Escândalo em veneza. Caitlin Crews
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Читать онлайн книгу Escândalo em veneza - Caitlin Crews страница 4
– Que confortável. Como não pode mudar o passado, também não vai incomodar-se em falar dele. Essa é a sua forma de agir?
– Não posso dizer que tenha uma forma de agir porque nunca tinha tido uma conversa, entre aspas, como esta.
– Não me surpreende…
– No entanto, estou aqui, não é? Prometi responder a todas as perguntas que me faça. Podemos falar durante muito tempo e sobre tudo o que quiser. Sou muito complacente. – Matteo voltou a sorrir, embora fosse um sorriso gelado. – E, aparentemente, tóxico.
– É interessante que tenha escolhido a palavra «complacente». – Teve a certeza de que percebera um tom brincalhão na voz, embora não se refletisse na sua cara. – Parece-lhe uma palavra acertada para descrever o seu comportamento?
– Abri-lhe a minha casa, convidei-a e, quem diria, veio. Aceitei ter todas as conversas que considere necessárias e, em troca, chama-me tóxico em vez de acessível.
– Essa palavra incomoda-o.
– Não diria que me incomoda, mas ninguém gosta que lhe chamem «tóxico». Não é um elogio.
O que o incomodava era a inutilidade de tudo aquilo, a perda de tempo e energia e, efetivamente, que fosse tão bonita, algo que era apenas outra arma e que não podia esquecer.
– E, claro, o senhor é um homem habituado aos elogios, não é?
Quis evitá-lo, mas, mesmo assim, sentiu que a sua boca esboçava outro sorriso.
– Talvez ache estranho, mas a maioria das mulheres que me conhece não me acha tóxico.
– Senhor Combe, está a tentar levar a sessão para um terreno sexual?
Matteo viu que os olhos dela deixavam escapar um brilho e teria jurado que era um brilho de triunfo. Compreendeu que estava metido numa confusão maior do que imaginara, mesmo antes de ela sorrir com sarcasmo.
– Ena, isto é muito pior do que tinha pensado – acrescentou Sarina.
Capítulo 2
Matteo Combe era o típico homem arrogante, ostentoso e rico com um poder desmesurado e imerecido que Sarina Fellows não conseguia suportar.
Também era consideravelmente bonito, algo que, para ela, fora um ponto contra ele desde o começo. Tinha esse tipo de beleza que fazia com que as pessoas se tornassem idiotas quando o encontravam. Era como bater com a cabeça contra uma parede ou como começar a rir-se como uma tola de doze anos e odiava sentir como essa reação crescia dentro dela quando há muito tempo que se considerava imune a esse tipo de homens.
No entanto, ele tinha algo diferente, ele era… mais. Era algo relacionado com o brilho do seu cabelo escuro e a firmeza do seu queixo, era o seu nariz aristocrático e esses olhos cinzentos como uma tempestade, era essa segurança em si próprio que cobria como um manto o seu corpo alto, magro e atlético e que deixava muito claro que cedia a ela, a essa avaliação que o seu próprio conselho de administração exigira, porque ele queria, pois não havia nada no mundo que pudesse obrigá-lo a fazer uma coisa que não queria fazer. Fazia-a pensar num rio poderoso que rugia por cima de uma colina. Era enorme, imparável… e perigoso, sussurrou-lhe algo por dentro.
Sarina desprezou-o assim que a palavra se formou na sua cabeça. Efetivamente, era bonito, austero e exuberante ao mesmo tempo, era bonito e rico, asquerosamente rico. Um dos ramos da sua família estava enraizado na indústria de Yorkshire e, o outro, remontava ao Renascimento italiano, mais ou menos, quando se construíra essa casa em concreto.
Entendia perfeitamente porque quisera que aquela primeira reunião fosse ali, no conto de fadas tornado realidade que era Veneza. Queria que ela se inundasse nessa cidade de palácios antigos e história que era como uma tapeçaria resplandecente onde a família era um fio de ouro, onde ela ficaria boquiaberta com o seu esplendor e riqueza… embora ela não fosse das que ficavam boquiabertas e Matteo Combe não sabia onde se metera.
Não só odiava os homens como ele, como também os conhecia. Sabia do que eram capazes e chegara a ter alergia a essa forma de arrogância. A sua amiga de infância, que considerara uma irmã, tornara-se viciada nos homens como Matteo. Seguros de si próprio sem reparos, apoiados pela história e por todo o dinheiro que lhes chegara ao longo dos séculos e tidos em conta por qualquer pessoa que se cruzasse no seu caminho todos os dias das suas vidas.
Efetivamente, sabia tudo sobre os homens como ele.
Não precisava de o destruir, mas os homens como Matteo pareciam-lhe uns balões enormes e muito inchados e ela decidiu ser uma agulha bem afiada. Passara muito tempo a rebentar egos masculinos desmesurados na sua profissão e tinha uma certa reputação de conseguir dominar os mestres do universo e de mostrar os mortais de moralidade mais do que duvidosa que costumava haver por baixo de tanta fanfarronice.
Alguns dos homens que analisava também eram íntegros e, face à ausência de infrações ou condutas inapropriadas, adorava fazer um relatório impecável do homem em questão. Não odiava os homens, como muitas pessoas a acusavam, odiava os homens que abusavam do poder e das pessoas vulneráveis a esse poder.
Tinha a certeza de que Jeannette, estivesse onde estivesse, estava a olhar para ela e a apoiá-la…
E como explicar que esse homem rico e arrogante já tivesse conseguido abrir caminho para as suas entranhas como nenhum outro fizera com essa certeza, sombria e reflexiva, que exsudava como um perfume irresistível?
Isso ficava nas conversas privadas que mantinha dentro da cabeça e que não tencionava permitir que ele soubesse.
– Quer que tenha remorsos.
Matteo estava sentado numa poltrona que, embora não soubesse nada de antiguidades, Sarina sabia que era linda e de um valor incalculável. Era o mais parecido com um rei.
– Se não conseguir tê-los, quererá dizer que chumbei no exame?
– Não se trata de chumbar ou passar – corrigiu ela, enquanto anotava alguma coisa para que se sentisse incomodado. – Parece-lhe enervante?
– Que o meu futuro esteja nas mãos de alguém que não consegue responder a uma pergunta direta? – perguntou ele, com um brilho nos olhos cinzentos. – Nem pensar.
Não esperara que fosse tão irónico. E nem todas as fotografias do mundo, e Sarina estava convencida de que as vira todas só para o investigar, faziam justiça a essa intensidade que era Matteo Combe, a esse cabelo denso e quase preto que parecia indisciplinado, a esse olhar cinzento como a ardósia que fazia com que ela não só pensasse na chuva, mas, o que era mais grave, em dançar por baixo dela. Mesmo quando sabia melhor do que bem que isso levava à loucura e a coisas piores do que uma pequena loucura.
Normalmente, usava fatos muito caros e feitos à medida ou outra roupa formal que lhe permitisse impressionar e avassalar os outros. Naquele dia, no entanto, recebera-a com o que ela supunha que fosse roupa informal. Usava umas calças de ganga desfiadas que deviam ser muito caras porque, evidentemente, as comprara assim. Os homens como ele não faziam nada que pudesse desgastar-lhe os joelhos ou rasgar-lhe o tecido. Estava muito claro que as botas tinham sido feitas à mão ali mesmo, em Itália, e a sua t-shirt parecia-se tanto