Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez Lezaun

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Uma bala com o meu nome - Susana Rodríguez Lezaun HARPERCOLLINS PORTUGAL

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festa privada numa casa de jogo clandestino do porto de Boston. Aquilo podia ficar-se por uma história, uma noite diferente e divertida, ou transformar-se num verdadeiro pesadelo. A tentação de pedir ao motorista para me levar a casa materializou-se na minha mente, mas a mão de Noah a tocar distraidamente nos meus dedos por cima do estofo do banco fez com que se evaporassem todas as minhas dúvidas.

      «Uma noite» — pensei — «não vai acontecer nada se me divertir uma noite, se for outra pessoa durante algumas horas. Amanhã, voltarei a ser eu. Amanhã.»

      Portanto, virei o pescoço para o meu acompanhante jovem e bonito e sorri.

      2

      O local estava cheio de pessoas que conversavam aos gritos, se mexiam ao ritmo da música e sorriam com um copo na mão. No palco, cinco músicos vestidos de couro e ganga cantavam as suas canções que eram repetidas em coro e com entusiasmo pela maioria dos presentes.

      — São os Officers, conheces? — gritou Noah, aproximando a sua boca do meu ouvido e causando-me um calafrio imediato. — São muito bons. Recentemente, encheram o Fenway Park e o Walter conseguiu fazer com que toquem esta noite no seu bar.

      A verdade é que as músicas não me eram completamente desconhecidas, embora fosse incapaz de seguir a letra de alguma delas. Em qualquer caso, eram muito boas, o ambiente era ótimo e as pessoas pareciam estar a divertir-se imenso. Noah agarrou-me a mão e mergulhámos de cabeça na pista de dança. Bebemos, rimo-nos e saltámos aos sons da música até cairmos rendidos. Os braços fortes dele afastavam-me e aproximavam-me a cada poucos segundos, num vaivém enjoativo e embriagador. Cada vez que a minha cara se aproximava do seu peito, sentia o cheiro do seu perfume e o meu estômago apertava-se de uma forma muito pouco recatada. Há muito tempo que as minhas pernas não tremiam por nada nem por ninguém. Estava a desfrutar imenso, é claro que sim. Sentia-me jovem e atraente, usava um vestido de sonho, uns saltos vertiginosos e, ao meu lado, mexia-se um homem extraordinariamente bonito que sorria com aspeto feliz e não me soltava a mão.

      Já passava das três da madrugada quando outro táxi nos levou até minha casa. Nem sequer pensei. Agarrei-lhe a mão e, sem dizer uma palavra, convidei-o a sair do carro e a acompanhar-me a casa. Como esperava, Noah não se fez de rogado. Pagou o táxi, saiu e rodeou-me a cintura com um braço.

      Depois, só me lembro das minhas mãos a empurrar o casaco para trás, a desabotoar os botões da camisa e a abrir o fecho das suas calças. Audaz, atrevida e cheia de desejo por esse homem que olhava para mim com os olhos brilhantes por causa da luxúria.

      Conduzi-o até ao meu quarto e, sem pensar duas vezes, transformei-o no primeiro homem que se deitava na minha cama em mais de cinco anos. A vodca engoliu o medo e ofereceu-me a coragem necessária para não parecer uma dissimulada ignorante. Supri a falta de experiência com doses grandes de imaginação desinibida, uma faceta de mim própria que estava a descobrir ao mesmo tempo que um Noah experiente e complacente.

      Foi uma noite realmente fantástica, prazenteira e gratificante, surpreendente em tantos aspetos que seria impossível enumerá-los todos. Desfrutei do meu corpo e do sexo como nunca e acho que participei ativamente para que ele também alcançasse cotas altas de prazer.

      Cansada e feliz, aninhei-me junto do seu corpo quente e adormeci.

      O sol acordou-nos várias horas depois. Doía-me a cabeça, tinha a boca pastosa e as pernas pesavam uma tonelada. Ao meu lado, Noah continuava a dormir profundamente. Afastei-me dele com cuidado, procurei o meu robe e dirigi-me para a casa de banho.

      Olhar-me ao espelho foi como receber uma bofetada na cara. É claro, tinha-me deitado sem me desmaquilhar e a maquilhagem que, com tanto cuidado, apliquei na tarde anterior espalhara-se ao redor dos olhos, dando-me o mesmo aspeto do que um panda espetral. Estava pálida, suja e despenteada.

      Tranquei a porta, livrei-me do robe e entrei no duche, onde esfreguei cada centímetro de pele para eliminar os restos de suor alcoólico. Saí do duche limpa, mas o meu aspeto não melhorara demasiado. Tinha um jovem imponente na cama que estava prestes a descobrir a velha com quem fora para a cama. Apostava que não demoraria mais de dez minutos a ir-se embora.

      Sequei o cabelo e deixei-o solto. Depois, apliquei uma camada generosa de creme hidratante por baixo dos meus olhos e distribui uma dose discreta, mas reparadora, de maquilhagem pela minha cara. Um pouco de rímel e um bocadinho de blush completaram o trabalho de restauração. Não estava perfeita, mas, pelo menos, estava apresentável para passar pela despedida sem me envergonhar demasiado.

      No quarto, Noah continuava a dormir. Olhei para ele por um instante. Estava a ver o homem mais atraente que alguma vez conhecera. Estive tentada a voltar a deitar-me ao seu lado, mas, em vez disso, decidi ir à cozinha e fazer o pequeno-almoço. Não era que tivesse fome, mas precisava de me ocupar com alguma coisa.

      Fiz café, torrei pão, fritei alguns ovos e pus fruta num prato. Tirei manteiga, leite e doce do frigorífico e pus tudo na mesa da cozinha. Estava prestes a servir-me de uma chávena de café quando Noah apareceu na soleira da porta. Vestira os bóxeres. E mais nada. Fiquei com falta de ar e, quando esboçou um sorriso, acho que me ferveu o sangue nas veias. Dirigiu-se para mim e beijou-me no cabelo com delicadeza.

      — Cheiras muito bem — murmurou. — Eu, pelo contrário, cheiro mal. Lamento muito.

      Acariciei-lhe a mão que depositara no meu ombro.

      — Não cheiras mal — garanti, porque era verdade. — Toma o pequeno-almoço e, depois, poderás tomar banho antes de…

      Deixei a frase a meio. Não quis dizer antes de se ir embora, se bem que fosse o que pensava. O meu coração e o meu cérebro debatiam-se numa luta interna feroz. Por um lado, entendia que isto era uma aventura e que, como tal, o melhor era acabá-la quando ainda perdurava o bom ambiente. Mas, por outro lado, fora tão curta que não me importaria de a prolongar um pouco mais. Só um pouco mais.

      Testemunha muda do meu debate interior, Noah sentou-se em silêncio na cadeira mais próxima da minha e serviu café nas duas chávenas. Deu-me uma e bebeu da dele. A intensidade do seu olhar começava a incomodar-me.

      — Vou-me embora assim que mo pedires — declarou.

      Abanei a cabeça e insultei-me mentalmente.

      — Não me interpretes mal — repliquei. — Não é que queira que te vás embora ou que fiques. Quero que faças o que queres. Não és obrigado a ficar para me fazer sentir bem. Já estou bem. De facto, melhor do que estive em muitos anos. Mas entenderei que queiras ir-te embora o quanto antes. A luz do sol revela as verdades que a noite esconde.

      — A única verdade aqui — interrompeu —, é que gosto muito de ti. Ontem, deslumbraste-me. Hoje, estás a fascinar-me.

      Levantei-me e criei um pouco de distância entre os dois. Tremiam-me as mãos e achava que, se ficasse ali sentada, o tamborilar do meu coração também seria evidente para ele.

      — Quantos anos tens? — perguntei, sem rodeios.

      — Vinte e seis.

      — Eu tenho quarenta.

      — E isso é importante por algum motivo?

      Noah bebia devagar da sua chávena de café, sem parar de olhar para mim. Respirei fundo e decidi dizer o que me consumia há um bom bocado.

      —

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