Spaghetti Paraiso. Nicky Persico

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Spaghetti Paraiso - Nicky Persico

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de madeira, muito em sintonia, eram postas a frente. Em suma, um espaço pequeno, mas digno.

      A mulher apresentou-se na entrada do meu pequeno gabinete as 17:32 em ponto. As biqueiras produziam ao longo do corredor um ruído subtil e cadenciado.

      Permaneci sentado na escrivaninha de madeira escura, fingindo de estar muito possuído por algo importante. Uma táctica que tinha rebaptizado plano «B».

      Tinha aberto um velho, volumoso fascículo. E ao lado um código, deixando bem visível três ou quatro folhas espalhadas. Era melhor organizar-se, e fazer aquilo que contava: o advogado Spanna não me teria perdoado disparates de qualquer tipo. Certamente a mulher devia ser uma desaparafusada, para além disso arruinado e que tinha concretamente cometido um erro: não próprio aquele que um quase aspirante advogado espera, da vida.

      Ainda mais o amigo do advogado Spanna tinha superado os cinquenta há pouco tempo, e não era um Adónis. Provável que a companheira tivesse mais ou menos a mesma idade. Talvez era desaparafusada por via duma precoce demência velhice.

      Não era exactamente uma daquelas causas que dão fama e riqueza, tanto que podes deixar de trabalhar e te estabelecer em Montecarlo. Talvez o misteriosíssimo homicídio dum abastado homem de negócios, com linda e enfadada herdeira, resolvido brilhantemente graças a uma intuição do abaixo-assinado quase/aspirante, com a subsequente historia da irresistível paixão, realização dum filme expirado num acontecimento e passeio para Cannes.

      Não. Cabia a mim a chata que agora estava ali na porta, onde os passos que tinham cessado tinham-me deixado perceber que tinha chegado, enquanto eu fingia de estar absorvido.

      No momento em que desviava o olhar do ecrã, seguindo literalmente o plano «B», lembrei-me da frase que ouvia dizer com frequência por um meu conhecido, advogado idoso de pouco sucesso: «é uma má profissão».

      O plano «B» previa um destaque a partir do PC improviso, como se estivesse muito absorvido por algum processo complicado, tanto para disfarçar de não ter notado a chegada da pessoa que estava à espera, à qual, por conseguinte, não poderia dedicar muito tempo.

      Aliás a tinha recebido apenas porque é amiga de amigos, caso contrário um funcionário como eu nunca teria conseguido encontrá-lo. Isto, pelo menos, era aquilo que quisera fazer crer ao interlocutor de turno, merecedora do plano «B»: uma chata, concretamente. Só que ao desviar a atenção do computador, como programado, movi muito rapidamente a mão com a qual segurava o rato, e deixei cair acidentalmente a caneta, que foi parar directamente ao centro dos pés da cliente.

      Bem cuidados, introduzidos nas sandálias simples e com uma ligeira biqueira, número correspondente àquele dos pés. Dois, pela observância.

      Desta vez não notei os sapatos precisamente.

      Os dois pés há pouco mencionados eram da mesma forma acompanhados por tornozelos leves e ligeiramente bronzeados. Idade Max (dos pés) trinta anos.

      O plano «B» começou a vacilar.

      O olhar subiu a uma velocidade constante sobre as barrigas das pernas, longas e musculosas, até aos joelhos perfeitos. O resto das pernas está em linha com as premissas, e fui interrompido por uma saia ligeira e mórbida, cuja cor branca deixava destacar o bronzeado. Umas simples T-shirt vermelha envolvia uma vida firme, que suportava o busto agraciado, e mal escondia as formas proporcionadas e repletas do seio.

      Uma das mãos segurava uma bolsa de trama. A outra já tinha tido o modo vê-la ao lado da anca direita: dedos compridos, nada de verniz e nada de brincos.

      Trina e cinco anos no máximo.

      Cheguei finalmente ao rosto. Meiguíssimo, sem maquilhagem e embelezado por cabelos desarrumados, castanhos como os olhos.

      O olhar daquela mulher decretou a destruição completa do plano que trazia em mente (anteriormente seriamente comprometido pelos dois pés firmes e por todo o resto).

      Naqueles olhos havia uma resignação profunda que não soube mais como interpretar, mas que me desorientou.

      Um olhar apagado, no qual as únicas formas de vida reconhecíveis eram o embaraço e o desespero.

      «Desculpe-me», gaguejei.

      Arrependi-me imediatamente por ter pronunciado aquelas palavras: desculpe-me porquê? Era um sinal claro da confusão.

      «Sente-se, por favor», continuei indicando uma das duas pequenas poltronas diante da escrivaninha.

      «Obrigada», respondeu a mulher, sentando com elegância. Ao fazê-lo cruzou as pernas tanto que bastava para descobrir um pouco mais a parte permanecido coberta pela saia.

      Eu estava totalmente bloqueado, e não me dei conta tão-pouco que o meu olhar tinha parado um pouco demasiado nas coxas bronzeadas. Permaneci ali onde estava, erecto doutro lado da escrivaninha, em silêncio absoluto.

      Tentei recuperar fixando-a no rosto, com uma expressão que me lembra simultaneamente o empregado do bar, Stefano Benni e a vaca quando passa o comboio.

      Considerando que as mulheres têm uma capacidade de aperceber-se que estás a reparar-lhes a s tetas ainda que o faça a uma distância de três quarteirões, era altamente improvável que não tivesse aquele meu hesitar, e que não me tivesse anteriormente classificado na categoria «babados».

      Certamente estava habituada, julgando pela sua formosura, mas mais que outra coisa estava preocupado pelo facto que esta coisa, absolutamente não o fazia por acaso, e me importunava que a cliente pudesse ter uma ideia errada.

      A situação tinha-me totalmente escapado da mão, por isso tanto queria prosseguir fingindo de nada.

      A mulher também ela permaneceu durante um pouco em silencio, desorientada. Talvez preocupada, absolutamente.

      Depois Virginia (este era o seu nome, como a minha infalível perspicácia investigadora levara-me a descobrir daí a pouco, lho perguntando) na tentativa – legitima – de sair do impasse, disse algo que teria sancionado irreversivelmente o disparate da circunstância: «sente-se, por favor». Tinha conseguido convidá-la para me acompanhar até ao meu gabinete! O plano «B» estava enfim à deriva em pleno oceano Índico. Mas àquelas palavras, chocaram-me, e procurei de remediar. Era ou não, era o mágico de recuperação em tempo real?

      «Ah sim. Terá que perdoar-me, mas estava muito possuído por um caso muito complicado, e mesmo urgente. O que pretende, o meu trabalho é feito desta forma», disse esticando os braços e esboçando um sorriso embrutecido.

      Segundo as minhas intenções, a interlocutora àquele ponto deveria pensar algo do tipo «caramba que advogado atarefado, e também muito excelente. Sei lá de caso fascinante estará ocupado!»

      Daquilo que pude deduzir na expressão da mulher, pelo contrário a hipótese mais lisonjeira que me assaltara em mente, sobre os seus pensamentos, foi «este é louco».

      Decidi enfrentar a situação com determinação, e de trazê-la de novo nos carris: eu era o advogado – quase/aspirante – e ela cliente. E para além disso uma chata sem um tostão, a qual tinha feito o favor de recebê-la apenas porque é amiga de amigos. E que diabo!

      Completei a volta da escrivaninha e sentei ao lado dela, segunda poltrona. Durante àquele brevíssimo trajecto, Virginia volveu-se em volta e observou o gabinete: teve a

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