Amor italiano - Mistérios do deserto. Jennie Adams
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– Eu vou pedir um táxi – disse Luc.
Quando ele saiu da sala, Maria seguiu-o com o olhar e, depois, olhou para Bella com sofrimento reflectido nos olhos.
– Tantos segredos – murmurou. – Já é demasiado tarde…
– O que quer dizer? – perguntou Bella, aproximando-se de Maria. – Não compreendo.
– Chegará um táxi dentro de poucos minutos – anunciou Luc, que regressou demasiado depressa. – Maria, entretanto quer um analgésico?
– Sim, por favor – respondeu Maria, com a voz trémula.
Quando, finalmente, se ouviu a buzina do táxi, foi quase um alívio. Maria apressou-se a agradecer a Luc pelo jantar.
– Por favor, perdoa-me por ter de me ir embora. Estou… é demasiado…
– Não há nada para perdoar. Só espero que melhore depressa. Quero que esta seja a primeira de muitas outras vezes que nos vejamos, zia.
– És um homem compreensivo – disse Maria, com lágrimas nos olhos.
Luc acompanhou a sua tia ao táxi. Bella estava realmente preocupada com Maria.
– Não gostei de a mandar assim para sua casa – disse Luc, enquanto entravam novamente. – Vamos comer a sobremesa na sala, juntamente com um café.
– Não tenho muita fome – Bella apercebeu-se do perigo de estar a sós com Luc, tendo em conta que não conseguia controlar o desejo que o seu corpo sentia por ele.
Sabia que o melhor seria partir, mas, ao ver que Grace e a ama não estavam presentes, não conseguiu evitar falar sobre a preocupação que sentia pela sua chefe.
– O que pode ter acontecido no passado de Maria para que fique tão nervosa diante de um membro da sua família, depois de tantos anos?
– Não sei. Quando era pequeno, ouvi alguns cochichos – disse Luc, também muito preocupado com Maria. – Não compreendi muito, mas acho que houve um problema com um homem. Talvez um compromisso que fracassou. Ela partiu repentinamente do país.
– E nunca regressou.
– Naquela época, as coisas eram diferentes – Luc fez uma pausa. – Se se recusou a casar-se com quem os seus pais tinham em mente, talvez a família a tenha renegado.
– Talvez ter-te visto tenha feito ressurgir memórias desagradáveis. Se for esse o caso, com o tempo superá-lo-à. A pressão da sua situação económica também não estará a ajudar. Se lhe contasses a verdade, saberia que não precisa de se preocupar com o dinheiro.
– Se lhe contasse a verdade, dar-se-ia conta de que está em dívida comigo e sentir-se-ia ainda mais pressionada – Luc abanou a cabeça. – Está demasiado nervosa para suportar sabê-lo.
– Suponho que terá de esperar um pouco – disse Bella, que, embora não quisesse admitir, sabia que ele tinha razão.
Bella conseguia ouvir o som de água a chapinhar no andar de cima da casa e pensou que talvez fosse Grace a tomar banho.
– Esta tarde, encomendaram-me dois vestidos. As duas encomendas são de mulheres que assistiram ao jantar de beneficência. Uma delas também comprou um que já estava feito.
Ao dizer aquilo, sentiu como uma pequena onda de prazer lhe invadia o corpo e sorriu.
– Vendemos mais cinco vestidos a clientes habituais e amanhã combinei encontrar-me com um grupo de cinco mulheres do cruzeiro Yarra, porque querem ver vestidos.
– Isso é bom. Fico contente de o ouvir, cara mia.
Luc aproximou-se dela, a qual foi incapaz de se mexer. Perguntou-se se ia beijá-la. Olharam-se nos olhos e uma parte dela desejava que o fizesse, mas, então, abanou a cabeça e afastou-se.
– Tenho de ir. É tarde e ainda demoro a chegar a minha casa.
– Na verdade, é cedo – assinalou Luc, observando-a.
Naquele momento, ouviram-se passos nas escadas e, ao olhar para elas, Bella, aliviada, viu Grace com a sua camisa de dormir. A menina hesitou sobre o que fazer, mas, então, desceu as escadas e abraçou-se às pernas do seu pai, largando-o rapidamente.
Luc deu algumas palmadinhas nas costas da sua filha; parecia que não queria afastar-se dela.
– Está na hora de ires para a cama? Leio-te uma história antes de adormeceres?
– Se não te incomodares – disse a menina, com expectativa reflectida no olhar, deixando claro que aquilo era uma rotina naquela casa.
– Uma história parece-me óptimo – disse Bella, a quem pareceu adorável que um pai lesse à sua filha.
Os seus pais nunca lhe tinham lido histórias, nem às suas irmãs, quando eram pequenas.
– Vou-me embora, portanto o teu pai poderá subir para te ler a história, Grace.
– Não tens de partir. Podes ficar enquanto me lê a história – disse a menina, aproximando-se de Bella. Olhou para o seu pai. – Gostas muito de Bella, não é, papá? Se gostas dela, como a outra não quis ficar comigo, talvez ela possa ser a minha nova mamma.
Criou-se um silêncio tenso e Bella perguntou-se se fora aquilo que Luc dissera à sua filha, que a sua mãe não a queria.
– A sua mãe deixou-a? – perguntou a Luc, olhando acusadoramente para ele.
Mas parecia que Luc não a ouvira. Tinha toda a sua atenção centrada na sua filha.
– Eu quero ficar contigo, Grace – disse, aproximando-se da sua filha e pegando-lhe ao colo. Deu-lhe um beijo na cabeça. – Já te disse que a ama na Itália não devia ter-te falado daquela maneira da tua mamma. E eu querer-te-ei sempre, para sempre.
– Sim, papá.
– Nós conseguimos viver perfeitamente sem uma mamma – disse, num tom muito doce. – No ano que vem, vais começar a escola e estarás muito ocupada.
Grace assentiu e desceu dos braços do seu pai, aproximando-se novamente de Bella.
– Não tens de ser a minha mamma. Já comeste algum merengue? Eu fui comer um antes de tomar banho.
– Às vezes, como merengues, mas esta noite não o fiz. Acho que a minha irmã, Chrissy, gostaria. Está grávida e parece que quer sempre comer coisas que tenham limão.
Pareceu que Grace pensou naquilo durante um longo momento e depois dirigiu-se ao seu pai, com o qual falou rapidamente em italiano.
Luc parecia contente e Bella teve de admitir que não aparentava ser um monstro que não se preocupava com a sua filha.
– Fá-lo-ei, Grace – disse Luc. – Mas, da próxima vez, se não estivermos sozinhos, pede-me em inglês.