Ndura. Filho Da Selva. Javier Salazar Calle
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“Ndura. Filho da selva”
Escrito por Javier Salazar Calle
Copyright © 2020 Javier Salazar Calle
Todos os direitos reservados
Distribuído por Tektime
https://www.traduzionelibri.it
Traduzido por Fernanda Carrascosa
Design da capa em português´© 2020 Marta Fernández García
Desenho da capa em português ©Marta Fernández García
Foto do autor © Ignacio Insua
Título original: Ndura. Hijo de la selva.
Copyright © Javier Salazar Calle, 2018
Tradução: Fernanda Carrascosa
1.ª Edição
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Dedicado a todos aqueles que, assim como eu, vivem aventuras e viajam sem sair do lugar; porque fazem com que o poder da imaginação sobreviva neste mundo.
Dedicatória especial ao meu melhor amigo, que faleceu há muitos anos, e ao meu filho Álex, que herdou seu nome e com o qual tenho grandes sonhos.
Começa a aventura…
Estou no meio da África profunda. Sentado, apoiado no tronco de uma árvore. Minha febre disparou, meu corpo tem tremores e calafrios cada vez mais frequentes, uma dor não localizada é a única que percebo do meu organismo. Não paro de tremer. Estou no alto de uma colina. Atrás de mim, a selva, uma floresta frondosa, selvagem e implacável. Adiante, desaparece como num passe de mágica, e somente uns troncos dispersos, restos de uma exploração madeireira intensiva, dão uma ideia do que antes havia neste lugar. Ao fundo, distinguem-se as primeiras casas de uma cidade incipiente. Barro, folhas e ladrilhos misturados. A civilização.
Estou a milhares de quilômetros do meu lugar, da minha gente, da minha família, da minha namorada, dos meus amigos… sinto até falta do meu trabalho. A vida cômoda, poder beber ao simples gesto de abrir uma torneira e comer simplesmente fazendo um pedido em um bar qualquer… e dormir em uma cama quente, seca e segura, principalmente segura. Como sinto falta dessa tranquilidade, quando a única incerteza era decidir em que gastaria meu tempo livre quando saísse do trabalho! Como me parecem absurdas as preocupações de antes: a hipoteca, o salário, a discussão com um amigo, a comida que me desagrada, a partida de futebol! Principalmente a comida…
Está claro que a necessidade de sobrevivência muda o ponto de vista das pessoas. Comigo, pelo menos, foi assim. O que estou fazendo a tanta distância de casa, moribundo, às margens da selva centro-africana? Como me coloquei nesta situação dantesca e aparentemente irremediável?
Reviso mentalmente as circunstâncias agourentas que me levaram à beira da morte, à entrada da estrada de trânsito para o além, à mais provável extinção da minha história no livro da vida…
DIA 1
Olhei para o relógio. Nosso avião de volta à Espanha sairia dentro de duas horas. Alex, Juan e eu já estávamos na parte das lojas do aeroporto de Windhoek, gastando as últimas moedas locais e, a propósito, comprando aqueles presentes que sempre se deixa para o final. Já havíamos comido e só nos faltavam as lojas. Comprei para o meu pai uma navalha com o cabo de madeira e com o nome do país, Namíbia, entalhado, e todo tipo de figuras de animais finamente entalhadas em madeiras para as demais pessoas. Especificamente para Elena, minha namorada, comprei uma linda girafa entalhada à mão em um povoado típico da savana africana. Alex comprou uma zarabatana e muitas flechas, segundo ele para jogar com o alvo de dardos e variar um pouco o jogo, dando-lhe um estímulo, digamos, mais tribal. Durante uma hora, estivemos perambulando por aqui e por ali, mochila nas costas, desfrutando dos últimos momentos nesse país que achamos tão exótico. Até que nos chamaram para embarcar. Como já havíamos despachado as bagagens, nos dirigimos diretamente até a porta indicada e logo estávamos em nossos assentos no avião, um antigo modelo quadrimotor de hélices, depois de termos tirado algumas fotos dele. Nosso safari de quinze dias pela agreste savana africana chegava ao seu fim e, ainda que fôssemos sentir falta destas terras, já ansiávamos por uma ducha quente e uma refeição em boas condições, ao estilo espanhol. De toda forma, era uma pena partir neste momento, porque nos haviam dito que dentro de alguns dias haveria um dos eclipses solares mais impressionantes das últimas décadas e que a parte da África onde nos encontrávamos era a melhor para vê-lo com clareza.
Eu era o mais atrevido e aventureiro dos três, e acabei por convencê-los de que viessem comigo até aqui; uma coisa era ter espírito aventureiro, outra coisa era ir sem companhia. De início ficaram receosos em abandonar seus planos de umas férias relaxantes no norte da Itália em troca de um, a princípio, incômodo safari fotográfico em um lugar com temperaturas superiores a 40 ˚C o dia inteiro e sem sombra onde se abrigar. Ao fim da experiência, não estavam nem um pouco arrependidos; ao contrário, fariam tudo novamente sem pensar duas vezes. A aeronave nos levaria mais de mil quilômetros ao norte até outro aeroporto internacional, onde faríamos conexão com as modernas e cômodas linhas aéreas europeias para voltar para casa.
Depois da decolagem, começamos a ver as fotografias da viagem na câmera digital do Alex. Tinha uma foto divertidíssima do Alex e do Juan correndo apavorados e um gnu mal humorado atrás deles, a toda velocidade. Enquanto eles terminavam de revê-las, entre risadas e lembranças, eu me perdi em meus pensamentos, olhando pela janela, vendo passar as nuvens ao nosso redor. Sentia-me muito bem voltando para casa com meus dois melhores amigos, os quais conhecida desde a escola, de uma aventura maravilhosa em um país incrível. Foi como ter estado dentro de uma reportagem da National Geographic, daquelas que tanto gostava de assistir na televisão enquanto comia. Um safari em um 4x4 seguindo o rastro das grandes migrações de gnus, fotografando as manadas de elefantes ou vendo os famosos leões a poucos metros de distância em plena savana selvagem africana. Vimos lutas de hipopótamos, crocodilos à espreita em busca de uma presa, hienas ansiosas por carniça, urubus voando em círculos sobre alguma carcaça,