara não tenha ficado zangada.

      — Pelo contrário.

      — Estás a dizer-me a verdade?

      — Alguma vez te enganei?

      — Queres mesmo que eu responda a isso? — Donati sorriu. Fê-lo com esforço.

      — Como é que estás a aguentar-te? — perguntou Gabriel.

      — Estou a fazer o luto pela perda do meu mestre e a ajustar-me às minhas novas circunstâncias modestas e à perda de estatuto.

      — Onde é que estás hospedado?

      — Na Cúria Jesuíta. É no final da rua do Vaticano, na Borgo Santo Spirito. Os meus aposentos não são tão bons como o meu apartamento no Palácio Apostólico, mas são bastante confortáveis.

      — Arranjaram-te alguma coisa para fazeres?

      — Vou ensinar Direito Canónico na Gregoriana. Também estou a preparar um curso sobre a história conturbada da Igreja com os judeus. — Fez uma pausa. — Talvez algum dia consiga convencer-te a dares uma palestra como convidado.

      — Já imaginaste?

      — Na verdade, já. A relação entre as nossas duas fés nunca esteve melhor, e isso deve-se à tua amizade pessoal com o Pietro Lucchesi.

      — Enviei-te uma mensagem, na noite em que ele faleceu — disse Gabriel.

      — Significou muito para mim.

      — Porque é que não me respondeste?

      — Pela mesma razão que não enfrentei o cardeal Albanese quando ele se recusou a autorizar a tua presença no funeral. Precisava da tua ajuda numa questão sensível e não queria atrair atenção desnecessária para a proximidade da nossa relação.

      — E a questão sensível?

      — Está relacionada com a morte do Santo Padre. Houve certas… irregularidades.

      — A começar pela identidade da pessoa que descobriu o corpo.

      — Reparaste nisso?

      — Na verdade, foi a Chiara.

      — É uma mulher inteligente.

      — Porque é que o cardeal Albanese encontrou o corpo? Porque é que não foste tu, Luigi?

      Donati baixou o olhar para a ementa.

      — Talvez devêssemos pedir alguma coisa de entrada. Que tal as folhas de alcachofra e flores de curgete fritas? E os filetti di baccalà. O Santo Padre jurava sempre que eram os melhores de Roma.

      6

      RISTORANTE PIPERNO, ROMA

      O maître insistiu em trazer-lhes uma garrafa de vinho, oferta da casa. Era especial, prometeu, um branco excelente de um pequeno produtor de Abruzzo. Tinha a certeza de que Sua Excelência o consideraria mais do que satisfatório. Donati, com considerável cerimónia, declarou que era divino. Depois, quando ficaram novamente sozinhos, descreveu a Gabriel as últimas horas do pontificado do papa Paulo VII. O Santo Padre e o seu secretário pessoal tinham partilhado uma refeição (uma última ceia, disse Donati gravemente) na sala de jantar do apartamento papal. Donati ingerira apenas um pouco de consomé. Depois, os dois homens tinham ido para o escritório, onde, a pedido do Santo Padre, Donati abrira as cortinas e as persianas da janela com vista para a Praça de São Pedro. Seria o penúltimo serviço que realizaria para o seu mestre, pelo menos em vida de Sua Santidade.

      — E o último?

      — Preparei a dose noturna de medicamentos do Santo Padre.

      — O que é que ele tomava?

      Donati recitou os nomes de três fármacos, todos prescritos para o tratamento da insuficiência cardíaca.

      — Conseguiram escondê-lo bastante bem — disse Gabriel

      — Por aqui somos muito bons nisso.

      — Creio recordar um internamento breve na Clínica Gemelli, há alguns meses, devido a uma crise de bronquite aguda.

      — Foi um ataque cardíaco. O segundo.

      — Quem é que sabia?

      — O dottore Gallo, claro. E o cardeal Gaubert, o secretário de Estado.

      — Porquê tanto secretismo?

      — Porque, se o resto da Cúria tivesse sabido do declínio físico do Lucchesi, na prática, o seu papado teria terminado. Ele tinha muito trabalho para fazer no tempo que lhe restava.

      — Que tipo de trabalho?

      — Estava a ponderar convocar um terceiro concílio do Vaticano para discutir as inúmeras questões profundas que a Igreja enfrenta. A ala conservadora só agora está a começar a aceitar o Vaticano II, que já foi há mais de meio século. Um terceiro concílio teria sido, no mínimo, fraturante.

      — O que é que aconteceu depois de teres dado os medicamentos ao Lucchesi?

      — Dirigi-me ao andar de baixo, onde o meu carro e o meu motorista estavam à minha espera. Eram nove horas, mais minuto menos minuto.

      — Para onde foste?

      Donati esticou o braço para agarrar no seu copo de vinho.

      — Devias mesmo provar um bocadinho disto, sabias? É bastante bom.

      A chegada dos antipasti concedeu a Donati uma segunda trégua. Enquanto tirava a primeira folha da alcachofra frita à romana, perguntou, com despreocupação forçada:

      — Lembras-te da Veronica Marchese, não lembras?

      — Luigi…

      — O que foi?

      — Pai, perdoa-me, porque pequei.

      — Não é isso.

      — Não?

      A doutora Veronica Marchese era diretora do Museo Nazionale Etrusco e a principal autoridade italiana sobre a civilização e antiguidades etruscas. Durante os anos oitenta, enquanto trabalhava numa escavação arqueológica perto da povoação úmbrica de Monte Cucco, apaixonara-se por um padre caído em desgraça, um jesuíta, fervoroso defensor da teologia da libertação, que perdera a fé enquanto trabalhava como missionário na província de Mozarán, em El Salvador. O caso amoroso terminara abruptamente com o regresso do padre caído em desgraça à Igreja, para ser secretário pessoal do Patriarca de Veneza. Arrasada, Veronica casara com Carlo Marchese, um abastado

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