Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela. Patrizia Barrera
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Na prática, tratava-se de um pacto comercial que a China, que já era obrigada a suportar que a Inglaterra introduzisse ópio das Índias em seu território, foi claramente forçada a aceitar. Toda a ideologia milenar do imperialismo chinês baseia-se na recusa em expandir suas fronteiras ao estrangeiro, a quem só é permitido negociar e, às vezes, viajar em seu território. A ideia de misturar-se com o Ocidente, tanto cultural quanto praticamente, sempre foi impensável para a China, que também impôs vetos inflexíveis à emigração nacional, preferindo sistemas sangrentos de controle demográfico à perda de sua capacidade de regulamentação. As motivações não eram apenas políticas e hegemônicas, mas constitucionalmente religiosas. O Ocidente era considerado um receptáculo de perdição e culturalmente atrasado em relação ao Colosso, que sempre dominou a Ásia.
Foram, portanto, apenas a debilidade interna e a interferência europeia que a levaram a firmar esse tratado, que de fato vendeu seu patrimônio humano, entregando-o em mãos inimigas. Um acordo com uma promessa de bilateralidade, mas que na prática forçou milhões de chineses, por bem ou por mal, a emigrar para a América.
A China ocupou-se inicialmente da realização de recrutamentos forçados, elaborando listas e mais listas de "escolhidos"; depois, muitos foram "sequestrados" ou "desaparecidos", provavelmente sob encomenda. Eram claramente homens jovens e saudáveis arrancados de suas famílias, que permaneciam em casa como reféns para garantir a boa conduta do indivíduo. Uma ameaça implícita que surtiu efeito nos imigrantes e explica o porquê de seu comportamento servil e submisso.
Desde então não demorou muito até o estabelecimento de uma máfia chinesa que controlava o tráfico humano nos Estados Unidos, acobertada pela própria China. Como uma forma de retribuição, ela introduziu ópio, escravos e prostituição, chegando a administrar tais atividades completamente às custas do país americano. Quase como quem diz, "Quem procura acha". No final das contas, todos acabaram perdendo, sem exceção. Mesmo que o prejuízo maior fosse sempre o do mais fraco, começando pelos pobres e miseráveis ex-agricultores, obrigados a trabalhar quinze horas por dia em condições desumanas até morrer. Havia também as pequenas escravas que, aos sete anos de idade, iniciavam uma vida de prostituição e não sobreviviam até os vinte anos.
Essa era a primeira Chinatown, de 1860. Consistia em algumas casas de madeira, alguns empórios e algumas coisas relacionadas à vida cotidiana. Mas em apenas trinta anos o bairro mudou completamente, tornando-se um ponto de referência para as noites insanas dos estadunidenses ricos.
Além de todas as expectativas, os chineses mostraram-se extremamente eficientes, a ponto de, em 1880, suas atividades terem sido difundidas e dado vida à economia norte-americana. Seu comércio florescia e, assim como hoje, eram capazes de cobrar preços extremamente competitivos. Os objetos chineses estavam na moda, assim como suas especiarias, roupas e perfumes. Graças à máfia, eles conseguiam vender frutas e legumes, mesmo do exterior, a preços ridiculamente baixos e suas habilidades estendiam-se a todos os setores, do artesanato à fabricação e até ao serviço privado. Eles também puxaram o tapete dos circos ambulantes nacionais, inventando acrobacias espetaculares que os circenses norte-americanos não eram capazes de reproduzir por serem mais altos. Como trabalhadores, eram impecáveis e não davam ouvidos às ideias liberais que circulavam por volta de 1880 reivindicando redução das jornadas de trabalho e condições de vida mais dignas. Acima de tudo, custavam metade do preço dos trabalhadores europeus, que acabavam sem condições de sustentar suas famílias e rangiam os dentes em protesto contra aqueles que "roubavam seus empregos".
Enquanto esses males diziam respeito aos imigrantes, geralmente europeus, ninguém reclamava; eles que rastejassem entre si, visto que seu baixo custo era uma dádiva para os empregadores.
Mas quando esse fenômeno explodiu entre comerciantes e trabalhadores da "raça pura norte-americana", começaram os problemas. Na década de 1850, os chineses haviam-se reunido em uma área da antiga Portsmouth Square, uma das primeiras a ser estabelecida durante a corrida do ouro. Lá deram início às atividades independentes de lavanderia — um trabalho "sujo" que ninguém na época, nem mesmo a pior lavadeira, queria fazer —, seguidas rapidamente de outras, como floricultura, varejo de frutas e legumes, comércio de arroz e empórios para atender às necessidades diárias de uma cidade em crescimento. Em dois anos, a área, anteriormente denominada "Little Canton” havia-se expandido drasticamente, a ponto de abrigar até 33 lojas de varejo, quinze espaços fitoterápicos e farmacêuticos e cinco restaurantes. Toda a área chinesa estava em pleno desenvolvimento, para o agrado das autoridades locais, que muitas vezes a elogiavam publicamente, apresentando-a como um modelo de seriedade e diligência. Fortalecidos pelo consenso geral, os chineses mudaram o nome da área original para Chinatown e, para muitos deles, era quase como se sentir em casa. Para animar as horas quentes dos desesperados em busca de riqueza, a comunidade chinesa construiu também um teatro que hospedava empresas itinerantes e, gradualmente, a pequena cidade tornou-se um centro de recreação com a ambição de transformar-se na nova São Francisco. Na realidade, o novo nome foi cunhado pela imprensa, para exemplificar um conceito bastante banal, porém, mais tarde, os EUA viram ou quiseram ver nesse gesto um ato de arrogância que afetaria gravemente a comunidade chinesa.
Em alguns anos, Chinatown cresceu e tornando-se o símbolo de uma cidade dentro de uma cidade e de um povo dentro de outro povo. Das doze casas de madeira chamuscada dos primeiros anos, restava apenas uma vaga lembrança. Em 1880, toda a área havia-se tornado um bairro elegante que acolhia 22 mil pessoas — praticamente apenas homens —, com salões de jogos e casas de ópio onde os norte-americanos ricos e os amantes aflitos poderiam esquecer suas dores. Um mundo multicolorido no qual a "chinesidade" estava em alta, induzindo as famílias burguesas estadunidenses e europeias a entregarem-se ao luxo de porcelanas e espelhos chineses, suas especiarias e até mesmo seus adornos "amadores". Em resumo, tratava-se de uma evidente onda de crescimento que instigou no governo dos Estados Unidos o terror de um futuro capitalismo chinês capaz de tornar-se uma ameaça, pondo em cheque inclusive a moralidade dos costumes norte-americanos. O "perigo amarelo" invadiu o país, que passava por uma situação histórica difícil após as reviravoltas da Guerra da Secessão; a desestabilização econômica do Sul, as reformas políticas, a demanda por mudanças e o desejo de dominação absoluta sobre a Europa produziram um efeito em cadeia totalmente devastador. Grande parte da população norte-americana havia sofrido negativamente com as consequências da "restauração" do sistema, que condenou milhares de famílias à fome. Os comerciantes fechavam suas lojas e os imigrantes morriam de frio nas ruas ou acabavam linchados por multidões ao serem pegos roubando nos estabelecimentos comerciais. As prisões estavam superlotadas e a batalha pela sobrevivência assumia os tons das antigas lutas de classe europeias. O que prosperava era a máfia: em primeiro lugar a irlandesa, que funcionava para "além" do Estado, impondo aos seus "protegidos" a obrigação de votar nas eleições e apoiando as atividades clandestinas relacionadas ao álcool e drogas no país.
Em segundo, a chinesa, que apesar de permanecer "fora" do Estado, ocupava-se de seus compatriotas e agia exclusivamente de acordo com as regras da sua ideologia nacional, que ditava