A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret Way

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A meio da noite - Segura nos seus braços - Margaret Way Omnibus Bianca

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da qual ninguém se incomodava em olhar.

      Com o passar dos anos, o seu alter-ego tornara-se no centro das atenções. Agora, a verdadeira Adele só aparecia quando se encontrava no santuário da sua casa. Talvez algum dia essa menina tímida se visse abafada por essa personagem alternativa e a sua eficiência e a sua segurança se tornassem reais.

      Sorriu. Com o tempo, baptizara esse lado da sua personalidade com o nome de «Super Adele».

      Com cuidado, aplicou outra camada de rímel e pintou os lábios. Já estava. Pronta para enfrentar o mundo… pelo menos por fora.

      Pendurou a mala no ombro e saiu.

      A Super Adele parecera uma ideia tão boa ao princípio… toda a gente a adorava. E, durante algum tempo, gostara dessa atenção. Contudo, no presente, essa adoração perdera parte do seu encanto.

      «Adoram-na a ela, não a mim».

      Até Nick se apaixonara pela Super Adele.

      Quando se tinham casado, adorara que a considerasse capaz de fazer qualquer coisa, de ser qualquer coisa, porém, passados alguns anos tornara-se um pouco cansativo. Tentara descer do pedestal, mas Nick não o permitia. Agarrava-se com força à Super Adele e não a soltava.

      O impulso de encurvar os ombros foi quase entristecedor, porém, endireitou ainda mais as costas. Tinha o restaurante à sua frente e pôde ver Nick sentado a uma mesa, à sua espera.

      Como desejou poder sentar-se àquela mesa de plástico, baixar a cabeça e chorar…

      Por vezes, odiava o seu alter-ego.

      Nick deixou que Adele se afastasse e dirigiu-se para o café. Ao entrar, sentiu-se invadido por uma abundância de plástico brilhante e o cheiro a comida gordurosa. Evitou as salsichas e o resto da comida e pediu duas chávenas de café de aspecto lôbrego.

      Sentou-se perto da janela suja que abrangia um lado do local e esperou que Adele chegasse.

      O local estava praticamente deserto. Um casal de idosos concentrava-se num pequeno-almoço frito de aspecto pegajoso com uma lentidão agónica, um homem de negócios refugiava-se atrás de um jornal e uma adolescente com um avental sujo fingia que limpava as mesas.

      Adele não demorou a aparecer e sentar-se à sua frente, rígida e engomada. Odiava quando fazia aquilo. Não precisava de recorrer à fachada à sua frente.

      – Vá lá, Adele. Não é o fim do mundo. Não demoraremos muito tempo a encontrar a próxima saída e regressar à estrada certa.

      Ela assentiu e bebeu café. Como sempre, a sua fúria esgotara-se e sentia-se vazia.

      – Já alguma vez pensaste que as tuas expectativas são demasiado elevadas? Estabeleces objectivos difíceis e castigas-te quando não os alcanças. Não tens de provar nada, sabes? Foi uma volta errada. Toda a gente escolhe um caminho errado alguma vez na sua vida.

      – Não estou a tentar provar nada nem impressionar ninguém. Gosto que as coisas sejam bem-feitas e apenas exijo de mim o que espero dos outros. Seria hipócrita não o fazer.

      Ele assentiu. Para viver de acordo com os padrões de Adele, era necessário ser um perito no salto à vara.

      – Acho que, quanto mais próximas as pessoas estão de ti, mais altas pões as marcas de aprovação.

      – Não sejas tonto. Ninguém precisa de passar um exame para ser meu amigo.

      Não? Então, porque sentia que cada palavra, cada movimento que fazia, era ponderado e avaliado?

      – Acho que queres que toda a gente faça as coisas à tua maneira – ela abanou a cabeça enquanto engolia o café. – Só porque não planeio as coisas com um ano de antecedência, não significa que seja um irresponsável – continuou ele. – Sou diferente de ti, Adele, mas isso não significa que não consiga fazer as coisas ou que não me importe. Nunca falhei uma data de entrega nem deixei de cumprir um contrato. Simplesmente, temos métodos diferentes para alcançar os nossos objectivos.

      – Eu sei.

      Ele teve vontade de se rir. Era inútil. Se não conseguia esclarecer-lhe as coisas, pelo menos podia tentar aliviar o seu estado de espírito.

      – Queres um bolo de chocolate? Vi um no balcão.

      Ela assentiu, quase a sorrir. Ele levantou-se e foi comprá-lo. Se Adele não ingerisse uma dose de açúcar, nunca se animaria.

      Inclinou a cabeça e olhou para ela.

      – Pareces cansada.

      – Obrigada.

      Esticou o braço e pegou na sua mão. Parecia extenuada, sem vontade de discutir, mas continuava a ser incrivelmente bonita. Nos seus traços delicados havia uma força que falava da sua tenacidade e dinamismo, uma luz inteligente nos olhos que o mantinha constantemente em alerta.

      – Eu conduzirei o próximo trajecto. Tens seguro?

      – Sou eu, claro que tenho seguro, Nick. Contra todos os riscos… inundações, incêndios, actos de Deus, combustão espontânea… Tudo bem, faz uma piada.

      Ele apertou-lhe a mão. Sempre adorara os seus dedos longos e finos. De facto, sentira a falta deles.

      – Vai andando para o carro. Eu tenho de comprar algumas coisas.

      Viu-a afastar-se devagar. Caminhava sempre tão direita, tão orgulhosa.

      Não sabia como ia derrubar aquelas barreiras. Contudo, uma coisa tinha clara, queria recuperar a sua esposa e ia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance durante o fim-de-semana para lhe recordar o quanto ela também o desejava.

      Ainda guardava alguns ases na manga.

      Adele chegou à conclusão de que fingir estar a dormir podia ser cansativo. Levantou uma pálpebra e olhou de soslaio para Nick. Cantarolava algo para si mesmo e agia como se nada no mundo o preocupasse.

      Voltou a fechar o olho.

      Não era uma pessoa vingativa, porém, uma parte dela estava realmente incomodada por ele não estar mais incomodado. Decidir abandonar o casamento fora a decisão mais difícil da sua vida. Queria que Nick pelo menos parecesse um pouco perturbado.

      Quando tinham proferido os seus votos na igreja, pensara que duraria para sempre. Deixara-se arrastar pela química intensa que existia entre eles e nem sequer parara para questionar se havia alguma coisa suficiente para manter aquela relação durante cinquenta anos. Acreditara que todos os ingredientes certos estavam presentes e não se incomodara em aprofundar mais.

      Ele fizera com que acreditasse que eram duas metades de um todo. Doce e amargo. Luz e escuridão. Porém, no final, eram demasiado diferentes. Mais como o azeite e a água.

      Uma voz que começava a odiar, quebrou o silêncio:

      – Dentro de quinhentos metros, saia na próxima saída.

      Abriu os olhos e endireitou-se. Já iam deixar a auto-estrada?

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