Mentropia. Estêvão Soares

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Mentropia - Estêvão Soares

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era algo normal, comum, muitas vezes eram 30, 40 minutos porque a linha do modem estava ocupada, ou alguém estava no telefone e precisava falar de forma urgente. Era normal esperar. Já foi normal esperar.

      Hoje, nós não esperamos, nós não entramos, nós estamos conectados. É um estado, não uma ação que é executada. A mudança no nosso estado, também trouxe mudanças consideráveis na forma como nós vemos as pessoas. Especialmente os clientes, nosso público-alvo, os prospectos e os consumidores.

      Recentemente fomos à São Paulo e já estávamos indecisos entre usar o Uber, o Cabify ou o 99Taxis. Como escolher? Optamos pelo aplicativo que fosse mais rápido de usar, não só em termos de desempenho na corrida, mas também no smartphone, o que aparentemente era mais seguro e ao mesmo tempo mais simples. Só nesse processo avaliamos vários fatores, mas ficamos felizes com a escolha. Mesmo considerando todos esses fatores, solicitamos uma corrida e o motorista estava demorando muito.

      Começamos a nos preocupar com o horário, abrimos o aplicativo concorrente e vimos que havia um motorista mais perto. A solução foi cancelar e utilizar o outro serviço. Perceba que mesmo ponderando e decidindo, o mais rápido foi a solução mais viável. Vivemos em mundo que exige essa praticidade e agilidade e somos as mesmas pessoas que aguardavam 5 minutos para conectar e utilizar a internet.

      Isso não funciona para todo mundo, mas é um fato para maioria das pessoas. No outro dia conversamos com um motorista que reclamou sobre isso, alegando que as pessoas não têm paciência e que se ele demora um pouco, a corrida é cancelada, porque as pessoas já pediram no concorrente.

      Outro cenário muito comum é:

      Você entrou em uma loja e queria comprar uma calça. Olhou as opções, percebeu cada uma das roupas, olhou o material, o tamanho, as combinações. Lembrou das peças que tinha em casa e que talvez poderiam fazer um bom par com a calça. Pensou nos sapatos, como ficam a altura, a combinação, quando iria utilizar e se valeria a pena o investimento num cenário onde considerou os próximos eventos da agenda.

      Depois você pegou o celular, 10 minutos com ele na mão e uma decisão foi tomada. Pensou: "Vou para a próxima loja porque no caminho preciso passar na concessionária e essa loja, que fica próxima, tem mais opções e uma chance maior de encontrar o que eu preciso".

      Você notou algo de errado nessa história?

      Provavelmente não.

      É um cenário comum, padrão. Mas quando falamos de comunicação com o público, muitas vezes ainda temos a visão dos anos 90, onde o público "entrava na Internet". Muitas vezes as pessoas acabam comprando um produto online dentro da loja. Se a sua necessidade não é imediata, você simplesmente gosta de um produto, pesquisa online e se o preço com o frete for mais interessante, você compra na hora.

      Estar online é um estado, uma camada, e essa camada está sobreposta com nossas agendas, desejos, necessidades, tarefas, projetos, família, entretenimento, negócios e todas as variações que você puder imaginar. Esse é o estado de quem está online, um estado permanente, que já está integrado com a nossa vida.

      A partir do momento em que você olha para este cenário como camada, você é capaz de desenvolver estratégias melhores para o digital. Só essa mudança de mentalidade já garante um grau superior de empatia e que, no final, vai permitir com que sua comunicação fique mais humanizada. Afinal de contas, você conhece o comportamento do público e sabe que, em um dia corrido, você é um ponto no escuro. E se quiser fazer algo extraordinário, sabe que terá que se esforçar para colocar o seu ponto, seu negócio, em evidência em um contexto que não te favorece por padrão.

      Agora, a partir do momento em que você faz parte da narrativa do usuário é aí que a mágica acontece, e é por isso que relevância e contexto são palavras chave para o sucesso de qualquer estratégia digital.

      Quando for desenvolver sua estratégia, coloque o usuário no centro, pensando em como o que você está oferecendo se encaixa na camada digital da vida de quem vai receber o seu conteúdo.

      Não seja mais um no caos, entenda o paradoxo

      Não tem como lutar, esteja em paz. Abrace o caos e aceite que ele faz parte da sua vida. Está tudo bem assim. Veja o caos como um benefício do digital e não como o maior problema. Se você o utilizar como seu aliado, muitas coisas boas vão surgir a partir daí.

      Abraçar o caos é um grande paradoxo, assim como muitas outras coisas no digital. Entender esse aspecto vai permitir que você tenha mais assertividade e execute seus projetos em menos tempo.

      Nossa relação com o online por si só já é um grande paradoxo. Como as pessoas preferem se comunicar por mensagem ao invés de conversarem frente a frente? Eu tenho mil explicações para isso e você provavelmente também. Eu vou além, você provavelmente pensou que, dependendo da pessoa, também prefere conversar somente por mensagem. Certo?

      O que você fez aqui foi qualificar a interação com base na relevância que ela tem para você. E assim que a nossa vida segue na era exponencial do caos.

      É uma resposta natural, automática para podermos focar no que realmente é interessante (do nosso ponto de vista). Você já viu isso acontecendo?

      Você vai ao restaurante, pega uma pequena fila, a casa está cheia. O som está agradável e o aroma no ar te leva a imaginar o quão deliciosa será a refeição ali. Assim que você entra sozinho, nota que algumas pessoas estão à mesa. Algumas famílias com crianças, outros casais, mas quase ninguém sozinho. Você resolve tirar um momento para analisar a situação atual. E a única coisa que você vê são pessoas sentadas olhando para o celular ao invés de interagirem. Dá aquela tristeza de pensar que as pessoas estão mais longe, mais frias, mais distantes no final das contas.

      Um adolescente em especial lhe chamou a atenção, enquanto os pais estão discutindo de forma acalorada, até incomodando um pouco, ele está ali, uma garota, imersa em seu mundo no celular. Mais uma vez, você fica triste.

      Corta a cena para a visão da garota.

      Ela é introspectiva, seu nome é Livia, mas os amigos chamam de Lili. Os pais vivem brigando, o que torna a vida dela bem complicada. Entre xingamentos e princípios de agressão, ela se esconde por trás da tela e é ali que ela encontra algum conforto para poder explorar o mundo por uma visão que não seja a visão que ela tem em casa. Os pais chegam, depois de um dia horroroso e falam que precisam ir ao restaurante porque já estava programado, eles não queriam perder a reserva. Chegando lá, eles pegam um local de destaque, especialmente porque é importante eles serem vistos juntos, o casal precisa espantar alguns rumores de que o casamento não estava legal.

      Eles não se importam em como a Lívia está vendo tudo isso, estão mais preocupados com a opinião alheia, do que com os de dentro de casa.

      Mas a Lívia pode acessar o mundo a partir do celular, e agora ela está em uma outra dimensão, sonhando com a faculdade, com as opções de vida em outros lugares e ao mesmo tempo interage com amigos que a amam e permite com que ela se sinta como parte de algo, ela pertence.

      Mas para quem está vendo de fora, é só mais uma adolescente mal-educada e que não respeita os pais, que está distante e foi engolida pela tecnologia.

      Isso acontece todos os dias.

      A tecnologia afasta as pessoas? Em alguns casos sim, mas também aproxima.

      A

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