Atração De Sangue. Victory Storm
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Tinha as paredes acinzentadas e os móveis cor de nogueira escura.
Resumindo, deprimente. Como tudo o resto.
Atirei a mala ao chão e joguei-me sobre a cama.
Queria apenas esquecer. Fechei os olhos.
A imagem de dois olhos cor de gelo que me atravessavam surgiu imediatamente na minha mente.
Uma série de arrepios percorreu-me toda a coluna.
Vacilei de medo.
Ele outra vez! Era um tormento. Era culpa sua se me encontrava ali.
Estava tão cansada! Queria tanto ouvir a voz da minha tia Cecília que me tranquilizava, como fazia sempre que alguma coisa corria mal.
Tentei pensar nela e visualizar mentalmente o seu rosto sorridente, mas não consegui afastar aqueles terríveis olhos azuis.
Finalmente, sem aperceber-me, adormeci.
Estava exausta e incapaz de ver o meu futuro.
Há apenas um mês, a minha vida tinha sido interrompida e agora não sabia mais quem era nem para onde ir.
Tudo tinha mudado.
VISITAS
4 de outubro de 2018
Quatro em biologia.
Não podia mostrar aquela má nota à tia Cecília.
Há um mês que continuava a repetir-lhe que ia recuperar da insuficiência que tive na outra vez e em vez disso...
Sabia que não se ia zangar, mas não queria dar-lhe um desgosto, uma vez que ela me ajudou a estudar para o teste.
O autocarro parou em frente à quinta, pouco antes do fim do Caminho das Quatro Cruzes, que ficava ao pé do espesso pinhal de Landskare.
«Terminal» gritou-me do lugar do condutor Joshua, o motorista, distraindo-me das minhas preocupações.
«Obrigada. Vemo-nos amanhã» cumprimentei-o distraída.
«Até amanhã, Vera».
Poucos metros e cruzei o portão da quinta.
Vi Ahmed, o nosso velho faz-tudo tunisino, tentando reunir as galinhas na capoeira.
«Ahmed, olá! Como foi o teu dia?» perguntei-lhe amavelmente.
O homem soltou um grunhido.
«Frio húmido e dor de costas» respondeu Ahmed.
Foi sempre um homem de poucas palavras. Depois de dez anos de convivência, já tinha percebido que adorava estar comigo e com a tia, mas detestava o clima chuvoso irlandês, que lhe causava frequentemente qualquer dor nos ossos.
«Vamos lá, digo à tia para preparar-te a habitual compressa, que te dá sempre tanto alívio» consolei-o.
Ahmed sorriu-me com gratidão.
Sem dizer mais nada, atravessei a porta da entrada de casa.
Perfume de tarte de maçã. A minha preferida.
Isto significava duas coisas: a primeira, que eu não podia contar à minha tia acerca da minha má avaliação para não estragar o dia e a segunda, que em casa estava o padre Dominick, o padre mais simpático e generoso do mundo.
Ele também adorava tarte de maçã por isso, a tia Cecília preparava-a sempre que ele nos fazia uma visita.
Tirei os sapatos, o casaco e a mochila à entrada e dirigi-me ao salão, onde a minha tia conversava divertida com o padre Dominick.
«Olá.»
«Vera, tesouro, vem. Esperávamos por ti para o chá» convidou-me a tia com a sua voz mórbida e doce, que ponha sempre todos à vontade.
«Vera, olá. Passou apenas um mês desde a última vez que te vi, mas parece-me que estás mais crescida» cumprimentou-me o padre.
«Se crescesse pelo menos um centímetro todas as vezes que mo diz, agora teria quase três metros de altura» respondi rindo.
Também Dominick soltou uma estrondosa risada.
Ele nunca se ofendia perante as minhas piadas e a tia já não lhes dava importância.
Depois chegou o lanche. A tia serviu o chá e a tarte de maçã.
Mal afundei os dentes no doce perfumado, senti-me logo melhor, até que me engasguei por causa da pergunta da minha tia.
«Como correu a escola?» perguntou-me.
«Bem».
«O professor Hupper entregou-te o teste de biologia?».
Será possível que a minha tia nunca se esqueça de nada?
Como fazia para ter sempre a mínima coisa sob controlo?
«Não» menti, procurando concentrar-me no aroma do chá.
Ainda estávamos a acabar de lanchar, quando tocou o telefone.
«Eu vou lá. Será seguramente o Duncan McDowell acerca da história do gado que comprei antes de ontem» pensou a tia em voz alta.
Apenas a tia se afastou (era mesmo o Duncan McDowell ao telefone), o padre Dominick dedicou-me toda a sua atenção.
«E então, como estás?» perguntou-me com um olhar sério.
«Bem».
«Pensaste naquilo que te disse da última vez acerca do amor de Deus?».
«Sim, mas já te disse que tenho dúvidas acerca da justiça do Senhor. Neste mundo existem muitas coisas erradas. Eu não vejo todo esse amor de que fala».
«Está dentro de nós».
«Sim, mas então porque tantas pessoas cometem pecados? Sem contar que muitas vezes os mais afortunados são aqueles que menos merecem» me enervei.
O padre rendido sacudiu a cabeça. Há já alguns meses que me falava de amor, misericórdia e justiça divina e eu continuava a trazer à baila episódios de injustiça quotidiana ou de guerras.
«Então, tu nunca cometes pecados?».
Aqui está, tinha chegado o momento da confissão.
«Não, nunca» desafiei-o.
«É já pecado dizer uma frase deste género» repreendeu-me.
«Pois. Ao menos agora