O outro lado do amor. Catherine Spencer

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу O outro lado do amor - Catherine Spencer страница 3

O outro lado do amor - Catherine Spencer Sabrina

Скачать книгу

O mesmo tapete no chão, as mesmas cortinas nas janelas e o mesmo crucifixo sobre a cama.

      Quando tinha pesadelos, o pai nunca permitira que se deitasse na cama com eles. Nem sequer na típica manhã de domingo. Nunca lhe contara uma história. Das suas memórias de criança, aquela casa era tão severa como uma prisão. Ao vê-la com olhos de adulta a opinião mantinha-se.

      – Cadie, és tu? – perguntou a mulher.

      Surpreendida por aquela voz tão débil, Molly aproximou-se e constatou que Dan não tinha exagerado. Hilda Paget nunca fora uma mulher grande, mas as feridas, a doença e as dificuldades tinham transformando-a numa sombra daquilo que fora.

      – Não, mãe, sou eu – disse com um enorme sentimento de culpa.

      – Molly? – questionou a mulher. Ao tentar levantar-se gemeu de dor. – Filha, não devias ter vindo. As pessoas vão começar a falar de novo.

      Molly sentia um nó de dor. Deu-lhe um beijo na face.

      – Elas que falem. Vim cuidar de ti e isso é que importa.

      – Mas já tratam de mim. Vem cá uma enfermeira duas vezes ao dia e a Cadie, a vizinha, vem de manhã e à noite e faz as compras para casa. Alice Livingston traz-me sopa à tarde… – apesar dos protestos, tinha segurando-lhe na mão de uma forma que parecia que jamais a voltaria a soltá-la. – Como é que tiveste conhecimento do meu estado de saúde? Quem é que te contou?

      – O teu novo médico falou com uma assistente social do hospital que entrou em contacto comigo. Por que é que não me chamaste? Achas que não iria importar-me? Achas que iria voltar-te as costas?

      – Porque sei o quanto odeias este lugar e o muito que iria custar-te regressar.

      – Odeio-o, é verdade, e acho que vou odiá-lo até ao fim dos meus dias.

      – Então, por que é que decidiste cuidar de uma mulher que nunca tratou de ti como uma mãe?

      – Porque, ainda assim, continuas a ser a minha mãe e o pai já cá não está…

      Não terminou a frase. Não concluiu: «já nada me impede de voltar». Não havia necessidade de remexer no passado. John Paget tinha-a expulsado de casa inúmeras vezes e insultado a plenos pulmões. Todos sabiam que pai e filha tinham grandes divergências.

      Quantas noites de Inverno tinha passado calçada com uns ténis e com um blusão fino vestido? Quantas noites de Verão se tinha escondido no bosque, que havia atrás de casa, até ele sair para o trabalho para poder entrar?

      Apesar de todos saberem o que se passava, ninguém tinha mostrado compaixão. Em vez disso, permaneceram calados, a observar sem fazer nada. «Pobre John Paget! Que rapariga endiabrada lhe saiu. Nasceu selvagem e morrerá selvagem.»

      Tinha a certeza que quando soubessem que tinha regressado, iriam a correr até ao cemitério para verem se estaria a dançar em cima da campa do pai. Não valia a pena! Alegrava-se que tivesse morrido, não podia negá-lo. Tinha sido um monstro, o mundo estava melhor sem ele.

      – Não julgues que não paguei pelo que permiti que acontecesse quando eras pequena – disse Hilda Paget com uma dor insuportável nos olhos. – Deixei que o teu pai te maltratasse, isso atormenta-me. Teria sido melhor que me tivesses deixado morrer na nossa cama.

      – E permitir que todos tivessem razões para me criticar? Para que dissessem: «não te disse?» Nem pensar! – riu Molly tentando esquecer o passado. – Sinto muito, mãe, mas vim para ficar todo o tempo que for necessário. Não vim sozinha.

      A sua mãe olhou para a porta, onde estava Ariel.

      – Trouxeste a menina? – disse com a voz quebrada. – Ó, Molly, julguei que iria morrer sem conhecê-la!

      Molly sentiu o coração a despedaçar-se, mas tentou acalmar-se.

      – Vem cumprimentar a tua avó, querida.

      Ariel aproximou-se do leito.

      – Olá, avozinha. Sinto muito que o teu carro tenha sido colhido por um comboio.

      Hilda ficou com os olhos marejados de lágrimas.

      – Deus seja louvado! – disse ao agarrar na mão da neta. – É como voltar dezoito anos atrás. És igual à tua mãe. Os mesmos olhos castanhos, o mesmo cabelo… Ainda bem que não és parecida comigo.

      – Vamos desfazer as malas – disse Molly à filha. – Vamos deixar a avó descansar um pouco. Mais tarde, jantamos aqui, de acordo? Parece-te bem, mãe?

      – Muito bem – respondeu Hilda com um grande sorriso, apesar do cansaço que a invadia. – Nunca pude jantar na cama, o teu pai não deixava. Amanhã, por esta hora, julgaria que não teria porque lutar, mas agora é diferente.

      Molly conseguiu sair do quarto e descer as escadas sem chorar. Mas ao chegar lá abaixo não aguentou a emoção.

      «Um pouco tarde para te pores a chorar, Molly Paget. Eras a única pessoa que existia entre esta pobre mulher e a besta do seu marido, mas deixaste-a sozinha e em perigo. És uma má filha e mereces todas as críticas. Como é que te sentirias se a Ariel te abandonasse como tu abandonaste a tua mãe», fustigou-se.

      Destroçada. Era assim que se sentiria. Para aquela mulher, Molly era o bem mais precioso do mundo.

      O problema foi Hilda ter vivido pelo e para o marido, obedecendo-lhe sempre, apesar de toda a irracionalidade. Viver com ele convertera-se num suplício, podia tê-la chamado. Ao fim e ao cabo, Molly não desaparecera sem deixar rasto. Mantivera-se em contacto com a mãe através de carta. Hilda não respondia com muita frequência, e quando o fazia, as cartas eram quase impessoais. A última recebera-a há quase onze meses, continuava gravada na sua memória.

      Querida Molly:

      O Inverno tem sido duro. Os canos da cozinha congelaram duas vezes na semana passada e o pescado está caríssimo. O neto de Cadie Boudelet tem bronquite, coitadinho. A casa dos Livingston quase ardeu a semana passada por causa de umas chispas que saltaram da chaminé. O nosso televisor avariou, decidimos não comprar outro porque não há nada de boa qualidade, por isso, tento ir à biblioteca uma vez por semana. No Natal vendi duas colchas, o dinheiro veio mesmo a calhar. Começou a nevar em finais de Novembro, estamos em Abril e ainda não parou. O teu pai não sai de casa porque tem medo de cair nas placas de gelo.

      Espero que a menina esteja bem e tu também.

      A tua mãe, que muito te quer.

      Como de costume, não se interessava pela sua vida, não perguntava pela neta. Aquela aparente indiferença, que tinha durado uma década, havia feito nascer e crescer em Molly um rancor que não acreditava que pudesse evaporar-se. E de facto, era assim. Ao ver a alegria com que a sua mãe as havia recebido, perguntou-se porque razão escrevera aquelas cartas despojadas de carinho.

      De repente, percebeu a solidão que havia entre cada linha das cartas que escrevera, o vazio interior de uma mulher sem esperança.

      – Mas agora estou aqui, mãe – sussurrou, enquanto se dirigia para a cozinha. – Vou tratar de ti o melhor que sei.

      A cozinha

Скачать книгу