O outro lado do amor. Catherine Spencer
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Molly decidiu preparar uma sopa de tomate, sanduíches de queijo e chá. Quando estava a terminar, a porta das traseiras abriu-se. Sentiu o vento gelado e o olhar gélido de Cadie Boudelet.
– Disseram-me que tinhas voltado – disse ao observá-la com desprezo. – As más notícias voam.
– Alegro-me em vê-la, senhora Boudelet – afirmou ao constatar que nada tinha mudado. – Deseja alguma coisa ou veio apenas para cumprimentar-me?
– Vejo que continuas tão arisca como sempre – respondeu Cadie ao deixar um embrulho sobre a mesa; e cruzou os braços. – Vim trazer o jantar da tua mãe. Podes parar o que estavas a fazer. A não ser que seja para ti, o que não seria de estranhar, porque nunca pensaste em ninguém a não ser em ti.
Molly queria expulsá-la, mas conteve-se. Apesar de tudo, fora uma grande ajuda.
– Sei que tem ajudado a minha mãe desde que saiu do hospital, mas agora estou cá eu. Não vale a pena continuar a incomodar-se. Não quero que a minha mãe seja um problema para a senhora.
– Problema? Isso é o que tu és. Nem toda essa roupa da cidade é capaz de ocultá-lo. O facto de teres um marido rico não muda nada. O maior favor que podias ter feito à tua mãe era não ter voltado. Não precisa de ti para nada. Agora precisa de superar a morte de teu pai.
No momento em que Molly ia intervir, e não com boas maneiras, a porta principal foi aberta. Era Dan.
– Ora bem! – exclamou Molly. – Ninguém bate à porta antes de entrar?
– Não é preciso porque não temos o que esconder – contestou Cadie. – Claro que agora que estás aqui…
– Vim ver como estavas, Molly – disse Dan. – Este cheiro magnífico é de um dos teus guisados, Cadie?
A expressão da mulher suavizou-se.
– É, se quiseres jantar lá em casa és bem-vindo.
– Obrigado – sorriu Dan, encantador, – mas tenho uns assuntos a tratar. – Molly, podemos falar?
– Presta muita atenção ao que o doutor te disser – disse Cadie ao sair. – Sabe o que diz. É uma sorte a tua mãe estar a receber os seus cuidados.
Fez-se silêncio. Molly ficou parada a olhar para Dan.
– Ilucida-me. Como é que é possível que todos te adorem se tens um passado delinquente? E que a mim me detestem, apesar de ter mudado?
– Talvez me tenha esforçado mais para mudar a ideia que tinham a meu respeito, até porque nem tenho a tua língua. Há quanto tempo é que chegaste? Há um par de horas? E já estás a discutir com a vizinha. Se eu não tivesse aparecido, talvez a tivesses posto na rua em vez de lhe agradeceres.
Aquilo era o fim! Cadie Boudelet era uma ignorante que não tentava conhecer os factos para tirar conclusões. Por isso, o que pensava dela ou de outra pessoa qualquer era irrelevante. Ter ouvido Dan comentar que ele tinha conseguido limpar a sua imagem e ela não era-lhe quase insuportável, mas não teve problemas em dizê-lo.
– Provocas-me náuseas, Dan Cordell! Se há algo que não consigo suportar é que pretendas fazer-me crer que não se pode censurar nada. Logo a mim, que sei que não é bem assim. Se achas que lá por teres «doutor» antes do nome vais mudar o rumo história, estás muito enganado. Além de arrogante és insuportável!
Capítulo 2
– Não tens uma opinião favorável a meu respeito, não é? – perguntou Dan dando graças por Molly não ter uma faca na mão.
– A opinião que tenho sobre ti – explicou ela – é que me deixas os nervos em franja. Diz o que vieste cá fazer e vai-te embora, por favor.
Dan pensara que vê-la novamente não iria afectá-lo, que o tempo se tinha encarregue de amansar aquela fera que conhecera há anos atrás e por quem tinha sentido mais do que queria admitir. Tinha-se enganado. Aquela rapariga tinha-se convertido numa mulher de uma beleza insuperável. Estava mais elegante, mas continuava a ter um temperamento explosivo.
– Posso ser arrogante e insuportável, mas tu és insuportável. Se te incomoda que me chamem de doutor, problema teu. Chamam-me assim, tal como a ti te chamam de mãe. Não sei porque é que isso irá mudar a história.
– Nem todos têm falhas de memória como tu – disse quase com tristeza. – Não fiz mais do que entrar por esta porta. Ainda nem consegui desfazer as malas.
– Apareces de surpresa, zangas-te com os vizinhos e achas estranho que ninguém te dê as boas-vindas? O problema não é o que os outros pensam de ti, é esse ressentimento que carregas nas costas.
– Que eu nunca quis.
De repente, ficou indefesa. Dan pareceu ter visto o brilho das lágrimas nos olhos da mulher, mas era impossível.
Molly Paget não chora por nada nem por ninguém.
O homem sentiu uma vontade imensa de abraçá-la, mas recompôs-se e enfiou as mãos nos bolsos como medida de segurança.
– Não, mas és quem se empenha em continuar a carregá-la às costas. Aceita o conselho de um velho amigo. Deixa-te de rancores, aprende a dar. Aposto o que quiseres que não te criticam assim tanto como julgas.
– Era por isso que querias falar comigo?
– Não. Vim dizer-te que houve problemas e que, por isso, a enfermeira não pode vir esta noite. A Hilda precisa de ser medicamentada antes de dormir. Queres que te ensine ou preferes que seja eu?
– É preciso dar injecções? – perguntou Molly, incomodada.
– Não – respondeu sem conseguir esconder o sorriso. – Se tivesse de ser, seria eu a dá-la. Não me esqueci de que detestas agulhas.
– Ah, sim? – perguntou, surpreendida.
– Sim. Cortaste-te com um copo no teu primeiro dia de trabalho no Ivy Tree. Levei-te ao consultório do meu pai e quase desmaiaste quando ele te disse que precisavas de ser suturada.
Molly olhou para a cicatriz que tinha no dedo. Dan percebeu que não usava aliança.
– Nunca pensei que te lembrasses disso, estou surpreendida – murmurou.
Ele também. Nunca mais recordara aquele acidente, mas a nostalgia invadiu-o. Lembrou-se da jovem irresistível que conheceu naquele Verão. Doce, deliciosa e madura. Com o sangue a escorrer-lhe pelo uniforme. Não demorou nem meio segundo a oferecer-se para levá-la ao médico.
– Lembro-me de muitas coisas que se passaram naquele Verão – disse.
– Eu preferia esquecer muitas delas – afirmou ela. – Era muito nova.
– Sim, muito mais do que aquilo que me disseste na altura.
– E tu foste muito mais grosseiro do que o necessário. Não bastou dizer que te tinhas fartado de mim, não. Tiveste de contar-me