A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret Way
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Apesar da sensação de vazio do seu estômago, sentiu que as suas papilas gustativas se rebelavam diante da ideia de mais comida de plástico numa estação de serviço.
– Não tenho a certeza de que… Porque deixámos a estrada?
A voz metálica impediu-o de responder.
– Saia na próxima saída e vire à esquerda.
Estava demasiado cansada para perguntar novamente. Nick ia fazer o que queria, independentemente da sua opinião, portanto, o melhor seria poupar o seu fôlego.
Quinze minutos mais tarde, subiram por uma entrada de veículos e parou o carro. Tinham estacionado à entrada de uma cabana de fantasia: janelas com vidraças, telhado de duas águas e uma bonita cerca à volta de um jardim que parecia espectacular, inclusive naquela época do ano.
Nick fez soar a buzina e Adele fez uma careta. Segundos mais tarde, um homem de trinta e tantos anos saiu da cabana e sorriu a Nick enquanto ele saía do carro.
– Nick! Fico contente por teres conseguido vir. Trouxeste o motor de máquina de lavar roupa que me prometeste?
– Certamente. Está no carro, mas antes de to dar tens de cumprir a tua parte do acordo… um almoço suculento para dois viajantes esgotados.
O homem sorriu.
– Phoebe preparou uma das suas deliciosas sopas. Se não tiveres cuidado, far-te-á beber um recipiente térmico inteiro antes de te permitir continuar com a viagem. Mulheres, eh?
Adele abriu a porta e esticou as suas pernas, dormentes devido à viagem.
– E, por falar em mulheres, esta deve ser a tua esposa.
E, antes que ela pudesse cumprimentá-lo e oferecer-lhe a mão, ele deu-lhe um abraço. Adele olhou para Nick com uma expressão de súplica por cima do ombro do homem, mas só recebeu um sorriso.
– Adele, apresento-te Andy… Trabalhamos em alguns projectos juntos.
Andy finalmente soltou-a e dedicou-lhe um sorriso trémulo.
– Prazer em conhecer-te, Adele, ouvi falar muito sobre ti. Nick não pára de falar da sua bonita e triunfadora mulher. Acho que, secretamente, está à espera de poder abandonar a indústria do cinema para que tu o sustentes com o estilo de vida ao qual gostaria de se habituar.
– Oh!
«Eloquente, Adele. Impressionante. É uma bonita maneira de estar à altura da imagem que Nick deu de ti».
Contudo, Andy não pareceu reparar, pois estava demasiado ocupado a conversar com Nick enquanto os conduzia para a cabana. Rendida, ela suspirou e seguiu-os. Passou a mão pelo cabelo. Graças aos exageros de Nick, a Super Adele ia ter de ficar para o almoço. E, naquele momento, os superpoderes do seu alter-ego estavam manifestamente ausentes.
Entraram numa sala acolhedora com uma lareira. Pouco depois, ouviu passos no corredor e virou-se a tempo de ver entrar uma mulher. Imediatamente, Nick levantou-se e deu-lhe um abraço forte… parecido com o que Andy lhe dera a ela.
– Phoebe! É óptimo voltar a ver-te. Como está tudo?
Phoebe riu-se quando Nick a abraçou ainda com mais força, abanando-a de um lado para o outro até que ela começou a perder o equilíbrio. Uma sensação aguda no estômago surpreendeu Adele. Não desapareceu nem sequer quando a mulher deu um beliscão no braço de Nick para que a soltasse.
Afastou-se dele e virou-se para olhar para ela, ainda com um sorriso radiante.
– Tu deves ser a famosa Adele.
Adele levantou-se do sofá onde se sentara e sentiu os braços e as pernas subitamente rígidos. Estendeu uma mão. Phoebe arqueou levemente o sobrolho, mas apertou-a.
As palavras de saudação não conseguiram ordenar-se na sua cabeça. O que podia dizer? Aquelas pessoas pareciam saber tudo sobre ela, porém, até há cinco minutos, Adele desconhecia a sua existência. Porquê? Realmente ignorara Nick cada vez que ele lhe dera detalhes pormenorizados do trabalho que realizava? Estivera assim tão absorta?
– Olá! – cumprimentou, tentando sorrir.
Phoebe devolveu-lhe o sorriso. Um sorriso verdadeiro. Era evidente que decidira conceder o benefício da dúvida à sua convidada. Adele sentiu-se como se tivesse encolhido alguns centímetros.
– Vem comigo ao celeiro, Nick. Quero a tua opinião sobre uma coisa que estou a construir. É suposto eu fabricar uma máquina de ténis enlouquecida para um anúncio, mas ela recusa-se a ser tão diabólica como quero.
– Se queres algo diabólico, eu sou o teu homem – afirmou Nick, dirigindo-se para a porta.
Phoebe abanou a cabeça.
– A comida estará pronta dentro de vinte minutos. Não me obriguem a ir buscar-vos, está bem? – piscou um olho a Adele. – Os rapazes e os seus brinquedos, não é verdade? Suspeito de que os nossos são piores do que a maioria. Porque não vens para a cozinha para conversarmos enquanto eles desmontam a máquina?
– Claro.
Queria ser brilhante, engenhosa e encantadora, a Super Adele, porém, os seus superpoderes pareciam enterrados debaixo de um monte de sucata. Fora de serviço.
Phoebe parecia realmente simpática. Devia ir para a cozinha e conversar, sem se preocupar com a sensação de formigueiro no seu estômago.
De repente, estar naquela cabana com Nick pareceu-lhe uma ideia atractiva. E ver Phoebe e Andy era como se estivesse a ver o filme de como devia ter sido a sua própria vida.
Tinham tudo: o lar, o casamento feliz. Raízes.
Não conseguiu evitar sentir-se com ciúmes.
Acima de tudo, o que desejava era ter raízes.
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