Cattle of the Lord. Rosa Elise Branco
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que me tinha e me deixava à solta
guiada sem saber que ia.
Tomava as minhas feridas,
a tristeza que eu pudesse ter
e sofria dela como eu nem sofria.
Trocava de mal trocando-lhe as voltas.
Punha a coleira ao pescoço
e levava-me a passear
como se eu fosse o dono.
E à noite dormia no chão
ou então fingia. Eu acordava
com um servo aos pés da cama,
armava-me em amo
e era ele que me tinha.
Exímio no silêncio
e no uso das armas
com que me defendia
de todos e também de mim:
a linha veloz do pêlo luzidio,
o frémito da língua,
o focinho em arco para a escuta.
Era um cão que me tinha
e uma tarde de verão
atirei-lhe um osso gostoso
antes de o deixar no canil.
THE DOG THAT HAD ME
I had a dog or rather he
had me and left me free,
guided without knowing it.
He took on my injuries,
whatever sorrows I might have had,
and suffered them as I had never suffered.
He confounded my ills, turned things around.
He put my collar round his neck
and took me for a walk
as if I were his owner.
At night he slept down on the floor
or else pretended to. I would awake
with a servant at my feet,
and hold myself just like a master,
while it was really he who had me.
Peerless he was in silence
and in the use of arms
with which he would defend me
from others and from myself, as well:
the swift line of glistening fur,
the quivering of the tongue,
the muzzle flexed for listening.
It was a dog who had me
and on a summer afternoon
I threw him a delicious bone
then dropped him at the pound.
A SONO SOLTO
Por esse tempo veio Ele à terra.
Estávamos ofegantes de mil acrobacias
com a fogueira a ecoar gemidos.
Caímos no sono
e nem percebemos se o parto foi normal.
Mas o nosso bafo transformou o mundo
e fizeram de nós ídolos de barro.
Posso jurar que na última ceia
não estivemos ao lado ou à direita
de quem quer que fosse. Não omitimos
ou negámos. Nem sequer matámos
a nossa sede. Tão pouco soubemos
e ninguém nos disse. Era já tarde
quando acordámos nesse dia.
E quem podia saber que ainda é tarde?
LIKE A LOG
In those days He came down to earth.
We were panting from our thousand acrobatics
with the fire echoing our bovine groans.
We fell asleep
and didn’t even notice if the birth was normal.
But our heavy breath transformed the world
and made of us clay idols.
I can swear that at the last supper
we were not by the side or to the right
of whoever was there. We omitted
and denied nothing. We didn’t even kill
our thirst. Nor did we understand
and no one told us anything. It was already late
when we awoke that day.
And who could have known it is still too late.
PARÁBOLA DOS TALENTOS
O que fizeste dos teus talentos?
Arrumei a roupa no armário,
pus canela no dorso do peixe,
deixei-me ficar à mesa depois do almoço
à conversa com a família.
O meu pai afunda-se na memória
que lhe nega o leito.
Mas duplicou e acariciou sempre os talentos
com os dedos febris e todos os minutos.
Passeio de rua em rua,