O outro lado do amor. Catherine Spencer

Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу O outro lado do amor - Catherine Spencer страница 2

O outro lado do amor - Catherine Spencer Sabrina

Скачать книгу

Como assim?

      Dan observou-a com um olhar clínico. Trazia calçadas umas botas de couro e um blusão de caxemira com um capuz em pele.

      – Parece-me incrível que precises de perguntar isso. Se tivesses…

      – Se não tivesse sido tão má filha não precisaria de perguntar-te, é isso? – interrompeu-o. – Não deixes que a roupa te confunda. Por baixo continuo a mesma rapariga sem vergonha e rebelde que não merecia os pais que tinha.

      – Tu é que estás a dizê-lo, não eu.

      – Isso é o que dizem todos. Por isso, tive de partir antes de completar os dezoitos anos. Suponho que agora que regressei voltarei a ouvir esse tipo de comentários.

      – Foi por isso que tiveste tantos anos sem cá vir?

      Molly evitou suspirar. Como revelar-lhe a verdade? Como contar-lhe que quando a deixou, depois da sua secreta aventura de Verão, ela ficara grávida? Que não pôde contar com o apoio da mãe, porque ela nunca tivera a coragem de opôr-se à tirania do pai. Com medo de ser morta pelo pai, decidiu partir. E como dizer-lhe que os odiava a todos?

      – Não faças mais perguntas sobre mim. Perguntei-te sobre a minha mãe. Sei que os meus pais tiveram um acidente de carro numa passagem de nível, que o meu pai morreu e que a minha mãe ficou mal. O que quero saber é sobre a gravidade das suas lesões e se irá recuperar.

      Viu um brilho nos olhos de Dan. Como de decepção.

      – Mudaste muito, Molly. Não és a rapariga que eu conhecia.

      – É o que pretendo!

      – Perdeste a tua doçura.

      – E perdi as minhas ilusões juvenis, doutor. Se tu continuasses fiel às tuas, não sei se hoje serias o médico da minha mãe. Isso faz-me pensar em outra coisa. Por que é que o teu pai não está aqui? Ele é que era o nosso médico.

      – Reformou-se o ano passado. Se queres uma segunda opinião, ele não ta dará. Posso dar-te o número de telefone de um colega, mas, se quiseres um especialista, terás de ir buscá-lo fora de Harmony Cove. Aliás, já consultei o cirurgião-ortopedista da região; ele está de acordo com a minha modesta opinião.

      – Talvez peça uma segunda opinião, sim – disse ao golpear nervosamente o chão. – Entretanto, gostaria que respondesses à pergunta que te fiz. Como é que está a minha mãe? E não me escondas nada. Se achas que não vai recuperar ou se vai ficar inválida para o resto da vida, diz-me.

      – Como toma há muito tempo esteróides para a asma, tem uma forte osteoporose. Isso, aliado à sua idade, a uma dieta pobre e a uma falta geral de cuidados sanitários. Se abraçares essa mulher com força podes partir-lhe as costelas. No acidente, partiu a anca. Colocaram-lhe uns parafusos. É possível que volte a andar, mas, certamente, apenas com o auxílio de um andarilho. Poderíamos melhorar a qualidade dos seus ossos, mas apenas se tomar a medicação. O problema é que se esquece de tomá-los, está deprimida. Parece que não quer ficar boa. Atrevo-me a dizer que quer morrer. Estou a ser suficientemente claro?

      Suficientemente? Aquelas informações deixaram Molly como um pudim Flan. Sentiu um doloroso nó na garganta.

      – Bastante – disse ao abrir a porta. – Obrigada por teres vindo.

      Dan parou.

      – Não tenhas tanta pressa para perder-me de vista. Não me vou embora enquanto não tiver a certeza de que percebeste as limitações da tua mãe. E de como deves tratá-la.

      – A assistente social que entrou em contacto comigo, a teu pedido, explicou-me tudo. E quanto aos cuidados, não preciso que me ensines a mudar os lençóis ou a pôr uma cunha.

      – Não creio que estejas preparada. Há anos que não vês a tua mãe, ela mudou. Prefiro ficar a dar-te apoio moral.

      – Não. Prefiro não ter-te por perto a todo o instante. Se não há uma medicação ou tratamento específico…

      – Mas há – interrompeu Dan. – Vem cá uma enfermeira, duas vezes ao dia, para tratar da tua mãe.

      – Bem. Então, se tiver mais dúvidas, falarei contigo… ou com outro médico… talvez ainda esta semana.

      – Sempre que necessitares, irei esclarecer-te no que puder e virei cá vê-la. A não ser que a tua mãe decida mudar de médico. Chama-me sempre que precisares. Amanhã, se precisares de mim, estarei disponível ao meio-dia. Não estou no consultório do meu pai, mas sim na clínica Eastside, na rua Waverle. Cadie Boudelet, a vizinha, tratará de Hilda na tua ausência.

      – O que é que te faz pensar que Cadie Boudelet estará disposta a ficar com a minha mãe? Nunca se deram muito bem.

      – É ela quem tem tratado da tua mãe desde o acidente. Tem vivido praticamente com ela, desde que teve alta do hospital.

      – Está mais ocupada, assim não tem tempo para meter-se na vida dos outros.

      – Bem, alguém teria de desempenhar o papel de bom samaritano e… como não estavas…

      Molly fechou os olhos para não ver a censura que havia nos de Dan. Quando os voltou a abrir, o homem caminhava pela rua, de costas para ela, com o cabelo preto coberto de flocos de neve. Sem se voltar, entrou no carro e afastou-se.

      Molly observou os pescadores de lagosta a repararem as redes. Só faltavam três meses para a chegada da Primavera, a neve desapareceria e os turistas chegariam. No entanto, o cinzento era agora a cor predominante. Molly odiava todos e cada recanto daquele povoado. Tudo a fazia recordar de como eram os seus habitantes, de visão estreita e tacanhos.

      Fechou a porta e voltou-se para Ariel, que saía da cozinha.

      – Não é preciso irmos às compras, mamã. O frigorífico está cheio.

      – Sim, mas o que está lá dentro pode ter meses, é preciso ver isso.

      – Não, eu verifiquei o prazo de validade dos alimentos. Por exemplo, o leite e os ovos são frescos.

      Se Ariel o diz, então é porque é verdade. Apesar de ter apenas dez anos, contara apenas com a sua mãe e, por isso, tinha sido obrigada a crescer. A sua filha consolou-a nos momentos menos bons, que tinham sido muitos no início.

      – És uma grande miúda! – disse. – Que faria eu sem ti?

      Fazia muitas vezes aquela pergunta, mas naquele dia tomara um novo e sombrio significado. O que faria se Dan descobrisse a verdade e ficasse com Ariel?

      Afastou aquele horrível pensamento da sua cabeça.

      – Vamos subir. Vamos cumprimentar a tua avó. Conhecer-te irá alegrá-la.

      Molly olhou para as escadas, estreitas e escuras, que a faziam recordar a sua minúscula habitação. Quando era mais nova que a filha, aquela casa parecia cheia de ameaças, de monstros que podiam aparecer em qualquer lugar, para castigá-la por ter cometido pecados que nunca chegou a compreender.

      Pela primeira vez estava a vê-la como era na realidade: uma casa fechada, severa e silenciosa, como o homem que a

Скачать книгу