Razão Para Se Apavorar. Блейк Пирс
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Instantaneamente, Avery não sentiu mais a necessidade de se matar.
Ela leu a mensagem várias vezes, tentando encontrar algum sentido. Seu cérebro trabalhou, buscando uma resposta. E com algo como aquilo para descobrir, o simples fato de pensar na morte já estava fora de questão.
Sentou-se no sofá e olhou para o papel, lendo várias e várias vezes.
quem é você, avery?
Com amor,
Howard
CAPÍTULO TRÊS
Nos dias seguintes, Avery seguiu tocando a área embaixo de seu queixo onde havia colocado a arma. Sua pele parecia irritada, como quando picada por um inseto. Sempre que se deitava para dormir e seu pescoço esticava quando sua cabeça encostava no travesseiro, aquela área parecia ficar exposta e vulnerável.
Ela precisava encarar o fato de que havia chegado ao fundo do poço. Mesmo que tivesse conseguido escapar, ela havia chegado lá. Para sempre, aquela seria uma lembrança, e parecia que seu corpo não queria que ela se esquecesse daquilo.
Nos três dias seguintes ao seu quase suicídio, Avery esteve mais depressiva do que nunca em sua vida. Passou aqueles dias jogada no sofá. Tentou ler, mas não conseguia se concentrar. Tentou motivar-se para correr, mas sentiu-se muito cansada. Seguiu lendo o bilhete de Howard, segurando-o por tanto tempo que o papel já estava gasto.
Avery parou de beber tanto após receber a carta de Howard. Devagar, como uma larva, começou a sair do seu casulo de auto-pena. Aos poucos, começou a se exercitar. Também fez palavras cruzadas e Sudoku, apenas para trabalhar a mente. Sem trabalho, e sabendo que tinha dinheiro suficiente para passar um ano sem se preocupar com nada, seria muito fácil tornar-se preguiçosa.
Mas a encomenda de Howard havia apagado sua letargia. Avery agora tinha um mistério para resolver, algo que se tornou uma tarefa. E quando Avery Black tinha uma tarefa, ela não parava até resolvê-la.
Uma semana depois de receber a carta, seus dias começaram a ter uma rotina. Ainda era a rotina de um eremita, mas ela estava se sentindo melhor. Avery estava sentindo que poderia haver algo pelo qual ela poderia viver. Desafios mentais sempre a inspiravam, e estavam lhe inspirando para as semanas por vir.
Suas manhãs começavam às sete. Ela saía para correr, fazendo um trajeto de três quilômetros ao redor da casa na primeira semana. Voltava para casa, tomava café da manhã e relia os arquivos de seus casos antigos. Tinha mais de cem em seu arquivo pessoal, todos resolvidos. Mas ela os relia apenas para se manter ocupada e para lembrar a si mesma que, mesmo com algumas falhas, ela havia tido sucesso na maioria dos casos.
Também passava uma hora por dia tirando suas coisas das caixas e as organizando. Depois, almoçava e fazia palavras cruzadas ou outro tipo de desafio. Então, fazia um circuito de exercícios no quarto—uma sessão rápida de abdominais, flexões, prancha e outros exercícios de core. Passava algum tempo vendo os arquivos de seu último caso—o caso que acabara com a morte de Jack e Ramirez. Alguns dias, olhava-os por dez minutos. Outros, por duas horas.
O que havia dado errado? O que ela tinha deixado passar? Ela teria sobrevivido ao caso se não fosse pela interferência de Howard Randall?
Então, era hora de jantar, ler um pouco, limpar um pouco mais a casa e, então, dormir. Era uma rotina sem muitos acontecimentos, mas ainda assim, uma rotina.
Avery levou dois meses para deixar a casa limpa e em ordem. Por fim, suas corridas de três quilômetros já haviam se tornado oito. Ela já não estava mais lendo os arquivos antigos ou os relatórios do último caso. Ao invés disso, estava lendo livros que tinha comprado na Amazon, com dramas e crimes da vida real e obras policiais de não-ficção. Também havia escolhido alguns livros com avaliações psicológicas dos assassinos em série mais famosos da história.
Avery não estava completamente ciente de que aquela era sua maneira de preencher o vazio que seu trabalho deixara. Quanto mais o tempo passava, mais ela imagina o que seria de seu futuro.
Em uma manhã, enquanto corria em volta do lago Walden, com o frio queimando seus pulmões e trazendo uma sensação mais prazerosa do que qualquer outra coisa, aquele pensamento a atingiu mais forte do que nunca. Sua mente estava cheia de perguntas sobre a encomenda de Howard Randall.
Primeiro, como ele sabia onde ela estava morando? Por quanto tempo ele sabia? Antes da encomenda, Avery imaginava que ele tinha morrido ao cair na água na noite que finalizou aquele terrível caso. Seu corpo nunca fora encontrado, mas a polícia acreditava que ele havia sido atingido por um tiro de um dos policiais antes de cair na água. Enquanto corria, Avery tentou pensar em uma lista de próximas passos para descobrir onde ele estava e porque ele tinha enviado aquela mensagem estranha: Quem é você?
A encomenda veio de Nova York, mas obviamente ele está perto de Boston. Como ele saberia que eu me mudei? Como ele saberia onde ou moro?
Aquilo, é claro, trouxe à sua mente imagens de Randall escondido entre as árvores e olhando para sua casa.
Que sorte a minha, ela pensou. Todo mundo na minha vida morreu ou me expulsou. Faz sentido que um assassino seja o único que pareça se importar comigo.
Ela sabia que a encomenda em si não traria respostas. Já sabia quando e de onde a caixa havia sido enviada. Era apenas Randall a provocando, fazendo-a saber que ele ainda estava vivo, à solta, e interessado nela de um jeito ou de outro.
A encomenda estava em sua mente quando Avery voltou da corrida. Ao tirar as luvas e a touca, com a bochecha rosa do frio, caminhou até onde havia deixado a caixa. Ela já tinha olhado a caixa inteira, procurando por pistas ou por significados escondidos deixados por Randall, mas não encontrara nada. Também não encontrara nada nas folhas de jornal amassadas. Havia lido todos os artigos no papel amassado, e nada parecia fazer sentido. Era apenas papel amassado. Mesmo assim, Avery havia lido e relido cada linha dos artigos várias vezes.
Ela estava mexendo ansiosamente na caixa quando seu telefone tocou. Pegou-o da mesa da cozinha e olhou o número na tela por um momento. Sorriu hesitantemente e tentou ignorar a alegria que tomou conta de seu coração.
Era Connelly.
Seus dedos congelaram por um momento porque, na verdade, ela não sabia o que fazer. Se ele tivesse ligado duas ou três semanas antes, Avery teria simplesmente ignorado a ligação. Mas agora... bom, algo era diferente agora, certo? E por mais que ela odiasse admitir, sabia que precisava agradecer a Howard Randall e sua carta por aquilo.
No último toque antes que a chamada caísse na caixa de mensagens, Avery atendeu.
- Ei, Connelly – ela disse.
Houve um silêncio do outro lado da linha antes que Connelly respondesse.
- Ei, Black. Eu... bom, eu vou ser sincero. Eu estava esperando falar com sua caixa de mensagens.
- Desculpe te decepcionar.
- Não, nada disso. Estou feliz em ouvir sua voz. Já faz um tempo.
- Sim, tem sido estranho.
- Devo entender que você se arrependeu de se aposentar tão cedo?