Assassinato na Mansão. Фиона Грейс

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Assassinato na Mansão - Фиона Грейс

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negras e sua carranca se transformou em suspeita. "Você precisa de um visto, se planeja trabalhar".

      Lacey balançou a cabeça. "Não. A última coisa que quero fazer aqui é trabalhar. Acabei de me divorciar. Preciso de um pouco de tempo e espaço para clarear a cabeça, tomar sorvete e assistir a filmes ruins".

      Os traços da mulher se suavizaram instantaneamente, mostrando empatia, dando a Lacey a impressão distinta de que ela também fazia parte do Triste Clube das Divorciadas.

      Ela devolveu o passaporte a Lacey. "Aproveite sua estadia. E queixo para cima, ok?"

      Lacey engoliu o pequeno nó que se formara em sua garganta, agradeceu e seguiu para o desembarque. Lá, vários grupos de pessoas aguardavam a chegada de seus entes queridos. Alguns estavam segurando balões, outros, flores. Um grupo de crianças muito loiras segurava uma placa que dizia: "Bem-vinda de volta, mamãe! Sentimos saudades!"

      É claro que não havia ninguém esperando por Lacey e, quando ela atravessou o saguão movimentado em direção à saída, pensou em como nunca mais seria recebida por David em um aeroporto. Se ao menos ela soubesse que quando retornou daquela viagem de negócios — para comprar vasos antigos em Milão — seria a última vez que David a surpreenderia no aeroporto com um sorriso no rosto e um buquê de margaridas coloridas nos braços... Ela teria saboreado mais o momento.

      Do lado de fora, Lacey chamou um táxi. Era um carro antigo preto, modelo hackney, cuja visão imediatamente lhe deu uma pontada de nostalgia. Ela, Naomi e seus pais haviam andado num táxi preto vários anos atrás, durante aquelas fatídicas e finais férias em família.

      "Para onde quer ir?" perguntou o motorista atarracado quando Lacey deslizou no banco de trás.

      "Wilfordshire".

      Houve um momento de silêncio. Então, o motorista se virou em seu assento para encará-la, com uma carranca profunda e o cenho franzido. "Você sabe que são duas horas de carro até lá?"

      Lacey piscou, sem saber o que ele estava tentando comunicar.

      "Tudo bem", disse ela, com um pequeno dar de ombros.

      Ele parecia ainda mais perplexo. "Você é uma ianque, não é? Bem, não sei o quanto está acostumada a gastar com passagens por lá, mas deste lado da lagoa uma viagem de duas horas custará uma nota".

      O jeito abrupto dele pegou Lacey de surpresa, não apenas porque não combinava com a imagem em sua mente de um simpático taxista de Londres, mas por causa da sugestão velada de que ela não podia pagar uma viagem como aquela. Lacey se perguntou se isso tinha algo a ver com ela ser uma mulher viajando sozinha. Ninguém nunca questionou David quando faziam longas viagens de táxi juntos.

      "Eu posso pagar", ela assegurou ao taxista, com um tom um pouco gelado.

      O motorista se voltou para a frente e pressionou o botão Iniciar no taxímetro. Ele apitou e fez surgir o símbolo da libra em verde, cuja visão provocou outra onda de nostalgia em Lacey.

      "Já que você pode", disse ele, se afastando do meio-fio.

      Isso é o que chamo de hospitalidade britânica, pensou Lacey.

      *

      Eles chegaram em Wilfordshire, como prometido, duas horas depois, com Lacey amargando "duzentos e cinquenta pratas" a menos. Mas a tarifa salgada — e o taxista pouco amigável — se tornou insignificante no momento em que Lacey saiu do veículo e respirou profundamente aquele ar fresco do litoral. O cheiro era exatamente como ela se lembrava.

      Sempre lhe chamou atenção o modo como cheiros e gostos podiam evocar lembranças tão fortes — e agora não foi diferente. O ar marinho causou uma súbita onda de prazer espontâneo dentro dela, algo que não sentia desde antes de seu pai ir embora. Foi tão forte que ela quase caiu. A ansiedade provocada pela reação de sua família em relação à viagem simplesmente desapareceu. Lacey estava exatamente onde precisava estar.

      Ela desceu a rua principal. A garoa que cercava o aeroporto de Heathrow não existia ali, e os últimos raios do pôr do sol banhavam tudo em uma luz dourada, fazendo com que o lugar parecesse mágico. Era exatamente como ela se lembrava — duas fileiras paralelas de antigos chalés de pedra, construídos bem rente às calçadas de paralelepípedos, com as bay windows originais de vidro se sobressaindo nas ruas. Nenhuma das lojas se modernizara desde a última vez em que ela esteve na cidade. De fato, todas ainda tinham o que pareciam ser suas placas de madeira originais balançando acima da entrada, e cada loja era única, vendendo de tudo, desde roupas infantis a miudezas, pães e bolos e café orgânico de pequenos produtores. Havia até uma "loja de doces" à moda antiga, cheia de grandes potes de vidro com doces coloridos, onde tudo podia ser comprado individualmente por "um centavo".

      Era abril, e a cidade estava decorada com bandeirolas coloridas para celebrar a Páscoa, amarradas entre as lojas, num zigue-zague cruzando o céu. E havia muitas pessoas na rua — largando do trabalho, presumiu Lacey — sentadas nas mesas ao ar livre de bares, em bancos de piquenique, bebendo canecas de cerveja, ou do lado de fora de cafés, nas mesas de bistrô, comendo sobremesas. Todos pareciam estar de bom humor, e sua conversa alegre criava uma atmosfera reconfortante, como uma música de fundo.

      Sentindo uma onda calmante de certeza, Lacey pegou o celular e tirou uma foto da rua principal. Com a faixa prateada do mar brilhando no horizonte e o lindo céu listrado de rosa, a cena parecia um cartão-postal, então ela a compartilhou no grupo Garotas da Família Doyle. Naomi havia escolhido o nome, para grande desgosto de Lacey na época.

      Está exatamente como eu me lembro, ela escreveu embaixo da foto perfeita.

      Um momento depois, seu telefone emitiu um bipe. Naomi respondeu.

      Parece que você foi parar no Beco Diagonal por acidente, mana.

      Lacey suspirou. Era uma resposta tipicamente sarcástica de sua irmã mais nova e ela deveria ter esperado. Porque é claro que Naomi não podia apenas ficar feliz por ela ou ter orgulho do modo como assumira o comando de sua própria vida.

      Você usou um filtro? foi a resposta da mãe, um momento depois.

      Lacey revirou os olhos e guardou o celular. Determinada a não deixar ninguém desanimá-la, ela respirou fundo, calmamente. A diferença em comparação com o ar poluído de Nova York que ela estava respirando mais cedo naquela manhã era realmente impressionante.

      Ela continuou ao longo da rua, com os saltos-altos clicando-clicando-clicando contra os paralelepípedos. Seu próximo objetivo era encontrar um quarto de hotel para o número ilimitado de noites em que ficaria aqui. Ela parou do lado de fora da primeira pousada que encontrou, The Shire, mas viu que o letreiro na janela havia sido virado para o lado em que se lia "Não há vagas". Sem problemas. A rua principal era longa e, se não me falha a memória, pensou Lacey, haveria muito mais lugares para tentar.

      A próxima pousada, Laurel’s, era pintada em um tom rosa algodão-doce e sua placa proclamava: "Totalmente ocupada". Palavras diferentes, mas o mesmo sentimento. Só que desta vez, provocou uma centelha de pânico no peito de Lacey.

      Ela afastou esse pavor à força. Era apenas o verme que sua família havia colocado em seu ouvido. Não havia necessidade de se preocupar. Ela encontraria um lugar em breve.

      Então, continuou. Entre uma joalheria e uma livraria, o The Seaside Hotel estava lotado e, depois da loja de suprimentos para camping e do salão de beleza,

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