Escândalo em veneza. Caitlin Crews
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Já sabia. Sabia que gostava de correr quilómetros e quilómetros, sabia que gostava de nadar distâncias épicas e sabia que o tempo e a energia restantes eram dedicados a levantar pesos. Já lera tudo isso, mas uma coisa era lê-lo no quarto de um hotel e, outra muito diferente, era estar à frente de um homem que gastava toda a força que podia, até a física.
No entanto, ela estava ali para avaliar o seu estado mental, não para se babar quando via como os braços ficavam tensos por baixo da manga da t-shirt. Franziu um pouco o sobrolho e voltou a concentrar-se nele.
– Se se empenhar, esta relação só será… antagonista.
– É uma relação antagonista por definição – replicou ele, com uma delicadeza que não se refletiu no seu olhar. – Suponho que saiba.
– Mas desfruta do antagonismo nas relações, não é?
Ele riu-se como se o tivesse surpreendido.
– Não diria que gosto do antagonismo, mas, na minha família, era quase inevitável.
– No entanto, contou-me que ama muito a sua irmã. Acha que o amor é uma forma de antagonismo?
– Evidentemente, a sua família é muito diferente da minha. Se não, já saberia a resposta a isso.
Sarina sabia quase tudo sobre a sua família, como qualquer pessoa no mundo civilizado, porque os dois ramos dessa família tinham ocupado os artigos da imprensa sensacionalista durante muito tempo. Embora ela não a lesse, era impossível não saber alguma coisa. O pai de Matteo aparecia periodicamente nesses artigos por supostas indiscrições matrimoniais ou empresariais. A mãe fora considerada a mulher mais bonita do planeta enquanto fora viva e estivera acompanhada pelos correspondentes escândalos e especulações.
A irmã e ele estavam muito unidos ou tão unidos como podiam ser com uma diferença de dez anos, o que lhe dera o papel de pai suplente, mais do que de irmão.
Ela, pelo contrário, fora criada por uns cientistas frios mais interessados nas suas investigações e nos seus conflitos intelectuais banais com os colegas do que na filha que, parecia-lhe, fora mais como uma experiência sobre a humanidade do que fruto do verdadeiro desejo de ser pais e não tinham o mínimo interesse nos escândalos que ela pudesse ter criado pelo caminho.
Também não conseguia imaginar-se a ser criada num lugar como essa casa, por muito bonita que Veneza fosse. Jeannette e ela tinham sido criadas numas casas antigas de Berkeley Hills e tinham entrado e saído de quartos repletos de montes de livros com tapetes desgastados agradáveis, de alpendres enlameados e de jardins descuidados. Essa casa era uma acumulação espetacular de tapeçarias perfeitamente conservadas e de estátuas clássicas de pedra para que ninguém pudesse esquecer-se de que aquilo era o epicentro da riqueza mais ancestral.
Sabia porque a recebera ali, mas o tiro ia sair-lhe pela culatra e não achava que ele soubesse. Graças a isso, já sabia como se levava a sério, assim como à sua árvore genealógica… e isso dava-lhe vantagem.
– Porque achou que era melhor que nos encontrássemos aqui? – perguntou ela, num tom frio. – Este lugar é claramente uma casa privada, não parte do seu império empresarial. É outra tentativa de fazer com que esta… relação siga um roteiro sexual?
– Doutora Fellows, é a única que não para de mencionar o sexo – replicou Matteo, num tom aveludado.
Ela conseguiu fazer com que o seu rosto não refletisse nenhuma reação.
– Insistiu que começássemos aqui e não num dos seus muitos escritórios, pode explicar-me porquê?
– Porque estou aqui neste momento.
A sua voz tinha algo opaco e um sotaque único, que não era nem britânico nem italiano. Era algo sombrio e mais cativante do que ela estava disposta a reconhecer. Para seu espanto, sentia uma espécie de… arrepio que abria caminho dentro dela, que lhe chegava entre as pernas e palpitava! Ficou gelada de espanto.
– Deu-me a impressão de que tanto a doutora como o presidente do conselho queriam que estas reuniões se celebrassem o mais depressa possível e eu, como sou muito obediente, pus-me ao seu dispor imediatamente.
Esse homem não tinha nada de obediente e Sarina ordenou-se que tinha de se concentrar nos motivos para estar ali e não nessa coisa… palpitante, nem nessa intensidade desmedida que sentia por baixo da superfície aristocrática dele.
– Senhor Combe, acho que queria que viesse a esta casa para me impressionar.
– Não me passou pela cabeça, nem remotamente, a ideia de a impressionar.
– Estou a avaliá-lo por motivos empresariais e, mesmo assim, aparece de t-shirt, no seu espaço mais pessoal. Quando muito, não está a levar-me a sério. Parece-lhe acertado?
Então, houve algo que mudou no olhar dele, como um brilho de mau feitio contido. Inclinou-se para a frente e apoiou os cotovelos nos joelhos e, de repente, ela percebeu que, embora ele lhe tivesse chamado uma biblioteca, era apenas uma sala. Efetivamente, havia alguns livros e uma lareira e não era um espaço pequeno, mas, quando ele se mexia assim, era como se ocupasse tudo.
– Normalmente, daria uma lição aborrecida de história a um visitante, mas esta casa tem muito pouco de pessoal. Está como sempre esteve. Sou o seu curador, não o seu habitante. Tenho de a entregar intacta à geração seguinte. Passou assim, de primogénito para primogénito, desde que foi construída. Para mim, doutora, não há diferença entre o aspeto pessoal e o empresarial. A minha mãe era uma San Giacomo. Saberá o que isso significa.
– É a sua forma de me recordar que é famoso, senhor Combe?
– A minha família não é famosa – contradisse, com amabilidade. – A fama é efémera. A minha família, os dois ramos, é proeminente e com uma fortuna considerável e foi assim há séculos.
– Acha…?
– Deixemos de nos perseguir, por favor – interrompeu ele, com delicadeza, embora ela percebesse a impaciência. – O que quer de mim? São certas palavras ordenadas de uma forma concreta que acalmarão essa dignidade ofendida que o meu conselho de administração finge sentir? Diga-me o que precisa e poderei dar-lho para que todos possamos continuar com as nossas vidas.
Foi como uma bofetada e fez com que se interrogasse porque não percebera que estava a alterá-la daquela forma… e não era apenas essa coisa que sentia como uma palpitação nova na… barriga.
Efetivamente, era agradável olhar para ele, até era magnético, mas havia mais alguma coisa. Estava inclinada para a frente nessa poltrona tão incómoda que escolhera e tinha de fingir que estava confortável. No entanto, não estava a avaliar Matteo Combe como devia, estava a agarrar-se a todas as suas palavras e estava a desfrutar demasiado de discutir com ele. Estava… a divertir-se com aquilo… com ele.
Uma onda de ódio por si própria apoderou-se dela e, em certo sentido, espantou-a que não a arrastasse e que ele não a tivesse visto.
Desculpou-se com Jeannette e, enquanto pensava na sua amiga perdida, a sua irmã de alma, outra onda sacudiu-a. Essa, de uma tristeza que nunca a abandonava por completo, que não a abandonaria até fazer o que tinha de fazer para dar o seu castigo aos homens que se aproveitavam das raparigas encantadoras,