Mundanismos. Diniz Almachio

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Mundanismos - Diniz Almachio

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dentro a porta da rua… Subimos. Mal chegavamos em cima, começaram de bater numa porta. Poderia eu suspeitar que o meu marido, tendo ordenado que eu fosse, porque elle não teria opportunidade de acompanhar-me, logo depois resolvesse o contrario, e estivesse a bater na porta da rua? E foi por um acaso que nós o vimos. Chegamos inesperadamente a uma janella do sotam e percebemos que era elle quem batia. O dr. Eduardo, desculpando-se por jà ter eu cavalheiro, despediu-se de mim, desceu as escadas, e, quando abria a porta, foi insolentemente aggredido por Saul, que lhe negou a mão para o cumprimento do estylo… Só tu vendo, maman, a furia com que o sr. meu esposo investiu contra mim! Felizmente, desafiado pela minha calma, elle não teve animo para iterar o qualificativo mau com que me mimoseou. Dei-lhe as costas e, se elle quiz, fechou sósinho a caza e veiu só…

      – Devias ter evitado tudo isto, Nedda.

      – Evitado, como?

      – Não acquiescendo à companhia de um homem de mà fama, como é o dr. Eduardo.

      – Adivinhasse eu que elle viajaria para a Barra naquelle mesmo bonde em que eu fui… Hora de trabalhos na cidade…

      – Recusasses os favores offerecidos.

      – Ora, maman! Deixa-te de coisas! Qual é a mulher que se anima à grosseria de recusar gentilezas de um moço de distincto trato?..

      – Conforme o renome desse moço.

      – Tem mà fama o dr. Eduardo?

      – Não sei, não. Dizem.

      – Se tem mà fama, tem maus costumes. E como é que Saul, tão zeloso de sua honra, admitte, no seu convivio e nas suas recepções, um homem mal visto? Penso que os frequentadores de nossos salões, os habitués de nossa intimidade, sejam pessoas dignas de acompanhar-me a um ponto qualquer, e, se não fôsse assim, a primeira privação delles, seria a do nosso convivio…

      – Neste ponto és razoavel, sou eu a primeira a reconhecer… Mas, Saul referiu-me que estavas sem chapeu…

      – De facto. Ao depois que o dr. Eduardo se despediu, esbarrei na telha van do sotam, e enchi as flores do chapeu de teias… Sabendo que o sr. meu marido alli estava para auxiliar a reposição, tirei o chapeu e asseiei-o prestamente…

      – Diz mais elle que estavas empurpurada e que te confundiste com a sua chegada, ao ponto de não saberes repôr o chapeu…

      – Saul é um mentiroso.

      – Não te zangues, Nedda.

      – Injuriou-me.

      – Não dês importancia a isto e resolve-te a aceital-o pacificamente…

      – E elle o quer?

      – Porque perguntas?

      – Porque tão honrado elle não deveria aceitar mais a cohabitação da esposa deshonesta.

      – Não deves dizer assim, minha filha!

      – Aceita-me elle?

      – Que tolice, Nedda!

      – Maman, Saul deveria ter agora a minha repulsa definitiva, e não a faço em attenção aos teus bons officios…

      – Fazes muito bem.

      – Là vem elle descendo…

      – Trata-o bem, minha queridinha! Um lar que não tem esposo…

      – Desculpa-me, maman: só agora reparo que estou muito à vontade para nos encontrarmos os tres…

      Arrepanhando, então, o bello roupão desabotoado, por cujas rendas e decotes se viam as carnes luciferas de NEDDA, a mulher de Saul se escapuliu, desenhando escorreita o seu impecavel corpinho de esculptura grega…

      VOLUPTUOSAS

      No rêz-do-chão de um palacete, coadas as luzes do sol por arrendados stores pallidos, HELENA fazia somno à hora da sesta, quando MARIA ANGELICA a surprehendeu adormecida.

      A recemvinda impregnou o ambiente de essencia de iris, emquanto uma voluptuosidade ennervante empurpurava a linda cabeça desmaiada de HELENA…

      Um beijo sobre os labios da desaccordada mulher, fel-a despertar com um fremito de prazer…

      – De onde vens tu, Angelica?

      – De encommendar flores…

      – Flores?!

      – Não te recordas de que Sophia se cazará amanhan, à noitinha?

      – Sou uma esquecida.

      – E ella é credora de nossas gentilezas…

      – Das minhas, especialmente.

      – Encommendei orchidéas e chrysanthemos.

      – Que gosto! De minha parte vou mandar-lhe duas magnolias.

      – Bellas flores, realmente. Mas, a natureza esmerou-se no chiquismo das orchidéas. Uma catyleia é um pedaço de labios excitados por dois beijos.

      – Não lhes acho graça.

      – Ó exigente!

      – Flores do matto. E jà notaste que quasi todas ellas são lilazes e roxas? ou que se enfeitam com estrias e matizes dessas duas côres melancolicas?

      – Descobres coisas…

      – Mas, não é?

      – Realmente.

      – E como vais presentear uma noiva com flores lilazes?

      – É a moda, é o chic, é o dernier-cri

      – Olha! Nas minhas bodas manda-me flores alvas, muito alvas, chrysanthemos, rosas, cravos, magnolias… Comprehendeste-me?

      – Se não! Agora, coisa notavel: eu te vejo com as faces pallidas e os olhos muito brilhantes…

      – De verdade?

      – Sim. Sonhavas?

      – Nem me lembro! Parece-me que sim. E tu estás intensamente corada…

      – Apanhei muito sol.

      – Os teus olhos estão pisados e languidos…

      – É da fadiga do caminho… Desde cedo na rua, exposta, Helena, ao calor que abraza e ao sopro canicular que afeia os penteados…

      – Jà tinha reparado: os teus cabellos estão desmanchando-se…

      – E eu os concertei no espelho de Esther.

      – Andaste là, hein? Jà havia desconfiado… Quando te vejo amollentada, assim, tenho razões para me enciumar… É muito descuidada a Esther. Cuida mal das vestimentas das amigas. Olha o teu cinto, Angelica… Está mal posto, a fita está retorcida…

      – Nem

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