Dança Meu Anjo. Virginie T.
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A avó intervém, como sempre.
– Adorava visitar a Ilha Ellis. Nunca lá estivemos antes.
– Eu também nunca lá estive. Estar preso num ferry nunca me emocionou mais do que isso, mas fugir da maçã grande edas minhas preocupações com a avó mesmo por algumas horas é uma ideia muito atraente.
– É uma óptima ideia, avó. Vamos lá depois do almoço. Vou arranjar os bilhetes antes do meu ensaio.
– E tu nem sequer nos perguntas se nos queremos juntar a ti, claro!
Estou a engolir a bola que está presa na minha garganta. A minha mãe não me vai poupar nada esta noite. Parece que está na hora de acertar as nossas contas. Infelizmente, não estou em condições de a suportar e prefiro ser dócil ao tomá-la sobre mim mesmo que isso signifique partir o apoio do braço da minha cadeira apertando os dedos nela.
– Pai, mãe, gostariam de vir connosco para Ellis Island amanhã?
– Bem, acontece que não podemos. Vamos trabalhar amanhã. Não estamos disponíveis quando a senhora decide dar-nos um pouco de tempo!
Lá se vai isso! E depois vão culpar-me por não fazer um esforço. Eu mordo a língua com tanta força que não grito e sai sangue da minha boca. Mal posso esperar pelo fim desta refeição para finalmente poder ir para casa e livrar-me do meu excesso de tensão. Eu montei uma sala inteira para esse fim apenas, com um espelho e uma travessa na parede. Uma mini sala de dança pessoal que me servirá bem se eu quiser poder ter uma boa noite de sono.
Finalmente em casa! O meu rendimento confortável permite-me ter este grande t4 no coração de Nova Iorque, perto do Teatro de Ballet Americano, sem ter de utilizar transportes públicos. Um verdadeiro luxo para mim. Ando por todo o lado e isso fica-me muito bem. Eu destranco a porta e aceno à minha avó para ir à minha frente. Mesmo estando em boa forma para a idade dela, ainda me sinto cansada e tenho a certeza que ela está ansiosa por ir para o quarto. Porque ela tem o quarto dela em minha casa. Eu nunca convido ninguém além dela, então o terceiro quarto foi arranjado de acordo com seus gostos e desejos.
– Vê Caitlyn Cat. Uma carta foi passada por baixo da tua porta. Tens um admirador secreto que não me tenhas contado?
Sinto todas as cores a deixarem-me a cara, o meu coração congela no peito e as minhas mãos ficam pegajosas. Não tenho de olhar para o envelope que ela tem nas mãos para saber o que é e de quem é. Três num dia é a primeira vez que eu teria passado sem ele.
– Caitlyn? Algum problema, Caitlyn?
– Não. Não, não há problema nenhum.
As minhas mãos tremem tanto como a minha voz quando apanho o envelope tão vermelho como o sangue nas minhas veias, contradizendo o que eu disse.
– Eu conheço-te melhor do que tu própria. O que acontece no final? E não me respondas a nada!
Perante a minha falta de resposta e de reacção, a minha avó assume a liderança. Ela agarra o envelope, abre-o e lê-o em voz alta com um franzir de sobrancelhas.
– Prepara-te, estarei aí em breve. Estarei aí em breve.
Ela lê a carta várias vezes em silêncio enquanto eu caio contra a porta depois de a fechar. Eu fecho e desbloqueio a fechadura várias vezes seguidas, a minha pancada ressurge sob pressão.
– O que significa isso, Caitlyn? Não há nada de romântico nisso, pois não?
Estou a abanar a cabeça para a esquerda e para a direita, à beira de um esgotamento nervoso. Começo a bater com a nuca contra a madeira dura atrás de mim, na esperança de tirar dela todos os pensamentos sombrios e ansiedades. Um barulho seco entoa no meu apartamento.
– Não, Caitlyn. Não é a resposta.
Ela coloca a sua mão atrás do meu pescoço para evitar que eu me magoe e conduz-me manu militari para o meu salão de dança, puxando-me pelo braço.
– Vou dar-te meia hora para te acalmares. Depois disso, quero que tu e eu tenhamos uma conversa séria. Percebeste-me?
Eu aceno com a cabeça antes de começar a música e não desperdiço um segundo. Tenho tido esta sala completamente à prova de som para a paz e sossego dos meus vizinhos em casos como este, onde a necessidade de desabafar seria sentida a uma hora tardia. Duvido que eles apreciassem ouvir música e os sons dos meus saltos às 23 horas passadas. O ritmo é rápido, poderoso, raciocinando dentro de mim como tambores. É exactamente o que eu preciso. Eu salto, giro e improviso numa série de movimentos para expressar a raiva e a angústia que estas cartas trazem dentro de mim. Não os suporto mais.
E eu não suporto o facto de eles estarem a entrar em minha casa agora.
Não percebo quanto tempo passa até que a avó desligue o sistema de som.
– É muito violento, Cat.
Nem reparei que a minha avó ficou comigo em vez de ir descansar e não duvido nem por um momento que ela esteja a falar da forma como eu me mexo.
– Esta não é a primeira carta como esta que recebeste, pois não?
Agarro numa das toalhas limpas que deixo sempre na sala para limpar a cara. Isto dá—me tempo para retomar uma respiração mais regular e abrandar o meu ritmo cardíaco.
– Não, não foi. Tenho-as recebido desde que fui escolhida como a Bela Adormecida. Elas se tornaram cada vez mais frequentes à medida que nos aproximamos da primeira apresentação do espectáculo, e esta é a terceira do dia.
Ela vem para me abraçar perto dela para me confortar.
– Oh. Minha Caitlyn Cat. Devias ter-me falado delas. Eu teria vindo para te apoiar muito mais cedo se soubesse.
– Eu sei, avó. Só que tu tens a tua vida e eu sou uma adulta. Eu tenho que me defender. Além disso, afinal são apenas cartas. Tu sabes que eu tenho dificuldade em lidar com dados desconhecidos e eu claramente não entendo o objectivo de enviar este tipo de correio.
– Assumir a responsabilidade não significa te isolares, minha querida, e estas cartas não são triviais. Já avisaste a polícia?
– O director do ballet fez por mim desde que as cartas chegaram ao teatro até agora, mas a investigação está num impasse. Eles não têm pistas e como nunca fui fisicamente ameaçada, não estão a levar o caso a sério. Eles acham que estou muito preocupada com nada.
– Oh, estou a ver. Estou a ver. Só que as cartas estão agora a chegar directamente à tua casa. Bem, isso muda tudo.
– Só tem sido assim desde esta manhã. O director notificará os investigadores sobre este desenvolvimento.
– Óptimo. Até este assunto estar resolvido, vou ficar em tua casa e certificar—me de que estás a salvo.
– Avó…
– Não vale a pena discutir sobre isso. És a minha menina