O Duque Sem Coração. Barbara Cartland
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–Eu não tenho coração– afirmara o Duque, categórico.
Lord Hinchley sorrira.
–Isso é desafiar o destino. Um dia você vai se apaixonar e aí. então, vai entender como é angustiante e terrível ver alguém que você adora olhando por sobre seu ombro, à procura de alguém melhor do que você!
O Duque apenas sorrira, com cinismo, e o amigo exclamara, exasperado :
–Que diabo, Taran, você é muito convencido! Você está achando que isso é impossível, porque se considera o melhor! Pois bem, continue assim, que um dia vai ter sua retribuição, sem dúvida!
–Mesmo que isso aconteça, o que é pouco provável, ainda assim vou achar que gastei bem o meu dinheiro!
O Duque divagava, pensando em todas essas coisas, quando a voz de Lord Hinchley interrompeu-o, trazendo-o de volta ao presente:
–O que vai acontecer quando chegarmos?
–Não tenho a menor ideia– respondeu o Duque–, eu enviei uma mensagem ao meu administrador de bens, dizendo o nome do navio em que viajamos e a data aproximada em que devemos atracar em Perth. Suponho que ele providenciará um meio de nos levar até o Castelo. Senão, vamos ter que andar!
Lord Hinchley expressou seu desagrado com um gemido.
–São só uns três quilômetros e meio! Mas as montanhas são muito íngremes, principalmente para quem não está acostumado.
–Sei que você está zombando de mim!– disse o Lord–, por outro lado, neste país inculto, a ficção pode acabar se transformando numa realidade bastante desagradável! Por Deus do céu, Taran, vamos ao menos esperar pelo melhor!
Foi uma surpresa agradável quando, depois de o navio ter atracado, Robert Dunblane subir a bordo.
Era um homem alto, bem-apessoado, de mais de cinquenta anos, e sem dúvida causava impressão em seu kilt, com o boné de lado na cabeça de cabelos grisalhos e a capa xadrez, presa ao ombro por um enorme broche de pedras.
O Duque estendeu a mão para eie.
–Eu o teria reconhecido em qualquer lugar, Dunblane!
–Infelizmente, não posso retribuir o cumprimento de Vossa Alteza– retrucou ele.
O sorriso dele, entretanto, exprimia agrado e aprovação ao ver o Duque .
Sem dúvida, seria difícil para Robert reconhecer nesse homem alto e bonito, que agora estava diante dele, o rapaz franzino de olhar tempestuoso e rebelde, que fazia força para reprimir as lágrimas, como quando o vira pela última vez.
A calça justa em baixo e bufante, o fraque, a brancura impecável da gravata bem ajeitada acentuavam o corpo atlético do Duque, de ombros largos e quadris estreitos.
Robert Dunblane percebeu também as características dos McNarn; o nariz reto, aristocrático, e a boca firme, autoritária, severa.
–Suponho– disse o Duque, depois da troca inicial de gentilezas– que você tenha um meio de conduzir Lord Hinchley e eu ao Castelo. Não é?
Robert Dunblane sorriu.
–Há cavalos à sua disposição, Alteza, ou, se prefere, uma carruagem, mas permita que eu lembre, caso tenha esquecido, que as estradas são muito empoeiradas nesta época do ano, e é bem mais rápido atravessar-se a charneca em linha reta.
–Pois então iremos a cavalo– disse o Duque–, está bem para você assim, William?
–Estou pronto para qualquer tipo de viagem– retrucou Lord Hinchley–, desde que não seja por mar!
–Fizeram uma viagem difícil, milord? – perguntou Robert Dunblane, solícito.
–Terrivelmente difícil!– respondeu Lord Hinchley–, se eu não tivesse conseguido afogar o sofrimento do modo tradicional, sem dúvida já estaria numa sepultura no fundo do mar!
O Duque riu.
–O Lord está exagerando!– disse ele–, o mar estava um tanto encapelado, é verdade, mas felizmente pegamos vento de popa, senão teria sido bem pior!
–Impossível!– exclamou Lord Hinchley, e eles todos riram.
Estava um dia ensolarado e uma ventania forte, capaz de arrancar indivíduos franzinos de suas montarias, quando partiram nos cavalos que Dunblane providenciara para eles.
Deixaram para trás a cidade de Perth e rumaram para o norte, passando pelo Palácio Real de Scone, onde tinha havido várias coroações.
O Duque ficou imaginando se Lord Hinchley estaria interessado em saber que o Parlamento e o Conselho Geral reuniam-se em Scone, no período entre a ascensão de Alexander I, que nasceu em 1106, e a morte de Robert III, em 1406.
Mas logo disse para si, com um sorriso cansado, que os ingleses não se impressionavam com a história escocesa e aliás, faziam o possível para destruir tudo o que desse prestígio ou importância àquela que, para todos os efeitos, era uma colônia conquistada.
Percebeu então, surpreso, que estava pensando como um escocês e, talvez pela primeira vez em muitos anos, sentiu-se melindrado com o costume inglês de desmerecer os escoceses e de considerá-los selvagens e incultos.
Acreditava que, em grande parte, a hostilidade, a indiferença e até a crueldade deles eram ditadas pelo medo.
Havia alguma razão para isso, pois, há apenas trinta anos, as tropas inflamadas por propaganda sediciosa, em Register House, Edimburgo, haviam gritado:
–Abaixo o Rei!
Lembrou-se também de que, por todo o campo, à medida que chegavam as notícias das vitórias dos franceses, comandados por Napoleão, os escoceses iam plantando pinheiros como símbolos de liberdade.
Mas agora tudo isso estava terminado. George IV estava para visitar a Escócia e dizia-se que era um gesto de amizade.
–Não sei se Sua Alteza lhe falou– disse Lord Hinchley a Robert Dunblane, enquanto cavalgavam–, mas devo partir para Edimburgo dentro de um dia ou dois, para os preparativos da visita de Sua Majestade.
–Imagino que milord vá preferir ir pela estrada– comentou Robert.
–Com toda a certeza!– respondeu Lord Hinchley–, por muito tempo não vou conseguir olhar o mar sem estremecer.
–Espero que uma das carruagens de Sua Alteza seja mais confortável– disse Dunblane, cortesmente.
O Duque, entretanto, estava pensando que, se seu amigo tivesse bom senso, iria a cavalo.
Era muito agradável cavalgar montanha acima, avistando-se a cidade e seu largo rio prateado, contemplando-se a charneca, com seus urzais azul-violáceos e, lá ao longe,